11 - A Fronteira

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Alanys.

Não foi um fim de semana fácil. Eu perdi as contas de quantas vezes me desmanchei até meu peito queimar, ao mesmo tempo que sussurros impetuosos em minha mente me disseram que agi como uma completa imprestável, tudo por ter falhado com o homem que tinha me ajudado na noite que fui para o Carpe Noctem. Ele continuava morto. Isso era um fato que eu tive que remoer no meu interior em completo silêncio.

Os pesadelos me atormentaram durante a noite, eu não senti que consegui de fato pegar no sono. Quando acordava era sempre com a sensação de cansaço e mesmo passando o dia deitada ou sentada no sofá, nada parecia ser o suficiente. Aquilo estava começando a me deixar frustrada e desanimada. Era possível um sentimento de culpa ser tão horrível a ponto de fazer você sentir que tudo na sua vida estava errado?

Reportagens sobre uma tragédia causada por um desastre natural explodiram a internet nos dias seguintes. Algumas peças finais que estavam para serem implementadas nos veículos que seriam colocados em exibição da exposição de uma das empresas do Zyan, foram totalmente arruinadas. Foi a única coisa que me fez dar um pequeno sorriso, não que isso fosse de fato prejudicá-lo, mas era bom saber que alguém, que merecia, também estava tendo uns dias de merda.

Na segunda os compromissos retornaram ao normal. Um dia importante, meu grupo seria escalado para um trabalho externo e todos estavam almejantes por isso. Eu estava sem qualquer disposição para me juntar às suas euforias, talvez em outras circunstâncias estaria bem mais motivada, porém não daquela vez. Havia um vácuo dentro de mim, me adornando em uma bolha impenetrável de desânimo.

— Vocês serão divididos em duplas e cada dupla terá um turno a cumprir — A voz de Marcellus fez eco na garagem subterrânea. — Cada uma acompanhará um instrutor que irá explicar tudo o que precisam saber. Como já sabem, a função inicial de vocês será a vigia da fronteira.

Ouvi burburinhos à minha volta, celebrando por esse novo estágio em nossa carreira, entretanto eu estava com os pensamentos distantes o bastante para não prestar atenção em nada que falavam. Uma parte de mim parecia ter injetado uma dose sedativa que inibia as estimulações externas de afetarem meu humor. Eu queria ter feito alguma coisa para impedir isso.

— Vou começar pela dupla que irá comigo e os demais serão chamados pelos outros instrutores — continuou Marcellus. — Alanys e Arya, por favor, me acompanhem.

No momento que insinuei dar um passo adiante, senti um toque morno em meu braço me puxar gentilmente, era Ísis. Ela me abraçou, sua habilidade de mentalist dando ela a vantagem de sentir meus sentimentos a distância se fossem intensos o suficiente.

— Sinto algo diferente em você hoje, tem certeza que está bem? — perguntou em um sussurro cauteloso, fazendo-me sorrir com seu gesto. Não pude evitar de apertá-la um pouco mais, recebendo sua onda de carisma através de um pequeno gesto afável.

— Estou bem, não se preocupe. Tome cuidado lá fora — sussurrei de volta.

— Você também!

Ela me deu um último aperto antes de me soltar e lançar um olhar carinhoso. Eu quis sorrir, mas acho que sairia mais como uma careta se eu tentasse, então me limitei a um gesto simples de assentir com a cabeça e enfiei as mãos nos bolsos do meu casaco. Fui até onde Arya e Marcellus já me esperavam com o jipe.

— Meninas, escolhi vocês como dupla, porque sei que estarão muito mais fortes juntas — Marcellus explicou assim que meu traseiro acomodou-se no banco de trás do veículo. — Não costumamos ter problemas na vigia, mas não podemos abaixar a guarda.

Eu e Arya concordamos. Durante o trajeto Marcellus nos orientou a como utilizar o veículo, também nos entregou um rádio e informou algumas coisas úteis que ficavam no carro: um kit de primeiros socorros sob o banco, um comunicador embutido no painel e uma bolsa térmica com algumas garrafas de água e sanduíches.

A Soberana do Ouro NegroWhere stories live. Discover now