{Uma Segunda} - De Volta a Copos de Café

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Eu passava os discos antigos olhando um a um a procura de algo especial. Queria encontrar um presente perfeito.

O antiquário tinha o cheiro de velho, nada fora do esperado. As prateleiras tinham de utensílios domésticos a máquinas fotográficas que sequer conheciam todas as cores. O lugar era um pouco caótico, devo adimitir, mas quando passei pela frente da lojinha me senti atraída para dentro. Não eram só os livros, mas o ar de tantas décadas que ali estava guardado.

Puxei para fora um dos discos antigos contemplando sua capa desbotada. Aquele realmente pareci ter sido um dos primeiros discos a serem fabricados.

Devo admitir que ainda não havia aprendido a apreciar o som do vinil tanto quanto a facilidade de colocar meus fones de ouvido e escolher entre todas as musicas do mundo, mas, uma vez que a música começava a se espalhar saindo do disco girante, parecia como uma máquina do tempo.

Olhei o disco uma última vez tendo certeza de que era o certo, então o levei até a garota que trabalhava no caixa. Tirei algumas notas da carteira e paguei a garota que me olhava entediada.

Pensei em arrancar dela um sorriso, mas além do tédio em seus olhos havia uma certa impaciência. Decidi simplesmente pegar o disco e sair.

Voltei a andar pela rua sem um rumo certo. O céu brilhava azul naquele meio de verão. Era estranho lembrar como tudo estava diferente depois de um ano. Estável, sob meu e único controle.

Não haviam mais grandes preocupações. O peso que um dia estive fadada a carregar fora transferido para outros. A fusão foi um sucesso, Sr. Jacob ainda me agradece por tê-lo convencido a aceitar minha jogada extrema.

Não havia mais um corporação Ashworth, mas havia algo do qual eu me orgulhava ainda mais: Aurora Ashworth, escritora.

Eu estava fazendo o que amava, escrevendo sobre minha maravilhosa experiência naquele pequeno café perdido nas ruas de Londres.

Pareciam séculos se distância. Eu já não estava mais em Londres, não havia mais senhora Brooks. Nada de casas imensas que pareciam castelos, ou casas em lugares que eu visitava uma vez no ano.

Vendi quase tudo: casas, carros, o avião... Tudo que eu não precisava se tornou dinheiro em minha conta bancária que também incluía alguns números restituídos pela Sra. Brooks (Aparentemente, algumas coisas que ela vendeu não pertenciam a ela).

Minha tia malvada se tornou uma memória distante, pelos boatos que escutei, ela se casou mais uma vez. Tenho pena desse coitado que vai aturá-la. Gosto de pensar que ela casou com o pai da pequena Meg (garotinha terrível que conheci no Blue Cup), as duas formariam um bela dupla.

Mas enfim, quem realmente se importa com ela? Eu havia recomeçado como queria, talvez não recomeçado do zero, mas de alguns zeros. Era isso que eu queria, afinal. Uma parte de ambos os mundo em que vivi.

Ainda assim, nada disso foi tão importante quanto às pessoas que mantive por perto.

Em uma semana Alia estaria casando. Os preparativos demoraram muito mais do que planejaram, mas estava acontecendo. Nesse meio tempo, Aziz ficou noivo de uma bela indiana e Sam finalmente encontrou uma garota que realmente poderia apresentar a sua mãe como namorada.

Guardei cada uma dessas pessoas em minha vida, mas também dentro das minhas páginas, literalmente e metaforicamente.

Parei de súbito olhando para o livro exibido bem à frente da livraria na qual eu passava. Sorri vendo a coincidência.

Cup of TeaWhere stories live. Discover now