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O cansaço da parte debaixo dos seus olhos era evidente, pelo menos para mim. Com sorte, ele perceberia isso mais cedo ou mais tarde, mas ele sempre foi péssimo em notar coisas em si mesmo na primeira pessoa. Caso já não soubesse que precisava de um descanso urgentemente durante todas essas idas e vindas nos últimos dias, o corpo falaria por ele. Nosso corpo sempre expressa aquilo que tentamos guardar a sete chaves porque somos covardes o bastante para admitirmos um pouco de fraqueza, e o meu já estava demonstrando.

Dormi mais uma vez por alguns minutos ao longo da estrada longa e lisa que pegamos para irmos onde ficaríamos durante nossa estadia em Paris. Foi um sono tão inesperado que tudo que lembro era de passarmos por diversos hotéis e que a todo momento achava que o nosso era um deles. Harry sempre negava, eu desisti de tentar adivinhar e minhas pálpebras desistiram de persistir ao som da voz do motorista ao meu lado pedindo para que eu não colocasse os pés no banco ou no painel do carro, por ele ser alugado, e mal lembro se obedeci. Provavelmente não.

-Se você não já tivesse com minha vida nas suas mãos, eu juraria que você estaria me levando para qualquer lugar muito longe e que iria me matar depois! -Minhas mãos cobriam meu rosto e parte da minha boca que se abria em bocejo após Harry me acordar com sua mão direita balançando meu braço. Ele logo respondeu em um tom romântico e agradeceu pela declaração inesperada e não convencional. -Não era para ser uma declaração, amor, mas tudo bem!

-Eu acho que chegamos... -Afirmou pouco confiante de suas próprias palavras e meus olhos começaram a limpar a visão limitada que tínhamos de dentro do carro.

-Depois de tudo isso você ainda não tem certeza? Daqui a pouco a gente chega em Nova Iorque de carro!

-Para de reclamar, dramático! -Soltou a mim o adjetivo que também o melhor descrevia. Tirou a chave do carro e começou a sair por completo do veículo. -Se eu fosse você, eu começaria a poupar palavras porque você vai precisar delas depois!

-Isso não... -Aquilo não parecia um hotel, não dos convencionais, pelo menos. Assim que meus pés pisaram em chão firme, percebi as pedras e a poeira mais nitidamente.

-Shh! -Fez o som através de seus dentes e colocou seu dedo indicador contra os seus lábios.

Era um local respectivamente grande, parecia ter andares e a frente rústica me lembrava algum lugar que poderia claramente ser cenário de algum filme. Cores que contrastavam entre preto e marrom em vários tons, janelas enormes e vegetação ao redor que fazia a casa ser um pouco isolada. Árvores grandes e medianas ao lado, plantas menores conforme aproximávamos.

Aquela seria minha casa dos sonhos se eu fosse um milionário ou algo do gênero, mas ainda estava longe de ser e, mesmo assim, por algum motivo, Harry ainda caminhava com o braço ao redor dos meus ombros e me guiava até a porta de maçanetas grandes e estrutura ainda maior.

-Você não vai me explicar tudo isso? -Meus olhos surpresos e o sorriso ainda desentendido perguntou sem esperança de alguma resposta. Ainda dividindo olhares entre a porta de vidro e o amor da minha vida parado logo a minha frente. Não queria parecer muito surpreso ao olhar demais para o local ou parecer com medo e olhar apenas para Harry. A solução foi a indecisão.

-Calma, não é tudo nosso! -Harry sorriu de lado e apertou o interfone do local.

-Espera, alguma coisa aqui é nossa?

-Temporariamente sim.... -Olhou para cima e apontou para o que seria o terceiro andar. No mesmo momento, uma voz feminina nos atendeu e pediu algumas informações antes que nos deixasse seguir adiante e mostrar documentos de identificação.

Eram três lances curtos de escada, também havia um elevador pequeno, mas Harry disse que não havia necessidade. Cada lado da casa parecia ter sido estrategicamente pensado, entre o mármore e a madeira, e eu nunca tinha estado em qualquer lugar como aquele antes, não que eu estive em muitos lugares, mas era indescritível.

Uncertain Call - (L.S)Where stories live. Discover now