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Eu estava correndo rápido, tão rápido que minhas pernas mal aguentavam sustentar a velocidade que eu ainda queria alcançar. Um pequeno deslize e meus pés poderiam se tocar, fazendo meu corpo cair em qualquer parte da imensidão de cimento que me cerca.

A música soando em meus ouvidos, através dos fones e do volume máximo, não ditava meu ritmo, mas contribuía pelas a notas aceleradas da música agitada, cujo ao menos sabia o nome. Ela ajudava a ocupar minha cabeça. Eu não pensava em nada a não ser impulsionar meu peso para frente mais rápido que no passo anterior. Meu fôlego não me acompanhava e eu não lembrava, se quer, que ele existia.

A região plantar dos meus pés doíam tanto quando a sola dos mesmos. Eu não me importava com a dor. Eu queria chegar no limite. Queria que todas minhas energias, sentimentos e força fossem expelidas de alguma forma de mim, correndo para aliviar tudo que eu precisava por para fora.

Repetia para mim mesmo que já estava chegando enquanto estava no ápice, na descarga extrema de energia, sem consciência exata do que eu estava fazendo, mas ainda sim eu pulava de dois em dois degraus, ou mais, subindo aquela longa escada como se algo tentasse me parar ou como se fosse a última coisa que eu faria na vida. Eu não pensei, um segundo se quer, no que aconteceria se eu errasse um degrau. Eu não pensei em nada. Como se estivesse anestesiado, eu também não sentia nada e esse era o melhor sentimento que eu havia sentido em todas as últimas horas.

Como se eu fosse um trem desgovernado, não consegui parar e subi toda a escadaria do local, indo ao topo do prédio e empurrando, com todas minhas forças, a enorme porta vermelha que tinha no final. Foi o único momento que eu, de fato, respirei.

Um short um pouco acima do joelho, um par de meias grandes, tênis esportivo e uma camiseta cinza de manga curta era o que me vestia. Inicialmente, ousei colocar uma bandana vermelha, mas ela não aguentou segurar-se a mim nos primeiros minutos de corrida.

Raramente eu tinha tempo para correr. Na verdade, eu tinha, porém, preferia usar esse tempo para descansar, embora tinha voltado às atividades físicas mais gradativamente. Correr me fazia bem. É como uma metáfora para o que te cerca: Você corre dos seus problemas, corre da realidade, corre para não enfrentar, pelo menos naquele momento, o que te prende. Eu precisava daquilo hoje.

Chegando no topo do prédio, a vista era de mais prédios e de um pequeno nascer do sol. Respirei fundo, tão fundo que senti minhas pernas estremecerem pela pausa repentina, e apoiei a palma de minhas mãos nos meus joelhos, deixando minhas costas curvadas e não demorando muito para que eu caísse no chão.

Eu não tinha comido nada no café da manhã, aliás, café da manhã para quem? Eu ainda não tinha dormido desde a madrugada. Meus olhos mal piscaram durante toda a noite desde que fitaram erroneamente aquela mensagem. Era tanto na minha mente que eu não poderia raciocinar e distinguir o que era fantasioso da realidade.

Segundo o céu claro, já deveriam ser seis horas da manhã e eu estava correndo por Nova Iorque desde as quatro. Foi o único jeito que pude expressar tudo que eu sentia.

De barriga para cima, minha pele extremamente suada sentia mais forte o vento que soprava, com sorte, teria alguma região da minha blusa que não estivesse molhada. De barrigada para cima, tentava normatizar minha respiração para controlar a adrenalina no meu corpo, contudo, tudo o que eu queria era chorar.

As lágrimas vem de um excesso de sentimento: Tristeza, felicidade, medo... Não é difícil entender o que poderia acontecer na presença assídua de todos eles juntos. O único problema é que eu já poderia estar chorando há minutos atrás, mas eu apenas percebi agora que eu poderia transbordar.

Parecia que eu estava fora de mim, no sentido mais ameno da palavra. Meu corpo estava deitado no chão de um lugar que eu havia ido apenas uma vez na minha vida, com vista para outras copas de prédios de Nova Iorque e para o céu limpo. Mesmo assim, parecia que era apenas o meu corpo e que eu não estava ali.

Uncertain Call - (L.S)Место, где живут истории. Откройте их для себя