Capítulo Vinte e Quatro

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  - Tem certeza de que não quer ir conosco? - perguntei de novo ao colocar a última meia cuidadosamente enfeitada sobre a lareira de granito no extremo canto esquerdo. - Nós pegamos o avião dia 23 e voltamos dia 27. Vai ser rápido. A viagem, digo, não exatamente o caminho até lá. Você sabe como o aeroporto fica.   

Reprimi um tremor ao pensar nas milhares de pessoas andando apressadas de um lado para o outro com pouca preocupação sobre as outras pessoas que também andavam com pressa. Um pequeno e terrível exemplo do caos. 

- Sim, Rave. Certeza. Você sabe que eu não posso ficar tanto tempo longe da confeitaria. Feriados de fim de ano são a época mais lucrativa. Mas obrigada - murmurou, o cenho franzido enquanto se equilibrava um pouco para fora da escada a fim de alcançar o canto onde penduraria um arranjo de visco. 

- E você não contratou mais ninguém - sacudi a cabeça, ainda informada. 

- Quantas vezes vou ter que dizer que entrevistei o namorado da Charlotte, mas o horário de pico coincidia com seu horário de aula! - resmungou, descendo da escada ao colocar a última metragem de fio de luzes douradas ao lado do ramo de folhas. 

- Ahan - resmunguei, revirando os olhos. 

Felizmente minha melhor amiga estava mais preocupada em abrir a caixa com os enfeites para a pequena árvore que comprara há alguns dias, não prestando, assim, atenção em meu tom condescendente. 

- Ofereci alguns turnos esporádicos para ajudar o garoto a conseguir algum dinheiro. Ele disse que talvez possa vir ajudar dia vinte e cinco de manhã - dizendo isso, voltou a se endireitar com vários enfeites nos braços. 

Enfeites demais. Então não foi exatamente uma surpresa quando, no primeiro passo que ela deu, três das bolas prateadas caíram no chão e lentamente rolaram para longe. O que foi bem chocante, contudo, foi a maneira como logo em seguida Ava abriu os braços, intencionalmente, deixando todo o resto também se estalar no chão com repetidos barulhos estridentes. 

- O qu-

A pergunta morreu em meus lábios quando levantei a vista dos cacos e encontrei o olhar dela quase tão quebrado quanto os pedaços no chão. Observando meus pés, mesmo eles estando cobertos por duas meias grossas e uma bota de cano alto, desviei-me de todos os estilhaços possíveis ao me aproximar de Ava. Ela não se mexeu quando passei o braço por seus ombros e nem esboçou reação quando a guiei a até uma das confortáveis poltronas ao lado da lareira à gás. Sentei ao seu lado por alguns minutos ficamos no mais absoluto silêncio, apenas meio abraçadas - meu braço ainda sobre seus ombros - enquanto o frio da noite de New York soprava gelado do lado de fora da confeitaria. Quando julguei que ela seria capaz de responder, falei: 

- Amiga, que aconteceu? 

A quietude continuou depois disso por um tempo significante e cheguei a pensar que ficaria sem resposta quando ela sussurrou, ainda olhando para as próprias mãos: 

- Elas escorregaram. 

- O quê? - franzi o centro, mal ouvindo as palavras, quem dirá entender seu significado. Ela levantou o olhar perdido para mim por um instante e depois abaixou a atenção de novo para os penduricalhos destruídos. 

- Os enfeites? Os enfeites escorregaram, é isso? 

Ava não respondeu, o olhar ainda grudado na bagunça sob nossos pés. Aquele era o estado mais vulnerável em que já tinha visto minha melhor amiga. A forte, decidida e destemida Avalon desapareceu, deixando apenas uma casca oca em seu lugar e, por mais que quisesse exigir respostas para que pudesse consertar as coisas, sabia que ela não precisava de Rave, mas sim da doutora Reid, então, falei muito suavemente: 

BlackbirdWhere stories live. Discover now