[Degustação] Malícia

1.1 Preliminares

Respire.

Eu não me lavei. Deixei que o suco do meu prazer insatisfeito enrijecesse em minhas coxas torneadas. O cheiro de sexo impregnado em minha carne era demais até mesmo para o perfume francês que eu usava com moderação em todos os lugares devidos. O vestido azul escuro era alta costura que a Willex precisou fornecer por ser de um valor que eu não poderia pagar.

Respire.

Todo o resto era simples. Meus cabelos penteados escorridos com os cachos revoltos formando-se aqui e ali. Minha maquiagem básica era pouco mais que retoques a pele. Minhas unhas estavam bem feitas, mas não esmaltadas. Até as jóias que eu usava (embora também garantidas por meus empregadores) eram módicas.

Respire.

A intenção é que eu me apresentasse crua.

Um vestido elegante, um perfume agradável e nada mais.

Todo o resto seria simplicidade para que minha personalidade pudesse, sozinha, gritar mais forte e se fazer ouvir.

Era intencional.

Era orquestrado.

E então, eu estava ali.

Na gala da Willex, assistindo empresárias e garotos de programa, advogados e prostitutas, duplas inesperadas compondo uma corte maliciosa e irreverente. Havia sexo no ar, e boa parte dele saía de mim.

Especificamente, das minhas coxas e do prazer frustrado que se agarrava a minha pele.

Respire.

Homens e mulheres deslizando pelo salão como espectros em uma dança erótica. Não havia sexo acontecendo, mas as preliminares eram evidentes. Bem... talvez não evidente para todos. Mas evidentes para mim.

Não era o tipo de preliminares que acontece quando você já está pelada na cama com a mão escorregando pela glande avermelhada de um homem duro.

Eram preliminares do tipo que acontecem antes.

As preliminares mais importantes e que a maior parte das pessoas ignora.

Eu sei foder um homem como poucas.

E o curioso é que muitas acham que o meu foder bem tem a ver com o que faço na cama.

O meu rebolar.

O meu beijar.

O meu gemer.

O meu lamber.

O meu xingar.

O meu gozar.

Claro que eu faço tudo isso espetacularmente bem. Quero dizer... a parte que eu não aprendi sozinha, o Negligê me ensinou.

Mas é aí que as pessoas comuns cometem o mais severo dos enganos: "foder bem" está muito mais relacionado ao que você faz fora da cama, do que em cima dela.

Eu "fodo bem" porque, quando finalmente levo um homem pra cama e permito que ele me coma, ele já estava em um estado constante de tesão pelo meu corpo que era mais insuportável do que ele jamais seria capaz de descrever.

As preliminares começam muito antes da nudez.

As preliminares começam desde o primeiro olhar.

Desde o primeiro toque.

Eu incito a luxúria desde aquele primeiro instante que - a todos os outros - parece insignificante.

E então eu a preservo e assisto crescer. Assisto a luxúria se transformar em desejo intenso, e então se enclausurar em um casulo de tesão insuportável, até finalmente se desfazer em uma obsessão erótica máxima.