26 {Epílogo}

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(26 meses depois)

-Eu preciso te perguntar uma coisa muito séria... -Ajeitei meu corpo cansado da longa viagem e de toda correria da semana no banco macio do carro, soltando um alívio por sentir parte daquele estofado me abraçar e acolher minhas costas incrivelmente travadas. Harry virou-se para mim e esperou impacientemente que eu continuasse a falar, mas minha cabeça viajou por alguns segundos e me perdi nos meus próprios pensamentos incessantes.

-Fala, amor! -Insistiu.

-Você tem noção do quanto eu senti sua falta? Sério, eu acho que não! -Dei ênfase na parte que ele não entendia, porque eu tinha certeza disso, e ele soltou um respiro aliviado seguido de um "você me assustou". -Se você entendesse, você não me deixaria ficar tão longe assim de você! Só estou dizendo...

-Amor, foi só uma semaninha... -Olhou nos meus olhos e, com sua mão direita apoiada na parte esquerda do meu rosto, quase acreditei que tinha sido só uma simples semaninha. -Mas eu também senti sua falta, muita. Aquela casa não é a mesma sem você. Quase que eu matei nosso único cacto!

-Você o quê? -Me virei repentinamente e sem pensar duas vezes para ele na mesma hora que meu cérebro processou aquelas palavras sérias e preocupantes. -Ele é nosso filho!

-Brincadeira, ele tá ótimo! Melhor que eu. Até lembrei de colocar água pra ele quase todo dia...

-Amor, eu falei uma vez por semana! -Desde quando uma vez por semana tinha virado todos os dias? Aquela casa definitivamente precisava de mim. Toda vez que Harry ficava alguns dias sozinho, algo acontecia.

-Mas eu acho que ele ficou muito feliz com o novo estilo de vida! -Harry insistiu no erro e até comparou nosso cacto com um rapaz que estuda cinema, se muda para Los Angeles e tem um Instagram de estilo de vida saudável e bebe 4 litros de água importada por dia. Segundo ele, tudo bem se o filho dele se tornasse mais um desses caras brancos, cisgeneros e ricos da América do Norte, contanto que estivesse feliz.

-Você é inacreditável! -Como um bom inglês, que adora reclamar dos costumes americanos, e morando em nova Iorque, faz parte do meu ser brincar e rir dos esteriótipos do outro lado do país.

Eu não conseguiria listar quantas coisas aconteceram em pouco mais de dois anos, mas partindo dos fatos mais importantes: Eu me sentia mais completo.

A auto descoberta te leva a uma estrada: Entender que você pode se descobrir, mas nunca se conhecer completamente. Somos mais complexos que isso. Hoje eu sou uma pessoa diferente de amanhã, então tudo que eu posso fazer é me conhecer hoje, e amanhã é uma nova aventura, ilimitada.

Com o tempo você descobre isso, e descobre que essa jornada pode ser incrível. Eu já estava na fase de perceber que vale a pena viver.

Voltando da França, meses depois precisamos mudar de aluguel e irmos para um apartamento novo, já que o dono pediu de volta. Hoje percebo que não foi tão ruim, adoro coisas simbólicas e esse talvez tenha sido um belo simbolismo de recomeço.

A mudança foi estressante, todas são, mas demos algumas coisas para Lottie, que ano passado também se mudou para um apartamento maior com o novo namorado, Tom, e outras para Liam, que não se mudou, mas precisava de alguns móveis mais úteis.

Tudo isso gastou o dinheiro que estávamos planejando conseguir para o casamento, mas no meio da agitação, surgem momentos inimagináveis: Harry acabou atendendo a uma chamada de roubo na casa de um editor renomado de livros, não renomado em escala mundial, mas alguém com alguma influência, e como se não bastasse, ele não se conteve em contar que seu noivo escrevia e, naquela altura, eu já tinha muita coisa escrita. Não que os rabiscos que eu fazia eram uma biografia, não diretamente, mas acabou se tornando.

Uncertain Call - (L.S)Where stories live. Discover now