{Quarta} - Carona

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Caminhei até o carro e me joguei para dentro. De todos os pubs existentes, de todos os momentos possíveis, porque Kenny tinha que estar ali logo quando tudo que eu queria era evitar o meu passado? Porque eu pensei que aquela seria uma boa ideia? Eu não deveria ter saído da casa, ou ter saído de casa achando que quebrar coisas era uma resposta aceitável. O que eu queria provar com aquilo?

- Você pode levar a gente para a casa, por favor? - David disse entrando pela outra porta e sentando ao meu lado - Isso foi... intenso.

- Me desculpa. Eu acho que continuo mostrando a pior parte de mim.

- Todos já quebramos alguns copos. Não se preocupe com isso.

- Eu, na verdade, me preocupo. Eu deveria controlar uma empresa gigantesca, mas eu continuo agindo como uma criança. Eu acho que vou acabar destruindo tudo.

- Você não vai - David segurou minha mão olhando nos meus olhos - Você tem feito um trabalho incrível e eu vou estar aqui para te ajudar com tudo que for preciso.

- Eu estou mergulhando em velhos hábitos. Quando eu e minha tia brigávamos, eu costumava quebrar coisas da casa pra enfurecer ela ainda mais. Quando eu tinha um problema, eu saia de casa e desaparecia até um pouco antes dela chamar a policia. E quando já não havia mais o que fazer, eu simplesmente me escondia na casa do Kenny por uma semana, mas obviamente a mãe dele avisava a minha tia. Daí, eventualmente, ele me despachou para o colégio interno. Eu não quero voltar a ser essa pessoa.

Minhas palavras escapam tão rápido que é difícil entendê-las. Quando termino nem tenho mais folego. 

- Respira - ele segurou minha mão Você não vai voltar a ser essa pessoa. São só deslizes. Só o fato de você ter noção do que você está fazendo, é um grande avanço. 

- Certo - eu respirei fundo soltando as mãos dele - Mas precisamos começar parando com isso.

- O que?

- Tudo isso. Você, eu, não vai acontecer.

- Você começou. Com a sua estória e todo o seu "eu sou linda e misteriosa, me ame".

- Primeiro, eu não falo assim. Segundo, eu não faço isso. Terceiro... Eu não tenho um terceiro.

- Você podia agradecer o elogio.

- Não, não foi um elogio. Esse foi você fazendo exatamente o que eu estou dizendo para não fazer.

- Eu não consigo simplesmente parar - ele sorria da forma mais charmosa que podia encontrar. 

- Você iria parar se eu fosse uma velha horrorosa que te demitiria se você simplesmente escolhesse as palavras erradas?

- Com certeza - ele acenou com a cabeça intensificando sua resposta.

- Acho que estamos na mesma página agora.

Virei para frente achando que havíamos finalmente encerrado o assunto, mas David seguiu dizendo:

- Eu tenho uma proposta - ele esperou até que eu me voltasse para ele para continuar - Um beijo e eu paro.

- Você sabe que uma proposta tem que ser boa para ambos os lados.

- Eu posso garantir que vai ser bom para ambos.

- Como voc...

Antes que eu pudesse terminar David passou sua mão pela minha nuca me puxando para perto e me beijou. Senti as borboletas em meu estômago, podia não ter sido mágico como eu esperava, mas David tinha cumprido sua parte. Foi bom, tão bom que quando voltei a mim, eu já estava em cima dele.

- Desculpa - me afastei me jogando de volta para o meu lugar.

- Nada para se desculpar aqui.

- Ótimo. Agora você vai parar.

- Tem certeza de que você quer que eu pare?

Não o respondi, só me joguei para o acento da frente e me acomodei ao lado do motorista que parecia se divertir com tudo.

Pelo retrovisor pude ver o sorriso estampado no rosto de David. 

Acabei sorrindo de volta.

Cup of TeaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora