24

4.5K 403 969
                                    

(Flashback on)



Eu nunca tinha dormido tão mal em toda minha vida. Diferente das outras noites mal dormidas, eu não poderia colocar uma música em seu último volume e abafar o som dos meus pensamentos. Um pequeno colchão parecia suficiente, mas não cabia toda minha vontade de saber o que estava acontecendo. Ninguém respondia quando eu insistia em continuar fazendo a mesma pergunta. O som da minha voz me incomodava porque era tudo que eu poderia ouvir quando continuava sem respostas.

-Você tem visita. -Ouvi alguém me chamar pelas tais palavras e eu soube que teria respostas em breve. Parecia uma prisão, não dentro, mas fora de mim e realmente poderia ser, porém, eu pelo menos saberia de algum motivo para estar confinado em um lugar onde todos são iguais.

Não foi como nos filmes e não fiquei surpreso por saber disso. Imaginei que fosse eu e apressei meus passos imediatamente para longe de onde estava, colocando um sorriso no rosto e repetindo para mim mesmo que ficaria tudo bem. Não havia como não ficar, meus pais estavam ali, eles me trariam respostas e me tirariam dali.

Como uma pequena pedra jogada na superfície de um rio, com uma certa precisão, saltitei para longe, inspirando aliviado, contudo, não demorou muito para que a pedra lançada pulasse poucas vezes e se afundasse em suas próprias expectativas.

Meus pés iam cada vez mais rápidos, se possível, até que eu começasse a correr junto com a vontade de desabar nos braços de quem tanto alegava me amar.

Nunca comprei a ideia imposta para mim que eu realmente deveria conter meus sentimentos. Sempre senti demais e isso não parecia errado para mim. Estava no meio da minha adolescência, muito para se sentir e sentir o bastante para ser mostrado, não é sinal de fraqueza, por mais que me criticassem por isso. Aparentemente, eu precisava ser uma pessoa forte todo o tempo.

Eu estava sentindo muito por mim mesmo, pela primeira vez, não pelos outros.

-MÃE! -Corri rumo aos últimos passos e a abracei. Tanto meu coração, como meu corpo e mente, se aconchegavam naquele perfume que eu poderia reconhecer de longe. Ela hesitou em responder meu abraço.

-Harry, filho... -Meu pai disse segurando um dos meus pulsos e tirando-o do pescoço de minha mãe. Sem pensar, desabei com a possibilidade de sair de um lugar que era apenas um engano. Eu não deveria estar ali e eles sabiam disso.

-Harry... -Anne começou a me empurra para que eu ficasse frente a frente dela, saindo de seus braços e focando em suas palavras. Eu não conseguia pensar, falar, ou fazer qualquer outra coisa que não fosse estar perto deles. Ali me parecia um lugar seguro para estar.

Eles insistiram para que eu me acalmasse e eu ainda estava perdido, porém, como todo rio, depois que pedra é jogada, a calmaria volta a estar presente e tornar as coisas mais serenas, na medida do possível.

Alguns minutos, depois de tanto ouvir que eu precisava me acalmar, Des me colocou sentado em uma cadeira ao lado. Mesmo através dos meus olhos, certamente, vermelhos e encharcados, eu pude ver a insegurança instalada em ambos. Des ainda estava na frente, mas minha mãe apenas se afastava e continuava com seus braços cruzados, inconscientemente criando uma barreira entre si e a situação que estava por vir. Ela também tinha um colar novo, que quase não pude perceber pelos seus dedos segurando a cada segundo. Era uma cruz.

-Pai, o que eu estou fazendo aqui? Eu não quero ficar nessa escola. Você sabe que eu... -Perguntei instintiva e repetidamente, entre soluços e ele ainda me segurava com suas duas mãos pelos meus ombros.

-Isso não é uma escolha sua, Harry. -Era a única resposta que saia pelos seus lábios, olhando no fundo dos meus olhos, a qualquer pergunta que eu fizesse.

Uncertain Call - (L.S)Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon