3. O Jantar

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"C'est toi que je voulais
C'est toi qu'il me fallait
Toi que j'aim'rai toujours
Ça sert à ça, l'amour"

A Quoi Ça Sert L'Amour - Édith Piaf

12 de julho de 1996.

Duck, Carolina do Norte.

Bree.

Se eu pudesse, iria embora dali no dia seguinte. Aliás, se eu tivesse escolhido, nem teria ido para Duck. O verão que tinha passado lá anos antes tinha sido divertido, mas eu preferia mesmo ficar em casa, com minhas coisas, meus livros, meus amigos.

Minha mãe, porém, voltou a achar a ideia de me despachar para a casa da Martha a coisa mais legal que podia fazer por mim.

Nada poderia ter me irritado tanto.

Chovia sem parar. E, quando não chovia, também não fazia sol. O tempo era abafado e quente; meu cabelo, que odiava umidade, parecia uma couve-flor; e as atividades propostas por Martha não tinham mais apelo.

Além disso, não havia ninguém na rua com quem jogar, patinar, conversar, nada! De um lado, uma casa vazia. Do outro, um casal jovem com um bebê de meses.

Diante dessa realidade, meu coração chegou a pular dentro do peito quando eu vi a minivan estacionando na rua. De dentro dela, saiu o menino da estrela do mar e do castelo, Taylor. Ele e toda uma trupe de gente loira. Tinha guardado na memória nossa pequena interação. E, embora, já fizesse um século, fiquei muito feliz com a possibilidade de ter alguém pra fazer alguma coisa, qualquer coisa.

Eles eram uma família enorme, os pais e mais seis crianças (um bebê a mais do que eu me lembrava). Quase não reconheci Taylor, que estava mais alto e tinha deixado o cabelo crescer, talvez para ficar parecido com um Kurt Cobain adolescente.

Me espichei na cadeira da varanda pra ver melhor o desmonte do bagageiro, mas me encolhia cada vez que alguém ameaçava olhar na minha direção. Naquele verão tinha decidido começar a estudar francês propriamente. Eu entendia bem a língua por causa da minha mãe, que continuava a falar comigo em francês eventualmente, mas não sabia escrever direito ou ler. Era isso que estava fazendo quando eles chegaram. Guardei minha parafernália e me mantive a postos depois que todos entraram. A qualquer momento, alguma daquelas 57 pessoas iria sair novamente e passear na minha frente. Eu, então, faria algum tipo de contato, uma amizade floresceria e minha vida deixaria de ser essa solidão tenebrosa.

Aconteceu nem 15 minutos depois.

Saíram os três meninos mais velhos. Taylor, um garoto maior e um outro menor. Calçaram patins e começaram a andar pela rua. Dessa vez, me empertiguei em vez de me esconder. Quando ele passou olhando para mim, acenei e dei um sorriso sem dentes. Não quis parecer desesperada.

Fui ignorada.

Tinha bastante certeza de que ele tinha me visto. Bom, talvez não tivesse reconhecido. Pode acontecer. Quando os três passaram novamente, acenei de novo e o chamei.

Taylor me encarou. Ele tinha olhos azuis muito brilhantes, que pareciam faróis até no tempo nublado, eu já tinha percebido isso da outra vez. Mas ele desviou de novo sem dizer uma única palavra ou fazer nada. Nem oi. Nem um aceno. Fui completamente ignorada pela segunda vez em 15 minutos. Logo depois, o irmão mais velho dele deslizou de patins até ele, gargalhando e bagunçando o seu cabelo com as mãos. Em resposta, Taylor tentou dar um soco no menino. Ainda olhou de novo para mim antes de continuar suas brincadeiras de moleque.

Castelos de AreiaWhere stories live. Discover now