Epílogo

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  O som do toque de telemóvel soa dentro do automóvel, nesta que já deve ser a quinta chamada que o rapaz recebe da rapariga

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  O som do toque de telemóvel soa dentro do automóvel, nesta que já deve ser a quinta chamada que o rapaz recebe da rapariga. A tentação de desligar ou simplesmente ignorar, como tem feito tantas vezes nas últimas duas horas, toma conta do rapaz, afinal, ele tem uma desculpa, está a conduzir e toda a gente sabe que é perigoso - e proibido - utilizar este tipo de aparelhos enquanto se conduz. 

  Mas, por outro lado, ele está farto de ouvir aquele toque de telemóvel e conhece demasiado bem a sua namorada - ou ex namorada - para saber que ela não vai desistir enquanto ele não atender. 

  Ignorando todas as regras que aprendeu enquanto estudava o código da estrada, o rapaz leva a mão até ao bolso das calças de ganga e atende.

- Sim? - o seu tom de voz transparece por completo o seu humor neste momento. Ele está irritado, chateado. Não consegue perceber como é que ela foi capaz de fazer o que fez. Tudo o que lhe apetece fazer é bater em tudo que lhe apareça à frente. 

- Nós precisamos de falar sobre o que aconteceu.

  A voz do outro lado da linha bem relativamente mais calma, chegando mesmo a deixar transparecer um pouco de arrependimento, o que ele duvida seriamente. Ela sempre foi boa em representar, ele pensa.   

  A sua resposta é rápida e simples. 

- Eu estou a conduzir.

  O rapaz pisa fundo no acelerador, sem se preocupar minimamente em abrandar nas inúmeras curvas e contracurvas distribuídas pelo caminho que este percorre. Na verdade, nem ele sabe para onde se dirige, limita-se a conduzir sem rumo, com o intuito de se afastar cada vez mais. 

- Estaciona num canto qualquer. Nada do que tu viste é o que parece.

  O rapaz fecha os olhos e tenta acalmar-se, o que não acontece. O seu humor não melhorou e parece que quanto mais ouve a voz da rapariga e as suas desculpa, pior fica.  

- Eu não quero falar contigo! - grita. - Será que é assim tão complicado perceberes isso?

  Sem dar hipótese à rapariga de responder, o rapaz desliga a chamada e atira o telemóvel para o lado, acabando este por cair à frente do lugar do passageiro 

  Ao voltar a desviar a sua atenção para a estrada à sua frente, o rapaz depara-se com um vulto. Acontece tudo tão depressa que ele não tem tempo de fazer mais nada se não travar a fundo, fazendo com que os pneus reproduzam um som irritante em contacto com o alcatrão da estrada. 

  O seu coração bate descompensadamente no seu peito e ele força-se a si mesmo a ganhar coragem para abrir a porta do carro para ver como é o estado da pessoa que ele acabou de atropelar. 

  No chão, mesmo em frente ao seu carro, encontra-se um homem. Ele não se mexe, deixando o rapaz cada vez mais assustado. Ele corre novamente até ao interior do carro, onde pega no telemóvel, suspirando de alívio no momento em que o desbloqueia e percebe que, apesar da queda, este ainda funciona, e liga para o 112. 

  O seu olhar volta-se novamente para o homem deitado no chão e ele agacha-se ao seu lado, na tentativa de perceber se este se encontra vivo. Um pequeno sinal de vida, é tudo o que o rapaz de cabelos claros pede, enquanto espera que a chamada seja atendida. 

  Pii...

  O peito do homem não transmite qualquer tipo de sinal de que este se encontra vivo, e o rapaz desespera cada vez mais. Ele não quer acreditar que acabou de matar alguém. 

  Pii...

  Ele continua a encarar o homem, arrependendo-se cada vez mais de nunca ter feito um curso de pequenos socorros. Quem sabe se o tivesse feito agora podia fazer alguma coisa para ajudar. 

  O homem inconsciente no chão apresenta uma pele com uma aparência estranha. Uma pele branca como o marfim,  enrugada - não como sinal da idade, mas sim como se estivesse a derreter - e, pelo que o rapaz constatou pelo pequeno contacto que teve, fria. Gelada, como se  nos encontrássemos num dia de inverno. 

  Pii...

  De repente o homem mexe-se. Um pequeno movimento que trás uma nova onda de esperança para o rapaz. Esperança que desaparece logo de seguida, no exato momento em que o homem abre os seus olhos, dando-lhe uma total visão para umas íris assustadoras coloridas de um vermelho sangue monstruoso. 

- O... O senhor está bem? - gagueja. Por breves segundos o homem não responde, limitando-se a encará-lo com curiosidade. Ele engole em seco. - Vou levar isso como um sim.

 O rapaz levanta-se de imediato, demasiado assustado. O que ele não esperava era que o homem fizesse o mesmo, como se não tivesse acontecido nada, e o agarra com tanta força que o rapaz passa a sentir-se o protagonista de um autêntico filme de terror. 

  Não levou muito tempo até que o homem, ou monstro, se aproximasse o suficiente do rapaz para poder sugar-lhe toda a sua energia. Ele tenta resistir, lutando com todas as suas forças, mas o monstro é muito mais forte. 

  Toda a força do rapaz desaparece. Os seus olhos deixam de conseguir lutar para se manterem abertos e as suas mãos ficam cada vez mais fracas, fazendo com que o telemóvel volte a cair. 

  A chamada é atendida segundos depois, mas o rapaz já não está consciente para poder responder. 

  O monstro, completamente satisfeito e de força renovada, desaparece por entre as árvores, deixando o rapaz sozinho no meio da estrada abandonada. 


**** 

Olá ^-^

Alguma ideia de quem seja o tal rapaz? Só posso dizer que sim, ele já entrou na história. 

Digam aí quem acham que é. 

Até breve,

jinhos ^-^

The Guardian - The Discovery of a New World (Livro 2)Where stories live. Discover now