7. Tudo ao Mesmo Tempo

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"You've got your ball
You've got your chain
Tied to me tight tie me up again"

Crash into Me - Dave Matthews Band

18 de julho de 1997.

Duck, Carolina do Norte.

Bree.

É incrível como alguns dias têm o potencial de reação em cadeia que muda tudo, absolutamente tudo, na nossa vida. Foi o que aconteceu naquele 18 de julho. Primeiro, o aparentemente banal telefonema para Kimmie, depois a inesperada ligação do meu pai e, por fim, o absurdo maior: Ike tentou me beijar! Mas vamos do começo.

Eu tenho consciência de que anos mais tarde, algo desse naipe causaria uma ansiedade tremenda e seria o tipo de coisa que me consumiria como fogo e me faria ter um episódio de gastrite nervosa. Mas, aos 13 anos, eu não entendia direito a repetição de pensamentos e a urgência no meu coração. Sabia que precisava resolver aquele pequeno turbilhão dentro de mim, mas não perdia o sono ou a fome por causa dele. A única coisa era que eu queria saber. Eu queria saber de qualquer jeito se Taylor tinha ligado pra Kimmie. Se os dois estavam conversando. Se ele estava prometendo coisas pra ela. Enfim. Infelizmente, o único jeito era mesmo perguntar pra ela, e eu não ia mais protelar.

Aproveitei que Martha havia saído para comprar algo no mercado, e eu tinha ficado sozinha. Não havia um telefone no meu quarto e eu não queria que ninguém ouvisse aquela conversa. Disquei os números e respirei fundo. Estava apreensiva, e a apreensão estava me deixando bastante irritada. Ouvi três toques antes de a mãe de Kimmie atender. Depois de falar duas ou três frases, houve silêncio e, finalmente, os cliques que mostravam que o aparelho da sala havia sido colocado no gancho e que o do quarto de Kimmie estava em uso. A voz fina atingiu meu tímpano:

_ Oi, amiga!

_ Oi, Kimmie! E aí? Como estão as coisas? - mordi o lábio e sorri, embora soubesse que minha interlocutora não podia me ver e como que para assegurar a mim mesma que estava tranquila.

_ Ah, o normal. Tomando um pouco de sol quando dá. Queria taaaanto ter continuado aí. E você?

_ O de sempre também! Tenho estudado bastante.

_ Afff! Vai beijar algum menino! - ela bufou e riu.

Minha voz saiu mais seca do que eu gostaria quando respondi. _ Não tem ninguém.

_ Falando nisso. E o Taylor?

Pronto. Minha deixa.

_ Ele não te ligou?

_ Não... Eu jurava que ele tinha gostado de mim.

A onda de alívio que me tomou pareceu tão desproporcional quanto a agonia que eu vinha sentindo. Quase tive vergonha. A angústia se derreteu dentro de mim e deu lugar a um brotinho de alegria. Quando pensei no sol e tive vontade de sair de casa, o broto começou a se irradiar para todos os lados. Queria parar de ouvir a voz dela e de ruminar dentro da minha cabeça aquele beijo idiota que eu tinha visto. Chegava daquele que tinha sido o assunto mais chato de todos os meus verões. Encerrei a conversa o mais rápido que pude.

_ Ah! Eu tenho certeza que gostou. Certeza mesmo. Escuta, Kimmie. Preciso ir. Bom falar com você. A gente se fala na volta às aulas.

Acreditei realmente que nós voltaríamos ao normal quando eu retornasse pra Nova York. Mas, e depois ficaria claro pra mim, isso não seria mais possível. Aquela foi a última conversa de verdade que eu e Kimmie tivemos. Fomos colegas depois, mas a amizade se evaporou como água quente.

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