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-O hospital inteiro estava olhando para mim. -Louis resmungou cruzando os braços... Pela milésima vez. -Eu já falei que eu estou bem!

-Ele ainda está fraco por causa da medicação e principalmente porque ele não comeu basicamente nada nesses dias! -Contei para Lottie, não deixando-a surpresa, talvez um pouco desapontada com o gênio forte do irmão. Era como se estivéssemos fingindo temporariamente que Louis não estava lá, embora, na vida real, eu não fosse capaz de realmente fazer isso.

-O que eu posso fazer se a comida é péssima? -Teimou e sua teimosia, em maioria, me deixava feliz por ver que ele estava falando como se sentia, se impondo, mesmo que fosse contra mim.

-Comer! -Eu e Lottie falamos a mesma coisa ao mesmo tempo, dando ênfase no que Louis deveria ter feito bem. Ele perguntou se tínhamos ensaiado tal bronca contra sua pessoa enquanto eu e sua irmã riamos da situação.

-Eu odeio vocês! -Louis apoiou seus braços nos braços da cadeira e se impulsionou para frente, saindo da cadeira de rodas, que empurrei até o carro.

-Você me odeia, hun? -Olhei para ele, não contendo um sorriso de canto de lábio e dei ombros, levantando a cadeira de rodas até a entrada do hospital, onde havia mais delas.

-Não, você não... -Murmurou ficando vermelho e entrando dentro do carro o mais rápido possível para disfarçar.

-Eu perdi alguma coisa? -Lottie perguntou confusa revezando seus olhares entre eu, aproximando-me novamente, e Louis, já dentro do carro. Ela estava segurando a porta do banco do passageiro para Louis e lá ficou, estática e confusa a cena não tão comum que havia acabado de acontecer diante os seus olhos.

-Acho melhor a gente ir! -Respondi. Lottie bufou sem nenhuma resposta, apenas comigo desviando das questões, e fechou a porta do carro assim que eu dei a volta no mesmo e entrei. -Se não você vai se atrasar!

Era bom ter Louis de volta, mesmo estando apenas há alguns minutos com ele, já fazia diferença.

Eu percebia isso e, constantemente, me pegava olhando para anos trás e comparando ao Louis que eu encontrei. Era perceptível a mudança a cada dia decisivo. Ele era um novo homem a cada minuto, ele crescia, como um prédio em constante construção. Eu sentia orgulho pelo tanto que ele havia amadurecido. Um renascimento a cada sorriso.

Três dias completos que Louis estava no hospital mas, felizmente, o liberaram logo nas primeiras horas da manhã. Lottie trabalhava cedo e fez questão de estar lá quando Louis fosse liberado. Por sorte, consegui sair alguns minutos mais cedo do trabalho, buscá-la e passar no hospital. De lá, íamos para o escritório onde ela trabalhava.

Louis não estava mentindo quando disse que algumas pessoas do hospital olhavam para nós, aliás, um homem de uniforme policial carregando uma cadeira de rodas tranquilamente pelos corredores, não era uma cena muito comum.

-O Louis podia passar alguns dias na minha casa... -Fui a primeira pessoa a dizer alguma coisa e ignorar o silêncio. Lottie estava focada em seu celular, respondendo e-mails do trabalho e ajeitando-se na cadeira, quando seu rosto se voltou para mim.

-Como assim? -Disse e pude ver Louis no banco de trás, que olhava para fora da janela, também voltando-se para mim, através do retrovisor do carro.

-Não sei, só alguns dias. Não quero deixar ele sozinho naquele apartamento de novo. -Sugeri e todos continuaram em silêncio. Algo dentro de mim me condenava por ter falado o que tinha acabado de passar pela minha mente por não saber se foi algo certo a se fazer.

Olhava para o reflexo de Louis no espelho e ele apenas se inclinava e olhava para a irmã, pouco boquiaberto e à espera de algo.

Estávamos no sinal vermelho, nenhum barulho de buzinas, motores, muito menos vozes dentro do carro.

Uncertain Call - (L.S)Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt