16 - Vigia noturna

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Vinte quatro horas se passaram vertiginosamente, no entanto foram o suficiente para que eu descansasse e revigorasse as energias. No segundo dia útil, no alvorecer do sol, no momento que meus olhos abriram eu soube que já era hora de encarar minha realidade de novo.

Não pude deixar de reparar alguns olhares e burburinhos enquanto cruzava os corredores do IEPL em direção ao refeitório. Não soube dizer como os fofoqueiros ficaram sabendo sobre o ocorrido na arena, mas a informação alcançou seus ouvidos intrometidos e, mais uma vez, eu me tornei o centro da atenção no instituto.

A primeira vez que isso ocorreu foi quando descobriram que eu era uma lighter. Eu tinha apenas dez anos. Tive que aprender a lidar com os holofotes até o instante em que soube como ignorá-los. Ou pelo menos não me importava mais. Meus amigos também dominavam com maestria a habilidade de fingir que nada estava acontecendo, eles me receberam com sorrisos simpáticos e olhares ordinários.

— O que vamos fazer hoje? — Boris foi o primeiro a puxar assunto quando o silêncio começara a se tornar desagradável. — É sexta gente, dia de Freya. Deusa do amor, da sensualidade, da fertilidade... — mencionou a última característica com tom insinuativo — Vamos animar.

— Bom... eu vou curtir o amor, a sensualidade e a fertilidade fazendo a vigia da barreira hoje. — Ofereci um riso fraco para o garoto ao meu lado. — Fui escalada para o turno desta noite — revelei ao checar novamente a informação em meu relógio e pude ouvi-lo bufar.

— Brian terá folga amanhã, podemos planejar algo depois. Podemos planejar algo simples para hoje, o que acha Boris? — Ísis perguntou e ele super concordou com a sugestão.

Conversamos sobre coisas triviais até terminarmos de mordiscar o que deveria ser um café da manhã. Meu relógio apitou e percebi que tinha esquecido completamente da consulta médica, então me despedi rapidamente dos meus amigos e saí correndo para o elevador.

Ao chegar à ala médica, fui até a recepção, assim que uma das recepcionistas permitiu, andei até a sala do Dr. Castiel. Aquele não era meu dia de consulta habitual, mas Dylan insistiu, a ponto de chegar a ordenar, que eu fizesse uma rápida visita ao meu médico, pelo menos para termos certeza que estava tudo certo comigo e com meus poderes.

Foram longos minutos realizando diversos diagnósticos, levando agulhadas, fazendo coletas e seguindo todas as diretrizes. Castiel sempre sabia como tornar esse momento monótono em algo descontraído e o diálogo sempre fluía entre nós. Ele me perguntou sobre tudo o que aconteceu na arena e, com ele, me senti confortável para falar a respeito.

— Eu conheço o Vincenzo — ele falou e eu arqueei a sobrancelha, esperando que continuasse. — Ele foi um dos meus mentores quando atravessei a fronteira para terminar a faculdade de medicina. — Sorriu, seus olhos brilhando com as lembranças do seu tempo universitário. Que a propósito, eu não estava ciente de muitas coisas.

— Não sabia que para se formar precisava ir para o norte — comentei confusa e ele deu uma risada simpática.

— Precisamos entender todos os tipos de portadores para conseguir ajudar vocês, isso inclui também os portadores de sombra e, você sabe... A regra da fronteira não é aplicada a humanos — relembrou.

— Você tem um ponto — concordei. — Ele e Zyan pareceram ser muito próximos, eles possuem algum parentesco? — Desviei meu olhar para a prancheta em suas mãos, tentando não demonstrar muito interesse no assunto.

— Não — negou, concentrado em suas anotações. — Eles se conheceram um tempo depois do Zyan perder sua esposa. Foi Vincenzo quem apresentou os irmãos Sartori para ele e o ajudou na sua época de luto, então é natural que tenham um respeito grande um pelo outro.

A Soberana do Ouro NegroWhere stories live. Discover now