Capítulo Dezenove

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- Chase! – exclamei de novo, mal acreditando em meus olhos enquanto caminhava até a porta.

Em um raro momento de bom-senso, Rave saiu do caminho antes de ficar presa entre nós dois quando Dylan também se mexeu e nos encontramos no meio do caminho para um cumprimento. Fiquei agradecido por sua boa ideia, afinal, não queria que ela fosse esmagada, ou que tivesse que socar meu recém-chegado amigo se a camiseta que minha namorada estava usando subisse um pouco e mostrasse mais do que já revelava. 

- Quanto tempo, meu velho – bati em suas costas afetivamente mais uma vez. – Vamos, vamos. Sente-se. 

Esperei que ele se acomodasse no sofá grande, que era um dos meus lugares favoritos para füder Rave, antes de me jogar na poltrona à esquerda deste e transversal à mesinha de centro. Cookie, que já havia decidido que não precisava ter nenhuma cerimônia apesar de suas visitas aqui não serem muito frequentes, pulou ao lado de Chase, deitando-se na almofada enquanto me olhava inocentemente. 

Reprimi uma revirada de olhos e também o pensamento que me faria ponderar sobre como tinha ido parar numa situação em que deixava o cachorro subir no meu sofá, que era basicamente uma das únicas coisas das quais gostava naquela merda de casa. O sofá e a minha cama. Fiz uma nota mental para deixar a porta do quarto sempre fechada. Não queria o mimado tendo ideias sobre dormir onde eu dormia. Nada de pelos no lençol. Seria uma merda de um grande jeito de acabar com uma ereção.
O som da porta se fechando nos fez virar a cabeça. 

- Eu... – minha namorada olhava para nós, as bochechas vermelhas enquanto puxava a barra da minha blusa para baixo, parecendo só agora tomar consciência do traje que usava. – Eu vou trocar de roupa – apontou para o corredor e chegou até a dar alguns passos antes de se lembrar de algo e parar de repente. – Quer dizer, para lá – girou o corpo e voltou para a porta. – É para lá. Trocar de roupa.

Tirei a atenção dela por um segundo ao ouvir uma risada abafada. Chase estava discretamente colocando a mão sobre a boca para disfarçar enquanto encarava minha namorada com uma curiosidade que chegava a ser, em si, quase cômica.

- Na minha casa. Porque preciso mudar de roupa né e... nossa. Fica quieta, Rave – resmungou baixinho.

Pegou suas chaves sobre a estante perto da porta e já estava com um pé para fora quando se virou para Cookie, um convite mudo nos olhos. O cachorro encarou-a por um segundo antes de soltar um latido e serenamente deitar a cabeça sobre a coxa de Chase, que me lançou um olhar surpreso em resposta, mas não tentou empurrar o grande bobão para longe. Dei de ombros e minha namorada saiu resmungando alguma coisa sobre ingratidão. 

- É um cachorro bem esquisito que você tem aqui, Duke - comentou assim que a loira estava fora de nosso campo de visão. - Pulou em mim como se me conhecesse há anos. Ele reage assim sempre? - apesar de suas palavras meio incertas, Chase começou a acariciar atrás das orelhas do filhote de Reid. 

- Rave diz que não, que Cookie só reagiu assim raras vezes, mas eu não acredito muito. Ele pulou em mim também a primeira vez que nos encontramos. 

- Se encontraram? - repetiu, franzindo o cenho e olhando para o sujeito de nosso assunto por um segundo antes de voltar sua atenção para mim. - Pensei que o cachorro fosse seu. Se bem que "Cookie" não parece muito com um nome com que você batizaria qualquer coisa. 

- Não, não é meu. Rave é a dona. 

Aquelas palavras tiveram um gosto estranho em minha boca. 

- E você deixa o cachorro da sua namorada subir no sofá? 

Pelo tom que usava, certamente estava se lembrando da vez em que discuti com Hunter sobre ele ter jogado acidentalmente um par de meias limpas sobre a minha cama, que ficava ao lado da dele em uma das bases em que passamos cerca de dois meses na Arábia Saudita. Não entendia sua surpresa tanto quanto não entendia a dificuldade que os dois tinham em compreender que, no meio do deserto, vivendo no meio do nada, cada um se apegava à normalidade que podia. A minha era manter as minhas coisas minhas. Ou, melhor, eles entendiam sim. Lembro-me de perceber como, naqueles dias, Hunter fazia questão de se sentar no mesmo lugar à mesa no refeitório da base e como Chase sempre dava um jeito de dormir ao lado da parede para improvisar uma estante para seus livros. 

BlackbirdWhere stories live. Discover now