1 - IEPL

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 2103 ANOS APÓS O ASSASSINATO DE SAMARA.
Dia da Coleta — Setor 04.


Meus dedos resvalavam pelos cabelos macios de um tom tão claro que se aproximava do dourado, como fios de ouro dançando entre meus dígitos. Seu brilho irradiava aos meus olhos, enquanto os raios de sol que entravam pela janela se chocavam contra as mechas. Dividi as frontais com toda delicadeza, como se tocasse em um anjo, e as coloquei para trás, fazendo uma trança em seguida.

— Nani, vai doer? — Minha irmã perguntou, no momento que me concentrei em finalizar o penteado em seu cabelo.

— Você não vai sentir nada — respondi com um sorriso no rosto, admirada com o feito em seus fios — Pronto, está linda.

A miniatura de gente ergueu-se da cadeira, feita para o seu tamanho, e se aproximou da penteadeira cor-de-rosa. Inclinei levemente a cabeça, a fim de fitá-la pelo reflexo no espelho à sua frente, um esboço de sorriso curvou meus lábios ao perceber seus pequenos olhos cintilarem.

Safira era a criança mais adorável e amável que eu conhecia, minha irmã mais nova tinha seis anos e era uma verdadeira princesa, desde sempre se portava como uma. Seu cabelo comprido alcançava a cintura, os olhos eram azuis como uma safira e a única coisa que tínhamos em comum, na aparência, era o tom de pele levemente bronzeado. Ela era a cópia perfeita da nossa mãe.

Meus cabelos não chegavam a ser tão claros quanto os da caçula, eram iluminados, mas também compridos, enquanto meus olhos se distinguiam da minha família, já que ninguém usufruía de olhos acinzentados como os meus. Sempre acreditei que fosse por conta da manifestação do meu poder.

Alguns portadores criam, ou nascem, com uma conexão tão intensa aos seus dons que os mesmos podem ser refletidos pela cor de seus olhos. Algumas vezes, tal característica pode demorar a se manifestar. Comigo, era um atributo que me fora concedido desde nascença.

— Não vai tomar seu banho? Você demora demais. — A pequena resmungou, sentando novamente na cadeira com um bloco de notas nas mãos.

— Eu já deixei o café da manhã pronto, tá bom? Vá comer antes de sairmos — decretei com sutileza, levantando do banco e indo em direção ao meu quarto, que não ficava distante.

Em poucos passos pelo corredor, fiquei defronte com a porta branca e girei a maçaneta prateada, revelando a decoração harmoniosa, que eu coordenei e estruturei pessoalmente.

As paredes pinceladas em cinza claro contrastavam com o teto alvo e o piso forrado com carpete de tom fosco expelindo um ar elegante e confortável. A cama fixava-se no canto da parede, uma penteadeira localizava-se acostada ao lado esquerdo e, do outro lado do cômodo, uma porta indicava acesso ao banheiro.

Em frente à entrada do quarto, havia uma espaçosa janela com cortinas blackout acinzentadas e, escorada a ela, encontrava-se o lugar que eu mais gostava. A minha escrivaninha com alguns livros, notebook e outros materiais de leitura. Para completar a ornamentação, um espelho se fazia presente, embutido na parede ao lado da porta do banheiro, era extenso em altura, indo do chão ao teto, porém não tanto em largura.

Caminhei até o guarda-roupa ao lado da janela e peguei meu uniforme, joguei o mesmo sobre a cama e corri para o banheiro. Prendi meu cabelo na intenção de preservá-lo da água e me despi já entrando no box, deixando a roupa pelo chão. Acionei a água morna e a permiti despenhar sobre meu corpo, trazendo uma sensação relaxante.

Às vezes, o silêncio pela casa a preenchia com sua atmosfera lúgubre, mesmo que já tenha um tempo, me sentia ainda em um processo de recuperação. Há dois anos atrás, meu pai falecera em uma missão, ele era um portador da luz, assim como eu, e seu poder era manipular os quatro elementos naturais. Ele servia o IEPL. Instituto de Especialização dos Portadores de Luz. Somos convocados quando nossas habilidades são profícuas o suficiente para auxiliar a manter a ordem no sul. Agora, eu quem trabalhava para eles.

A Soberana do Ouro NegroWhere stories live. Discover now