2.2 - Disciplina

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O cheiro.

O cheiro era poderoso.

Era enlouquecedor.

Acho que em certo momento do dia passei a recebê-lo como natural, parte de mim.

Imagino que sentirei falta quando ele se for.

Eu tocava em minha gravata para colocá-la no lugar e minha memória viajava libidinosa. O pequeno encontro matinal com Yaya serviu apenas para intensificar meus instintos que já estavam exageradamente despertos desde o momento em que ela me recusou pela primeira vez.

O sol à pino nas janelas atrás de mim.

- Senhor Matzen, a senhorita Ellens está aí.

Nosso encontro marcado há semanas na agenda fugiu de minha mente por completo. Assim como boa parte dos detalhes do dia.

- Mande-a entrar. - disse para meu assistente.

Ela entrou na minha sala com seus cabelos longos amarrados em um rabo de cavalo discreto e metódico. Roupas sóbrias e escuras que não afastavam sua sensualidade, apesar de não a evidenciarem.

- Joey. - sorriu. Havia educação em seu sorriso mas não sinceridade.

- Vanessa. - convidei para que se sentasse. Eu não estava pronto para aquela conversa. Não depois da manhã que tive ou da gravata que usava, mas não seria inteligente me desfazer dela. Já fazia tempo demais.

- O que quer? - suspirou.

Mordi o lábio e tentei acalmar meus pensamentos.

Ainda era Vanessa.

Mesmo depois de tudo.

Se ela apenas tivesse sido minha, nada daquilo precisaria acontecer.

- Bem, obrigado ter vindo. - murmurei.

- Não é como se tivesse me dado alternativa. - lembrou, seu sorriso educado eternamente presente. Havia emoção ali. Carinho misturado ao rancor. - Minha família não achou que seria boa ideia. Foram contra esse encontro. - avisou, apenas para deixar claro o seu receio.

Ela fazia eu me sentir pequeno. Envergonhado.

Não que fizesse de propósito, como Yaya. Sorria com educação e parecia disposta a conversar, mas todo o contexto que nos envolvia me deixava profundamente perturbado. Ela conheceu uma parte minha que jamais ousei apresentar a outros... E então ela se afastou.

Mas não antes de pedir muito dinheiro.

Talvez fosse ela quem devesse sentir vergonha.

Tinha sido a namorada que mais estimei. A favorita de meu avô, sem dúvidas.

E então a possibilidade de um escândalo.

A influência de sua família.

O dinheiro.

Sempre se resumia ao dinheiro.

- Quero conversar com você sobre a nova proposta negociada por nossos advogados. - engoli em seco - Soube que recusou e... achei que deveríamos nos encontrar para conversar sobre isso, não acha?

Ela tocou os cabelos soltos, prendendo-os e observou o chão.

Vanessa me amou.

Talvez ainda amasse.

Eu não saberia dizer.

Nosso contato nos últimos meses se deu exclusivamente por intermediários.

[Degustação] MalíciaOù les histoires vivent. Découvrez maintenant