{Sábado} - Vs.

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Havíamos nos separado. Pela manhã, eu estava sentada na sala de Sr. Jacob esperando ele terminar de beber o seu chá e me dar uma resposta. Ele era o último.

David e Sam haviam sido incríveis falando com todos sobre minha proposta e os fazendo concordar com minha ideia insana. Não podia estar mais agradecida, porém tudo teria sido em vão se não conseguisse fazer a minha parte.

Sr. Jacob era o mais antigo dos acionistas, ele erguera a empresa junto com meus pais, porém  guardava um certo ressentimento por nunca ter recebido o que lhe era de direito. Minha ideia central era usar isso a meu favor.

- Definitivamente não! - escuto a voz de minha tia atrás de mim.

Ao me virar posso vê-la dentro de seu terninho Chanel segurando uma bela pasta de couro preto. Tinha certeza de que havia muito escondido naquela pasta e não poderia dar a ela a chance de mostrar nada ao Sr. Jacob.

- Meu caro Jacob, tenho certeza de que essa mocinha pode ser bem persuasiva e que deve ter dito coisas maravilhosas sobre essa ideia estupida que ela e os amigos tiveram. Mas ela não passa de uma criança, vamos conversar entre adultos - ela dizia se aproximando sentindo-se em casa.

- Sr. Jacob, desculpe a minha tia, ela ainda acredita que tem algum poder sobre a empresa. Como eu ia dizendo, só existem benefícios para você, uma fusão como essa quase triplicaria nosso valor de mercado e não existiria nenhum competidor a nossa altura - tentei soar o mais confiante possível. Qualquer dúvida em minha voz faria uma grande diferença.

Sra. Brooks riu com deboche. Ela sentou-se ao meu lado e concertou seu cabelo antes de falar.

- Isso tiraria todo seu controle sobre a empresa, Jacob. Tenho certeza de que não é isso que você quer. Eu tenho uma contra proposta - num movimento delicado ela abriu a pasta em sua mão e tirou de dentro alguns papéis. Pude ver os locais para assinaturas marcados com pequenos X - O testamento é claro. Ela tem que cuidar da empresa, se ela não o fizer, as ações dela serão re-divididas entre os outros acionistas majoritários. Eu sei o quanto você quer o que lhe é de direito, 20% nunca foi suficiente pelo trabalho incrível que você fez todo esse tempo.

Olhei para a Sra. Brooks precisando me controlar. Eu sabia que ela era má, mas não que era uma bruxa! Deveria ter sido assim que a Cinderela se sentiu quando foi presa naquele quarto enquanto suas irmãs malvadas provavam seu sapatinho.

Desde o início era isso que ela queria, minha tia queria me ver falhar. Toda a sua pressão para que eu assumisse o controle era uma desculpa para que eu fizesse tudo errado e ela tivesse a chance de usurpar tudo de mim. Ela não queria deixar a empresa, só queria para de ser minha representante lá, ela queria o poder todo para si.

A ideia fez meu estômago se revirar. Sentia um gosto ácido na boca. Como pude ter deixado passar esse detalhe?

- Porque eu nunca soube desse detalhe? - disse num tom de acusação, sabia que alguma coisa estava errada - Eu sabia que não ficaria com nada se não assumisse o cargo, mas não que iria para você.

- Papéis e mais papéis - ela disse com casualidade - As vezes é difícil ter certeza de que alguns não vão se perder.

Quis me jogar sobre ela e acabar com toda aquela falsa compostura. Porque ela me odiava tanto, porque fazer da minha vida um inferno? Não era possível que ela fosse tão má quanto uma personagem de conto de fadas.

- Por mais que eu me divirta com a discussão de vocês, não tenho tempo para perder - disse o senhor Jacob antes que eu pudesse me pronunciar mais uma vez.

Ele repousou sobre o pires a bela xícara e respirou fundo como se precisasse de muito fôlego para falar.

- Aurora, sua tia tem um ótimo ponto. Eu adoraria ter o que me foi tirado por seus pais. Não quero ofender a imagem dos mortos, mas eles era gênios desprezíveis e espero que você não tenha herdado isso deles. Contudo, tudo que você me diz é completamente teórico e de última hora. Não posso colocar tudo em jogo, minha maior criação dentro de uma boa aposta que você tem em mente - ele parou mais uma vez, encheu os pulmões quase como se as palavras o deixassem cansado - Vamos fazer um acordo. Amanhã se você ainda prosseguir apresentando o que você já tem e decidir assumir como CEO definitiva, eu vou apoiar seu trabalho. Vejo que você tem o dom de seus pais para o negócio, mas caso você me traga alguma coisa que me mostre um benefício maior do que você assumindo o cargo, posso cogitar apostar nessa fusão com você.

- Não! - minha tia protestou - Isso é ridículo. Nos dois casos você está dando tudo a ela! Não é assim que deve ser. Uma proposta tem que ter um lado ruim!

- Sra. Brooks, você porque eu faria uma proposta com um lado ruim? Eu sou um homem de negócios, sempre ganhamos de ambos os lados, pelo jeito foi você que só herdou o lado ruim da sua irmã.

Comprimi os lábios escondendo meu sorriso. Nem tudo estava perdido havia uma grande chance para eu mudar o jogo. Olhei para minha tia completamente extasiada com a reação dela. Adorava como ele a havia colocado no lugar, melhor ainda como ela não podia tratá-lo como tratava a mim.

- Você não quer ficar contra mim, Jacob. Nós fizemos um trabalho muito bom juntos durante esses anos, não deixe que a garotinha destrua tudo.

Sr. Jacob a olhou um tanto confuso.

- Brooks, fizemos um bom trabalho, pois se trata de trabalho, não de lados. E sua garotinha - ele me olhou de uma forma doce e com orgulho, uma forma que meus pais, provavelmente, nunca teriam me olhado - Ela tem um futuro brilhante pela frente.

- Obrigada, Senhor - sorri sentindo minhas bochechas queimarem.

- Ela vai ser a destruição de vocês - Minha tia levantou-se e recolheu suas coisas antes de sair com o orgulho ferido.

Aquilo ainda não havia acabado para ela, sabia que ela só havia recuado para poder voltar com armas maiores.

- Obrigada por escutar o que eu tinha a dizer - disse na maneira mais gentil que encontrei. Ele foi paciente e prestou atenção a tudo que eu disse. Melhor ainda, deu valor às minhas palavra, não presumiu que eu era só uma jovem que não sabe o que faz - Eu vou fazer o meu melhor para convencer o senhor.

- Sei que vai. Só quero que se lembre de uma coisa. Seus pais podem não ter sido sua melhor inspiração, mas, ao fazer isso, você vai apagar o nome deles. Não vai haver mais um império Ashworth. E, por mais que você queria se afastar de tudo isso, talvez haja uma parte dentro de você que possa tirar algo bom de tudo de ruim que eles fizeram.

Não respondi. Acenei educadamente e me levantei. Apertei a mão do Sr. Jacob não querendo me deixar levar pela reflexão que ele propôs.

Eu não precisava de um império, não precisava carregar o peso de um sobrenome. O grande problema era que ainda havia aquela garotinha dentro de mim, uma que sonhava com pais que a amavam, que criaram algo grande para dar a ela. Eu sonhava com o olhar orgulhoso e o abraço apertado. Um sussurro no ouvido que dizia: "Bom trabalho".

Era difícil matar essa garotinha, fazê-la se calar já havia sido difícil suficiente.

Desci as escadas e entrei no carro mais uma vez naquela manhã. Pedi a Fred que me levasse ao restaurante onde encontraria os outros.

Cai no sono no meio do caminho. Estava exausta.

Cup of TeaWhere stories live. Discover now