Capítulo 3

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  O primeiro dia de aulas fica sempre gravado na nossa memória

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  O primeiro dia de aulas fica sempre gravado na nossa memória. Lembro-me do meu primeiro dia no infantário, lembro-me do meu pai ter-me levado no seu colo, e do meu choro, porque sentia que ele me estava a abandonar.

  Voltou a acontecer a mesma coisa no primeiro dia da primária, mas dessa vez com menos choros, mas com a mesma sensação de abandono.

  Mais de dez anos depois do primeiro dia da primária, volto a sentir-me uma criança no seu primeiro dia de aulas. Nervosa, tenho que admitir que com algum medo, e com o meu pai bem atrás de mim. 

- Este sítio é macabro. - comento.

  À minha frente vejo um grande portão de ferro. A Academia de Guardiões é um edifício velho e sombrio. Tal como tinha dito quando a Abby me levou ao Dylan's, e vi de longe a academia, esta mais parece o castelo do Conde Drácula.

  O meu pai carrega num botão do que deve ser um interlocutor (que mais parece uma campainha), e passado uns segundos uma voz, que soa quase mecânica, responde do outro lado. Após uma pequena conversa, ouve-se o barulho do portão a abrir.

- É melhor da parte de dentro. - responde.

  À medida que as enormes grades do portão se afastam, começo a ter uma visão mais ampla para a parte de dentro. O enorme edifício de pedra continua a parecer demasiado sombrio para uma escola. As suas janelas estão igualmente seladas com grades, e no pátio, bem no centro, existe uma fonte de água, com uma estátua de um anjo, ou pelo menos é o que parece. A estátua não apresenta a típica imagem de anjos com asinhas e auréola, mas ainda assim, parece tratar-se de um.   

  Apesar de muito poucos, alguns alunos movem-se de um lado para o outro entre as diferentes zonas da Academia, envergando uniformes elegantes - as raparigas com saias e meias até ao joelho e os rapazes com calças muito bem engomadas e pólos. Eles não se parecem em nada com jovens que estão a treinar para matar monstros. 

- De certeza que estamos no sítio certo? - pergunto ao meu pai, enquanto arrasto a  mala atrás de mim. O Sr. Campbell sorri e nega com a cabeça. - Eu vou ter que usar uniforme? - volto a perguntar.

- Se os outros usam, tu também vais ter que usar.

  Bufo.

- Isto é patético. - continuo enquanto sigo o meu pai para a entrada do estranho edifício de pedra. - E estranho...

  À medida que percorro os corredores, a minha visão da Academia muda um pouco. Os espaços são bem iluminados e a sua decoração contrasta radicalmente com o exterior sombrio e austero. Tal como o meu pai tinha dito, por dentro é melhor, quero dizer, afinal de contas isto até que parece uma escola normal.

  Passam mais alguns alunos por nós e não consigo evitar olhar para eles e ouvir o que dizem. Os alunos, que não passam de meros adolescentes, conversam sobre coisas aleatórias - as típicas conversas de jovens da nossa idade. Fazem comentários sobre o dia de aulas, sobre os professores que os sobrecarregam com trabalhos, sobre os colegas de quarto que ressonam... o mesmo que acontecia no outro mundo. Por outro lado, as suas personalidades são muito diferentes, mais fortes e por vezes mais rancorosas. Nota-se perfeitamente pelos olhares que eles lançam, que a maioria deles já passou por muita coisa e que chegaram ao ponto de, neste momento, desconfiarem de cada coisa diferente que lhes acontece.

The Guardian - The Discovery of a New World (Livro 2)Where stories live. Discover now