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"Momentos ruins passam", isso é o que todos dizem para nos confortar.

Alguém poderia facilmente falar isso para mim no momento em que Harry bateu aquela porta, depois de perceber a gravidade de suas palavras, e tudo ficou um pouco mais vácuo, vazio. Como se eu estivesse dentro de colchetes e a lacuna fosse tudo que sobrasse para me confortar.

Momentos ruins passam, isso é certo, mas ninguém olha para o que acontece depois. O pior vem depois da tempestade. Os restos, os destroços, as ideias incertas e as soluções solúveis.

Alguns travesseiros estavam jogados pelo chão do quarto pelas horas em que estávamos quase gritando e precisávamos descontar a adrenalina do assunto em coisas que não fossem nós mesmos. Portas, travesseiros, paredes e família. Não tinha percebido os objetos até minutos depois de que tudo tinha acontecido.

O que dizer quando tem uma voz racional dentro de você que insiste que você deveria estar bem? Ou pelo menos não estar chorando, dizendo que você é maduro o bastante para cumprir com todas as teorias que está na sua cabeça. Ela precisava de uma resposta, porém, eu acabava ouvindo-a e me forçando a ir me recompondo as poucos, sem realmente parar para pensar se funcionaria ou não.

Minha irmã era a única pessoa que eu tinha na minha vida, além de mim mesmo e além do Harry, cujo já não tinha tanta certeza assim sobre isso. Consequentemente, ela era a única pessoa para quem eu corria quando algo acontecia e eu não queria mais fazer isso, justamente por motivos de que eu sempre sentia como se eu estivesse incomodando mais uma vez e somando problemas quando ela mesma tinha seus próprios para lidar.

Desbloqueei o celular e logo a minha imagem com Harry, colocada como fundo de tela e tirada dois dias antes da viagem, se destacou contra meus olhos ardentes. Mesmo assim, eu poderia olhar aquela foto espontânea de um momento descontraído na cama por horas.

Ainda encarando o eletrônico preso apenas pelos meus dedos, assisti em câmera lenta o tempo virar até fazer meia hora desde que Harry tinha saído. Minha garganta sentia a dor de passar por isso, muito mais que física e esse era o problema. Eu não queria chorar mais do que meus olhos já expeliam sorrateiramente pelos cantos sem minha permissão, então, tudo aquilo estava preso em mim. Era como se arames farpados estivessem dando voltas onde as palavras saem e o ar entra. Era difícil.

O celular tocou e vibrou em minhas mãos e, sem pensar duas vezes, cliquei desesperadamente para atender.

-Oi? -Disse em um suspiro fundo e desconfiado. Esperando ouvir uma voz incerta, de uma ligação incerta, mas as coisas nem sempre acontece como esperamos.

-Tem como você me responder agora? Eu não sei se você está ocupado, mas eu acabei de te mandar uma mensagem com um formulário para uma pesquisa que... -Lottie deveria estar saltitante do outro lado da linha pela sua voz acelerada. Eu deveria estar feliz por seja lá o que ela estava fazendo que estava deixando-a assim, porém, agora eu estava preso em mim e tudo que eu poderia pensar era que eu não conseguia sentir nada, mesmo sentindo tudo. Não respondi a sua pergunta e ela demorou para fazer a pergunta que eu sabia que ela faria. -Você está calado... Está tudo bem?

-Você sabe a resposta. -Sussurrei cansado e Lottie não deixou que eu falasse mais nada. Ela repetiu todos os conselhos que poderia repetir e fez metáforas que apenas nós dois poderíamos entender para explicá-las.

Antes de voltar para as rédeas da minha vida é fazer jus a todas as frases motivacionais, eu teria que transbordar tudo aquilo que me enchia. Minha irmã falou isso e poucas coisas fizeram tanto sentido, mesmo ela mal sabendo como eu verdadeiramente me sentia sobre tudo. Meus olhos se acabaram em lágrimas silenciosamente enquanto minha cabeça e meus ombros estavam caídos.

Uncertain Call - (L.S)Where stories live. Discover now