A dor precisa ser sentida

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Mesmo sabendo que um dia a vida acaba a gente nunca está preparado para perder alguém.
(Nicholas Sparks)

Pessoas nascem e morrem o tempo todo. Nós nos preparamos para receber quem nasce, mas nunca estamos preparados para dizer adeus.

A dor causada pela ausência de quem se foi por vezes nos faz pensar que morremos também. Como fica o coração de uma mãe que perde prematuramente seu filho? Ou a criança que perde sua mãe? O filho que perde seus pais? O luto desestabiliza a todos.

Em 2013 meu avô e minha tia foram diagnosticados com câncer, ele de próstata e o dela no útero. Por conta da idade avançada meu avô não pôde operar, mas poderia tratar. E minha tia não pôde operar porque não tinha mais jeito. O tumor tinha-se espalhado. Minha tia morreu em seis meses. Seis longos meses de sofrimento, o câncer maltrata fisicamente, emocionalmente, psicologicamente.

A psicologia nos diz que o processo de perda possui cinco fases. Essas fases não são iguais para todo mundo e nem necessariamente ocorrem de maneira linear. Às fases são: Negação, raiva, negociação, depressão e aceitação.

Vivenciei essas fases nos lutos que já enfrentei em minha vida e irei descrever como foram essas fases no luto da perda da minha tia.

Na primeira fase Negação; Eu não queria acreditar que minha tia tinha falecido( quando a informação chega ao cérebro mas não chega no coração, nem chorar a pessoa consegue).

Essa fase é a do choque inicial, você não acredita totalmente na informação, demora um pouco para cair a ficha. Lembrando também que o luto, não é somente de pessoas que morreram. Luto é sentimento de perda. Essas fases podem ser experimentadas quando uma pessoa perde o emprego, termina um relacionamento, recebe o diagnóstico de uma doença grave ou perde algo que amava.

Penso que a primeira fase seja a que tenha menos duração, porque não demora muito para que as evidências nos mostrem que é real o que está acontecendo e neste momento se chega à segunda fase; raiva.

Nesta fase eu tive uma crise de fé, achava a morte da minha tia muito injusta, ela tinha uma filha de dois anos que lutou muito para ter, inclusive antes dessa, minha tia teve uma filha que infelizmente nasceu morta. Ela sofreu com medo dessa segunda gestação e quando deu tudo certo e ela estava feliz. O câncer lhe roubou a vida e minha prima ficou órfã de mãe.

Rezei tanto pela recuperação dela.Ela queria viver pela filha, tinha planos. Era muito injusto. Eu questionei Deus, muito brava perguntei por que Ele permitia tantas injustiças?

Nesta fase do luto ou em momentos de grande sofrimento, muitas pessoas questionam Deus e até se afastam dEle. Ele não nos condena por isso, recentemente li uma mensagem do Papa Francisco na qual ele dizia que Deus até gostava desses questionamentos, porque estávamos sendo sinceros com Ele, falando aquilo que Ele já sabe que está em nossos corações. Deus compreende nossos momentos de revolta.

Logo cheguei à terceira fase: Negociação. Tentava refletir o que tinha acontecido. Tentava pensar no quanto minha tia estava sofrendo e agora estava descansando. Nesta fase, as pessoas procuram fazer negociações com si próprias, "pensarei mais positivo".

Um dia sentava na beira da cama pensando no quanto tudo era muito injusto um padre amigo me ligou e sem que eu falasse o quanto eu tinha ficado irritada com a morte da minha tia (O que é característica da fase 2) ele começou a me consolar dizendo que as vezes podemos questionar Deus e Ele não nos julga e que nos devemos acolher o sofrimento.

Inclusive me disse que ele estava sofrendo pelo luto de uma tia também.

Um padre sofrendo por luto? Sim!

Antes e Depois Da TerapiaWhere stories live. Discover now