13 - Eu estou aqui com você

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O simples ato de inalar o ar queimava como se acúleos estivessem sendo engolidos por mim. O oxigênio penetrou em meu pulmão de maneira nociva, enquanto o trajeto até a arena inativa era cada vez mais torturante. Percebi que estávamos próximos no momento que, após a travessia da ponte para a Ilha Cinza, enxerguei, por cima das copas das árvores, uma estrutura rochosa e circular.

Lembrei do dia anterior, quando cheguei em casa e encontrei Safira brincando com as criaturas esguias e pequenas que emitiam luz em suas asas e, por algum motivo, adoravam ficar próximas a minha irmã. Fadas. Diziam que seus dois pares de asas eram idênticos aos que Stella tinha. As duas primeiras compridas, comparadas às suas reduzidas alturas, e logo abaixo localizava-se o segundo par, um pouco menor e invertido.

Eu lembrei de ter sorrido enquanto assistia aquela interação. Também me recordei que foi naquele momento que eu soube que não conseguiria contar a verdade para Safira, aquilo me destruiria, eu era incapaz de infligir tanta dor na pessoa mais importante em minha vida. Eu preferiria arrancar meu coração do peito com minhas próprias mãos do que fazê-la passar por aquilo. Então, tomei uma decisão, talvez não a melhor de todas, eu menti.

Eu contei a ela que teria uma audiência e talvez eu ficasse um tempo detida por ter quebrado algumas regras, apenas isso. Na minha cabeça, se o pior acontecesse e eu de fato parasse nas mãos dos portadores de sombra, eu poderia pelo menos poupá-la por agora, até que tivesse idade suficiente para entender o que aconteceu, e confiei a Ísis que fosse sua guardiã até a maioridade.

Meus olhos queimaram. Eu sabia que estava sendo uma puta egoísta em fazer aquilo, mas eu era uma covarde, admito, e não voltei atrás, já era tarde demais para o fazer. Ninguém sabia melhor do que eu o que senti quando perdi minha mãe, um pouco da minha inocência foi embora junto com ela, ai quando meu pai faleceu... o que restava de mim para ser uma garota normal acabou ali. Eu não deixaria isso acontecer com minha irmã se pudesse evitar, mesmo que tivesse que mentir, eu não traumatizaria sua infância desse jeito.

Encarei o amplo espaço antes usado para promover competições brutais entre guerreiros e portadores. Pisquei para afastar as lágrimas e observei as rachaduras e partes lascadas no cume da estrutura. A arena fora erigida com pedras claras e opacas, dando um visual bem antiquado. Localizada entre as dunas ao norte da ilha, o aroma marítimo inundou meu olfato, que mesmo carregado de energia e frescor, não era o suficiente para pacificar a batalha interna entre minha mente e meu coração.

Que naquele momento, disputavam para decidir qual dos dois iriam dominar meus sentidos.

— Chegamos — Noah anunciou ao estacionar.

Boris estava ao meu lado e sua mão buscou pela minha, virei meu rosto ao garoto que sorriu com seu semblante tranquilo, como se quisesse me dizer que ia ficar tudo bem, mas a dúvida de não saber se isso realmente seria verdade, me corrompeu naquelas últimas horas.

Ele pressionou seus dedos contra minha pele com sutileza, como se pudesse transmitir sua energia positiva para mim e eu sorri com o gesto amoroso. Tive certeza que o desespero estava explícito em meu olhar e o belo homem captou com maestria.

Quando Noah saiu do carro, eu e Boris seguimos o ato. Várias caminhonetes pararam logo atrás de nós e Brian desceu de uma delas. À nossa frente, o veículo luxuoso e esportivo do Dylan estava estacionado e o loiro pulou para fora do carro ao nos ver. Ele caminhou diretamente em minha direção.

— Como você está? — perguntou ao se aproximar o suficiente.

— Estou bem — menti com um sorriso forçado. Bastou uma mentira escorregar pelos meus lábios para tudo que fiz nos últimos dois dias ser apenas isso, mentir.

A Soberana do Ouro NegroWhere stories live. Discover now