7 - O Julgamento

41 16 1
                                    

Já estava preparada para lutar quando toda aquela estrutura musculosa se moveu celeremente em meu rumo. Em um piscar de olhos, uma névoa luminescente passou rapidamente pela minha direita e parou exatamente entre nós. Pestanenei duas vezes e a bruma branca se desfez, revelando uma figura masculina com o braço erguido e apoiado no ombro do brutamonte, impedindo-o que viesse até mim. Mesmo de costas, eu reconheceria aquela postura e aquele cabelo dourado em qualquer lugar.

— Dylan? — indaguei pasma.

— Não precisamos disso, Bruce. — O tom sereno do filho do falecido rei se lançava ao homem, que em um gesto brusco compeliu sua mão.

— Tire suas mãos de mim! Você sabe muito bem quais são as regras — Bruce rosnou ao encará-lo friamente.

— Seu chefe está por aqui? Chame-o — Dylan solicitou manso, enfiando suas mãos no bolso da calça jeans escura.

Troquei olhares rápidos com Ísis e Boris que se aproximaram. Ambos estavam tão perplexos e desconexos quanto eu, em nenhum momento notamos a aproximação dele e não fazia ideia do porquê o presidente do IEPL, nosso patrão, estaria em um território como aquele.

— Desculpa não ter ajudado, acho que aquela bebida afetou meus sentidos — Boris lamentou em sussurro aos meus ouvidos. Toquei em sua mão morna e apertei de modo sereno, expressando que estava tudo bem.

— Você está bem? — perguntei baixinho para Ísis, que concordou com a cabeça.

Voltamos nossa atenção para Dylan, distraído em seu debate com Bruce, que se negava a atender o seu pedido, agindo de maneira insubmissa.

— Pode muito bem resolver comigo, meu chefe tem coisas mais importantes para fazer — esbravejou, direcionando-me um olhar furioso.

— Não olhe para ela. Faça o que eu tô pedindo — Dylan se deteve com sua postura impecável e um semblante desinteressado — Chame ele, por gentileza.

— Já estou aqui.

A voz grave e profunda veio detrás do portador das sombras. Inclinei a cabeça e reparei que uma silhueta densa e sombria vagou em nossa direção. No momento que as luzes bruxuleantes das lâmpadas o iluminaram, percebi que era o mesmo homem que me fitara dentro da boate. Tanto o encrenqueiro, quanto seu irmão, se distanciaram à medida que o homem trajado de preto se aproximava de nós. Ambos fizeram apenas um gesto de cabeça em cumprimento e respeito.

Oh céus, é ele, pensei.

Assim como o príncipe à minha frente, a figura intimidadora e misteriosa também detinha de uma postura alinhada e elegante. Naquele momento, aclarado pelas poucas fontes luminosas, reparei o quanto seus poderes o abençoaram, seus traços de vinte um anos enganavam perfeitamente os milênios que carregava nas costas. Eu reconheci imediatamente aquele belo e perigoso rosto.

Ele era o Pai das Sombras. O viúvo de Samara.

E de novo, aquela sensação descomunal penetrou em meu peito, enterrando suas garras nos músculos frágeis do meu coração, preenchendo meu ser com uma névoa lúgubre. Eu não entendia como sua simples presença emanava um poder tão forte, mas jamais demonstraria o que estava acontecendo em minha mente.

Ísis grudou em meu braço como uma criança e me apertou forte, não precisei adivinhar para saber que estava captando a mesma energia negativa fluindo através dele. O ar tornou-se pesado com sua aparição, trazendo com si o peso que carregava em suas íris. Essas que a propósito eram claras, mas a cor exata permanecia um mistério para mim.

— Zyan. — Dylan pronunciou seu nome, no momento que se posicionou frente a frente com ele.

— Duas pessoas quebrando regras em uma única noite. — Ele estalou a língua — O que você espera que eu faça? — O timbre intenso de sua voz eriçou todos os meus pelos. — Meus homens estão aqui em busca de diversão e encontramos uma lighter, você sabe como isso funciona.

A Soberana do Ouro NegroWhere stories live. Discover now