Capítulo VII - A maldade está nos olhos de quem (tudo) vê

169 31 8
                                    

Os corredores com armários nas paredes estavam silenciosos. Esporadicamente, ouviam-se vozes.
Numa das salas espalhadas estava um Fabian sonhador e uma Ioana escrevendo furiosamente em seu Note. Na frente da classe, a Sra Lavigne, professora que lecionava História no prédio da faculdade e Educação artística no prédio do ensino médio, falava sobre alguns pintores muito antigos.

A sra. Lavigne não aparentava ter mais de 20 anos e se vestia com uma versão obscura de uma princesa. Seus cabelos loiros estavam presos num rabo de cavalo e um pequeno diadema negro pousado na cabeça. A maquiagem pesada lhe dava um ar punk.
A professora não parecia estar interessada na aula. Na verdade, enquanto contava como Van Gogh cortara a própria orelha, pintava as unhas com esmalte Viper Black.

- Terra para Fabian - cochichou Ioana, furando Fabian na mão com um de seus lápis coloridos. O rapaz acordo e arragalou os olhos com raiva. - Sua pior matéria e você ainda tem a capacidade de ficar flutuando na sua bolha imaginária?

- Eu não consigo me concentrar nessa chatura de gente morta - respondeu Fabe, desenhando um gato em seu note.

- Primeiro, não é só gente morta, é gente que fez história e é lembrada mais de 600 anos depois. Segundo, o dever não é pra desenhar é pra escrever. Terceiro, seu gato parece que foi atropelado por um caminhão de 16 rodas - retrucou a garota, embelezando o desenho do amigo - Presta atenção no que a Matusalém fala. quer ficar reprovado de novo? O que você tem na cabeça? Mer...

- Senhorita Frenchhaus, a senhorita e o senhor SanTiago estão bem falantes, por que não vem aqui na frente dar aula no meu lugar? - Gritou a Sra. Lavigne, ainda sentada com os dois pés em cima da mesa. - Obrigada pela atenção. Como eu tava dizendo, depois que o Van deu aquele piti...

- O que 'tá havendo contigo? Nem me contou como foi o encontro nem nada. - disse Fabe cochichando. A amiga enrolou a ponta do cabelo e o amigo deu um tapa discreto em sua mão. A mania da amiga ás vezes o irritava.

- Foi ótimo, Fabe - respondeu ela, fechando a cara e se concentrando no dever.

- O que ele fez Io? Fala que eu arrebento a cara daquele gorila - sussurrou o rapaz entre dentes.

- Nada, Fabian, esse é o problema, nada. - o amigo a olhou sem entender - Ah, eu queria que ele fosse mais ousado, estávamos quase sozinhos no cinema, queria que pegasse na minha coxa, no meu peito...

- Mas vocês não iam no Burguer Queen? Que foram fazer no cinema? Levar os hambúrgueres para dar uma namorada no escurinho?

- Lorde da Ironia, nós fomos comer, mas ele deu a idéia de ficarmos "mais á vontade" - Ioana corou ao dizer isso, mas prosseguiu - Mas ele é cavalheiro demais, se eu não tivesse o beijado ele só ia ficar segurando minha mão durante aquele maldito filme de vampiros...

- Espera, vocês se beijaram? Enquanto viam Blade? - O amigo segurou o riso e fingiu anotar algo quando a senhora Lavigne punha as mãos em frente à saída de ventilação para secar o esmalte e tagarelava como se falasse sozinha.

- Era isso ou aquela animação com um urso amarelo falante. "Pum" ou sei lá. - Defendeu-se ela, terminando de refazer o gato desenhado no Note de Fabian.

"Senhor Jain está convocado a comparecer à direção" - O chamado com as voz da senhorita Valle soa nos alto-falantes por todo o prédio.

- Iiih, será que o grandão se complicou - brincou Ioana.

Fabe esquecera de contar para a amiga o acontecido da noite anterior. Será que a proximidade dos dois quando o drone passou lhe causou problemas? Um temor pela segurança do professor tomou conta de seu pensamento.

ElisiaWhere stories live. Discover now