Capítulo Dezesseis

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Soltei o pano branco de sua camisa com o qual estava brincando há alguns minutos, finalmente criando coragem para levantar a cabeça e murmurar: 

- Duke? 

Ele abaixou a cabeça.

- Hm? - resmungou, ainda sem tirar os olhos da TV e da nova série que tinha lhe apresentado há algumas semanas. 

Outlander. Ele gostava quase tanto quanto apreciava GOT. Felizmente, então, meus esforços foram recompensados, afinal havia quebrado a cabeça para encontrar uma história que não o fizesse se lembrar de seus tempos em meio à guerra. Não que conversássemos sobre isso. Knight nunca mencionava qualquer coisa e, nas poucas vezes que me atrevi à perguntar, suas respostas foram curtas e vazias de qualquer emoção. 

Entendi que aquele tópico era tabu e que ele iria falar quando estivesse pronto. Então esperei e continuei esperando, mas Duke não se mexia. 

Não que não tivesse evoluído. 

As coisas se mexeram e avançaram, ou, melhor, eu o empurrava para fora de sua inércia e, pouco a pouco, nosso não-relacionamento caminhava para se parecer mais com um relacionamento de verdade. Exatamente como havia decidido que queria desde o momento em que ele havia concordado tão facilmente, e com um sorriso, a acompanhar meu filhote e eu em um passeio. Lembro até hoje o peso que saiu de meus ombros ao ouvi-lo dizer "claro". Por mais que quisesse senti-lo de novo, quisesse ter mais alguma daquelas nossas pequenas discussões, nada disso seria possível se meu bebê não fosse respeitado. 

Cookie odiava Robert e talvez fosse mais por isso, e menos pelo sexo medíocre, que nosso relacionamento chegou ao fim. A única vez em que tentei promover um encontro dos dois, meu filhote deitou embaixo da cama e se recusou a sair, não importando quantas ameaças ou subornos oferecesse, até meu ex-namorado ir embora. 

Bem diferente do que acontecia com Duke. 

Para exemplificar tal situação, digamos apenas, que Cookie adorava nossas sessões de TV quando, deitado do outro lado de Knight, descansava a cabeça sobre a coxa dele e dormia confortavelmente. Às vezes considerava seriamente a possibilidade de meu cachorro gostar mais de Knight do que de mim.

Ingrato. 

Um ciúme bobo que, entretanto, desaparecia cada vez que Cookie pulava de felicidade quando Duke chegava para jantar. Ciúme bobo que se transformava em um calorzinho bom em meu peito sempre que ele propunha ficarmos em minha casa ao invés de irmos para a dele, pois sabia que um dos motivos para isso era sua vontade de brincar com Cookie, mesmo que ele não admitisse isso.
Alias, ele não admitia muita coisa. E era isso que nos levava para a situação atual. 

- Duke. 

Chamei de novo e recebi apenas outro resmungo. 

- Por que você não gosta de trabalhar na KI? 

Sua mão que estava brincando com fios de meus cabelos parou abruptamente e todo seu corpo se tencionou. 

- Não - seus olhos estavam tão gelados quando da primeira vez que nos encontramos. 

Apoiei a mão em sua perna e levantei a cabeça do seu peito, infelizmente desfazendo o abraço gostoso em que estávamos na última hora. 

- Não o quê? 

- Não vamos falar sobre isso. 

- O quê? Por quê? 

- Porque eu não quero - dizendo isso, voltou a se virar para frente e me deixou encarando seu perfil tenso. 

Franzi o cenho, meu temperamento começando a emergir. 

- Isso não é justificativa. 

- Mas vai ser o suficiente para abandonarmos esse assunto - falou em tom definitivo. - Hey, hey. Espera um pouco - cheguei para trás no sofá e para longe. - Isso aqui não é uma teocracia e você não é o faraó. 

BlackbirdWhere stories live. Discover now