6. Ciúme de Você

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"Thunder only happens when it's raining
Players only love you when they're playing"

Dreams - The Corrs

6 de julho de 1997.

Duck, Carolina do Norte.

Taylor.

_ Não se esquece!

Antes de correr para o carro da mãe da Bree, Kimmie tinha me puxado para a lateral da casa, com uma urgência que me deixou um pouco exasperado. Ela só me deu um beijo rápido na boca, entregou um papel em dobradura e saiu andando daquele jeito que meninas andam quando sabem que estamos olhando. Respirei fundo e enfiei o papel no bolso sem nem abrir.

A verdade era que Kimberly era mesmo bonita. Tinha os cabelos bem compridos e escuros, olhos amendoados e a pele morena. Parecia ter saído de dentro do desenho da Pocahontas direto para a vida real.

Sim, eu assistia a desenhos animados de princesas da Disney com minhas irmãs, às vezes.

Mas eu me senti sufocado. Nem dois dias se passaram com a garota e eu queria fugir para qualquer lugar em que ela não estivesse.

Eu a beijei de muito bom grado porque, como falei, ela era 1. bonita e 2. flertou comigo descaradamente. Havia um terceiro motivo, mas eu tinha vergonha dele, muito porque não entendia a razão de ele existir. Eu gostava de infernizar a Bree mais do que o aceitável. Eu sabia que era ridículo, mas, se eu tivesse a oportunidade de fazer algo pra irritá-la, agarrava e não soltava mais. Foi um pouco do que aconteceu com a Kimmie.

Eu achei que Bree não ia gostar se eu xavecasse sua amiga. Achei mesmo que ela ia odiar, me xingar, espernear. Mas ela se manteve impassível. Tinha muito sangue frio a garota, era impressionante.

Não, nunca passou pela minha cabeça que ela simplesmente não estava nem aí pra mim mesmo.

Aí, eu pensei em desistir da ideia. Quando me sentei do lado de Bree nos fogos e vi que ela tinha aqueles olhos impossivelmente verdes dela cheios de água sem nenhuma razão aparente, eu cogitei deixar pra lá. Mesmo. Eu não gostava da Bree. Mas eu gostava dela, sabe? Eu achava ela chata e legal ao mesmo tempo. Queria torrar o saco dela até o limite porque quando ela me dava atenção, as coisas pareciam menos entediantes. E ela falava de assuntos que me faziam pensar. Quem é que imagina que fogos de artifício substituem estrelas e que isso pode ser bonito? A Bree. E eu concordei com ela.

Mas ela saiu de lá, em um movimento que me pareceu claramente combinado com Kimmie e, quando percebi, estava beijando a garota. O que foi bem legal, não podia reclamar. Os meninos estavam todos querendo ficar com ela, e quem conseguiu o feito fui eu. Mas, e era isso que eu não conseguia entender, a Bree não falou nada. Eu e ela não éramos muito próximos, mas se tinha uma coisa que eu sabia sobre a Bree era que, quando ela não gostava de alguma coisa, ela deixava isso bem claro. E ela parecia estar muito tranquila com tudo.

Eu e Kimmie ficamos juntos no dia dos fogos e no dia seguinte, na praia. E Bree lá, plácida, inabalável. Eu estava provavelmente agindo como um idiota convencido, mas, cada vez que ela olhava, eu encostava na Kimmie ou roubava um beijo dela. O que só fez com que a Bree prestasse ainda menos atenção.

Só achei que tinha conseguido atingir aquele coração de pedra no último momento. Ainda sentindo o peso do papelzinho dobrado em envelope no meu bolso, passei na frente da casa da Martha. Bree estava na varanda, esperando a mãe e o padrasto irem embora e se despedindo de Kimmie. Levantei as sobrancelhas para ela como em um aceno, mas ela só virou o rosto. Era isso. Ela tinha ficado incomodada, então. Eu sabia.

Novamente. Eu estava sendo um imbecil? Era muito capaz. Mas eu queria aqueles olhos em mim. Queria a atenção dela pra mim. Tudo isso sem baixar um centímetro da minha guarda.

Quando entrei em casa, tirei o papel do bolso e abri. Ele tinha o telefone de Kimmie escrito em caligrafia redonda com uma caneta brilhante e um coração desenhado ao lado. Sinceramente, acordar para beber água no meio da noite me deixava mais animado do que ver aqueles números. Joguei no lixo imediatamente. Eu era o tipo de cara com quem as meninas queriam ficar e não o contrário.

Não quis ir à praia aquele dia. Mas as coisas nas quais a gente não quer pensar em geral nos perseguem. Ou seja, Ike chegou com a Bree logo depois do almoço pra ficar na piscina de casa durante a tarde. Não demorou muito para que surgisse a ideia de jogar bola, e Ike saiu para buscá-la, já que a única disponível era uma bola de plástico rosa da Jessica.

Enquanto esperávamos, Bree saiu da água e se sentou na borda. Decidido a tirar dela qualquer reação e aproveitando que Zac não estava preocupado com nada além de se jogar como uma bomba na piscina repetidas vezes, dei três braçadas até ela e parei na sua frente.

_ Chateada que a Kimmie foi embora? - passei as mãos nos cabelos, levando-os para trás.

_ Não. - ela chutou água para cima e ficou olhando as gotas baterem na superfície. _ E você?

Bree era sincera. Será que elas tinham brigado? Ela não soava como alguém que tinha saído de uma discussão recentemente, porém.

_ Ela me deu o telefone dela.

Bree levantou as sobrancelhas e engoliu os lábios logo depois fazendo um bico com eles e balançando a cabeça positivamente. _ Que legal.

O mais irônico é que existe uma palavra em francês que descreve precisamente o que era Bree de vez em quando: blasé. A mais blasé das criaturas, eu diria. E talvez por isso fosse tão fácil ver oposto desse estado, quando ela ficava nervosa o suficiente para que faíscas aparecessem no seu olhar. Se eu prestasse atenção aos olhos cor de esmeralda e dissesse a coisa certa, conseguiria ver o cometa de raiva passar.

_ Você é estranha. - espalmei a água e tentei bater nos pingos que se levantaram como se minha mão fosse uma raquete.

_ Estava demorando. Por que você diz isso?

Era agora.

_ Confessa, Bree! Você ficou morta de ciúme.

O meteoro de ódio passou. Eu sorri. Era divertido demais. Ela rolou os olhos e deu varias piscadelas ao olhar para mim de novo.

_ Porque não tem como não gostar de você, não é isso?

_ Tá vendo! Você se lembra direitinho do que eu disse.

A recordação do beijo repentino que roubei de Bree sem entender o motivo no verão passado invadiu o meu cérebro. A cara dela de indignação tinha sido memorável. Ri de novo.

_ Tenho boa memória.

_ Sério. Você ficou com ciúme.

Ela gargalhou, aquela risada gostosa que tinha. E pareceu se divertir realmente. _ Morri, Taylor. Morri de ciúme. Não sei como estou viva.

Respirei mais fundo. Eu tinha prometido, sem pensar direito, que faria ela gostar de mim. Naquele momento, me arrependi. Me pareceu que nunca ia acontecer. Eu senti o incômodo nascer dentro de mim, mas não tive tempo de cultivá-lo.

Zac caiu do meu lado jogando água dentro dos meus olhos. E logo Ike interrompeu o que havia se tornado uma guerra de pernas e braços espirrando água para todos os lados com a bola de vôlei perdida.

Castelos de AreiaWhere stories live. Discover now