Capítulo Um

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Ravenna Reid 

- Cookie, nós vamos ter uma conversa muito séria sobre seus modos. Que história é essa de ficar gritando à noite? E de bagunçar sua comida? – enumerei, uma mão na cintura e a outra balançando o dedo em riste. - E o que foi aquilo que você fez com as almofadas? Mamãe está muito triste. Está me entendendo? 

Cookie continuou sentado no chão, me olhando atentamente, a língua para fora dava a impressão de que sorria enquanto balançava o rabo. Provavelmente achava que tudo isso era uma grande brincadeira e não um sermão sobre os modos selvagens dele. 

- Deveria ter deixado Spence ter te adestrado quando você era um filhotinho. Agora está grande e teimoso – cruzei os braços. 

Recebi um latido entusiasmado como resposta. 

- Mamãe também te ama – me ajoelhei, abraçando seu pescoço e fiz um carinho atrás de sua orelha. 

Talvez devesse ser um pouco mais rígida, mas como resistir àqueles olhinhos pretos pidões? Ele lambeu minha bochecha e me afastei, rindo. 

- Você não vai mais fazer arte, não é mesmo, querido? – deslizei as mãos por seu pelo. – Mamãe precisa arrumar algumas anotações aqui. 

Levantei e me sentei à mesa da cozinha e em frente ao meu notebook. Tinha analisado duas linhas quando senti sua pata em minha coxa. 

- Ah! Para isso você é bem treinado, não é, seu espertinho? – arqueei a sobrancelha e observei-o sentar-se ao meu lado, segurando a guia para passeio na boca. – Depois, mamãe vai. 

Claro que meu filhote não se deu por vencido e logo senti o peso leve da guia em meu colo. Revirei os olhos, peguei aquele objeto e me levantei.

Sou uma frouxa. Precisava ser mais firme. Claro que vinha me dizendo isso desde que ganhara Cookie – há três anos. Verifiquei se meus documentos e celular estavam no bolso antes de caminhar até a saída de meu apartamento, meu cachorro rápido em meus calcanhares. Abaixei-me para prender a guia em sua coleira antes de abrir a porta. Caminhamos para o elevador e meu olhar inconscientemente caiu sobre a outra única porta naquela andar. Sempre tive curiosidade para saber mais sobre meus vizinhos, mas aquele apartamento estava vazio desde que me mudara para o prédio. Isso até ontem, quando ouvi barulho indiscutível de alguém abrindo aquela porta - apesar de não ter ouvido seus passos. 

Fantasmas, contudo, nunca fizeram parte das coisas em que acredito, então só poderia significar que meus vizinhos estavam de volta. 

E eu estava curiosa. 

Uma torta de maçã seria um bom pretexto para bater naquela porta. Um hábito americano fora de moda, mas ainda sim surpreendente já que as pessoas ali na Big Apple não eram conhecidas por serem exatamente calorosas umas com as outras. Essa seria a desculpa perfeita para matar minha curiosidade e conhecer melhor a pessoa do outro lado do corredor. 

Não era ser enxerida. Gostava da minha privacidade e respeitava a dos outros, mas realmente precisava saber se não estava dividindo meu andar com um psicopata. 

"Psicopata" era uma palavra extremamente forte. Principalmente para alguém na minha área profissional, mas a convivência com meu primo me mostrou que todo cuidado era pouco. Nunca se sabe quem mora ao lado. 

Poderia ser um Jack Estripador ou, pensando pelo lado positivo, poderia ser um Brad Pitt. 

Ok. Talvez estivesse sendo um pouco intrometida. Ou talvez estivesse me pendurando demais em minhas conversas com Spence. Não sei como ele não ficava paranoico. Trabalho difícil aquele. Talvez eu devesse ligar para ele e pedir para que viesse aqui e fizesse um profile dos meus novos vizinhos. Só por segurança mesmo. 

BlackbirdWhere stories live. Discover now