Capítulo Cinco

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Tenho vários pacientes que vem ao meu consultório para tratar problemas emocionais que levaram a crises severas de ansiedade. Eu os escuto, analiso a situação e dou o melhor diagnóstico possível, oferecendo conselhos sobre como lidar com as situações de estresse que possam agir como gatilho para essas crises de ansiedade. Respirar fundo e tentar se concentrar na realidade de modo que as lembranças passadas não afetassem seu raciocínio completo eram algumas das instruções que sempre dava. Tinha a vaga consciência, então, de que estava sendo bem hipócrita naquele momento. 

Nem mesmo tentava aqueles exercícios de respiração, não conseguia separar meus sentimentos para raciocinar direito. A única coisa que aparentemente conseguia fazer era deixar o desespero tomar conta de mim enquanto andava de um lado para o outro na calçada. Sabia que Ava estava falando alguma coisa e que provavelmente deveria estar prestando atenção porque minha melhor amiga era muito boa lidando com esse tipo de situação tensa, mas suas palavras eram apenas murmúrios desconexos enquanto eu olhava para diversos pontos, procurando-o. 

- ....talvez se... 

- Mas seria melhor que.... 

- ...alguém dever ter... 

Era grata por ela ter deixado a confeitaria nas mãos de Stella e ter vindo me ajudar, mas estava ficando irritada com seu falatório. Suas palavras não estavam me ajudando a localizar Cookie. Estava à beira das lágrimas quando finalmente aquele tom aveludado conseguiu penetrar em toda a bruma de pânico que me envolvia. 

- Ravenna Reid? 

Virei em direção à voz e pisquei devagar, não entendo ao certo o que ele queria dizer, mas quando segui a direção em que apontava senti um alívio tão grande que meus joelhos amoleceram. Ali, ao lado dele, estava meu cachorro travesso. De maneira automática, cai ao seu lado, abraçando meu melhor amigo com força. 

- Seu filho da mãe – sussurrei rápido, contra seu pelo, pouco me importando que alguns fios faziam cócegas no meu nariz. – Se você fizer isso de novo, eu te mato. Mamãe quase teve um infarto. 

Ele movimentou a cabeça, como se estivesse tomando conhecimento do que eu dizia. De modo quase que inconsciente percebi que meu vizinho estava se mexendo para longe e não poderia permitir isso. Não poderia deixar que ele fosse embora sem que eu agradecesse. 

Em um salto, levantei-me e me joguei contra ele. Não foi meu momento mais pudico visto que apertei meus braços e pernas ao seu redor. Levando em conta que éramos praticamente estranhos até três dias atrás, não fiquei muito surpresa com o fato de que seu corpo inteiro se retesou imediatamente. Talvez ele não estivesse acostumado com mulheres se atirando literalmente – e não apenas de maneira figurada – nele, mas também não fazia parte da minha rotina ter homens tão gostosos agindo como meu herói particular, então tinha uma boa desculpa para agir por impulso. 

Depois de poucos segundos apenas segurando-o, ou ele me segurando – já que em algum momento, ele havia colocado seus braços ao meu redor, o que, pensando bem, fora uma grade ideia senão eu teria caído no chão – ouvi alguém limpando a garganta. 

- Rave? 

Arregalei os olhos e finalmente o soltei, dando alguns passos para trás e sentindo minhas bochechas se avermelhando enquanto um clima esquisito pesava sobre nós. Clima esse que só piorou assim que olhei para o lado e percebi o sorrisinho divertido de Ava. Até mesmo Cookie, que estava pacientemente sentado ao lado da minha melhor amiga enquanto ela segurava a corrente que prendia sua coleira, parecia ter seu rosto em uma careta satisfeita. 

Respirando fundo, voltei-me para meu vizinho, uma desculpa e um agradecimento na ponta da língua. Agora que meu peito não estava contraído de nervosismo, pude prestar a atenção devida nele. Meu vizinho delicioso estava na minha frente, suado, os cabelos levemente bagunçados e com uma camiseta que não fazia nada para esconder os músculos incríveis de seus braços. Perdi completamente a linha de raciocínio e comecei a murmurar como uma idiota: 

BlackbirdWhere stories live. Discover now