{Segunda} - Boa Noite

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Dinheiro. Esse foi o assunto do qual falamos durante todo o tempo. Brunch, almoço, chá, jantar. Durante aquele dia me senti fazendo um trabalho de última hora para apresentar a um professor que já havia me pedido para entregar 5 anos atrás (acho que no final não era muito diferente disso).

Eu e David tínhamos um prazo. Eu iria assumir como CEO, ele como CFO. Tínhamos que mostrar no domingo nosso plano de ação para a empresa. Mostrar aos acionistas que eu não destruiria tudo quando minha tia me passasse o comando.

Eu sabia o que estava fazendo, havia sido criada para seguir esse caminho. Todas as aulas extras e horas de verão perdidas seguindo minha tia pela empresa haviam me ensinado a coordenar tudo aquilo. Só me restava convencer a todos de que eu ainda estava apta a lidar com milhões e duplicá-los.

Mais do que provar minhas habilidades, eu precisava provar as de David. Eu estava seguindo as condições do testamento, mas fiz algumas exigências antes. Pedi à minha tia para trabalhar com alguém jovem, alguém estivesse aberto ao novo e que pudesse amenizar um pouco a seriedade da empresa.

Eu estava apostando tudo em David. De acordo com a Sra. Brooks, ele foi o melhor de sua turma e se formou com honras. Seu currículo era impecável e cheio de cartas de recomendação anexadas. Qualquer empresa teria a sorte de trabalhar com ele, ainda assim ninguém o queria. David e suas festas marcavam a internet de forma que todos passaram a questionar sua credibilidade. Eu o estava dando uma chance de provar seu valor, de mostrar quem ele era de verdade (o que não estava me surpreendendo até aquele instante).

Minha preocupação era quem eu estava contratando, o garoto de Oxford bem recomendado com estrelinhas douradas, ou o garoto que só esperava a próxima chance para sair em mais dois anos percorrendo o mundo em festas.

Respirei fundo olhando para o céu, o dia ensolarado se perdera na noite cheia de estrelas. Não era nada como o céu de Londres.

Envolvi minhas mãos na xícara quente de chá enquanto escutava David falar e digitar. Meu medo não era que os outros acionistas não gostassem de nós, que achassem que éramos jovens e inexperientes. Não importava o que eles achavam, eu teria o controle da empresa. Eu, ironicamente, estava preocupada em não destruir todo o legado que meus pais deixaram.

Respirei fundo sentindo o aroma da canela no ar. Seria uma longa semana e eu estava presa naquela casa com David até o fim dela (Minha tia não nos queríamos andando por aí gerando especulações).

Tentei me lembrar do porquê eu estava fazendo isso. Sim, eu podia morar num apartamento minúsculo, continuar com meus sonhos de escrever e nunca me importar com o que pensavam de mim. Ao invés disso, eu voltei. Voltei para assumir uma empresa multimilionária, voltei para me preocupar em como minhas ações afetavam o mercado, voltei para um mundo do qual já havia fugido, voltei para um mundo o qual jurei nunca mais voltar.

– Está ficando tarde, acho que podíamos continuar amanhã – digo cobrindo minha boca quando o bocejo me escapa.

– Sim, claro – ele pressionou uma última tecla com intensidade antes de fechar o computador – Que horas você quer começar amanhã?

Eu o olhei sem ter ideia alguma, ou vontade. Era entediante, números e mais números voando na tela. Gostava mais de trabalhar no café, de me deparar, mesmo nos dias mais entediantes, com novidades, me divertir em observar senhorinhas resmungando da juventude transviada.

Cup of TeaWhere stories live. Discover now