9. Desafio

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"I wanna hold you and say
We can't throw this all away"

I Can't Stop Loving You - Van Halen

5 de agosto de 1998.

Duck, Carolina do Norte.

Bree.

Se tivessem me falado naquele dia de manhã que à noite eu estaria pronta para dar um beijo no Taylor, eu nunca teria acreditado. Nunca.

Mas era precisamente isso que estava acontecendo. Ele estava de pé na minha frente e seu olhar desviava dos meus olhos para a minha boca. Eu poderia jurar que ele queria me beijar também, se isso não fosse um pensamento completamente fora da realidade.

Lembrei da interação que tínhamos tido à tarde. Lá estava eu com o diskman no repeat sem conseguir dar stop em "I Can't Stop Loving You". Pior, sem querer apertar o botão de parar. Qual é o problema das músicas ruins e bregas que elas sempre têm que nos lembrar alguém?

Quanto mais eu ouvia os agudos irritantes do vocalista, mais eu queria continuar escutando.

"Você pode mudar seus amigos, seu lugar na vida, você pode mudar de ideia. Podemos mudar o que dizemos e fazer isso a qualquer momento. Mas eu acho que você vai perceber que, quando olhar para dentro do seu coração, amor, eu estarei lá"

Que ódio! Só nos meus sonhos pra ele me dizer uma coisa dessa. E, meu Deus, por que ele não saía da minha cabeça? Por quê? Era bonitinho? Era lindo? Era. Mas era também um completo idiota. Meio legal, às vezes, está certo. Só que nada adiantava se ele não estava nem aí pra mim, não é?

Taylor tinha ficado 50 vezes pior e 100 vezes mais bonito de um ano para o outro. Demorou um mês a mais para chegar com a família a Duck porque ficou de recuperação em quase todas as matérias na escola e por pouco não repetiu de ano. Aos 15 anos, mais alto, com uma voz que era agora rouquinha e impossível de ouvir sem sorrir, ele tinha se tornado um pesadelo. Ficava com todas as garotas. Todas. As da turma e as que não eram da turma. Ike achava que era uma fase rebelde. Eu achava que ele era um fiasco de menino.

Daqueles que viram sua cabeça pelo avesso.

Tão inteligente pra umas coisas e tão burra pra outras. Era isso que eu era.

Ouvi a música mais cinco vezes, todas elas com frios na espinha em passagens especiais ("Só quero ouvir você dizer que não pode parar de me amar") e leves lágrimas se formando no olho.

Queria voltar dois anos para trás, quando eu lia pra passar o tempo e brigar com o Taylor era um diversão, não uma espécie de escudo de proteção. Quando nada desse estalo ridículo de se apaixonar tinha acontecido.

Eu não estou apaixonada. Eu não estou estou. Não estou!

_ Não estou! Inferno.

Arranquei o fone do ouvido, que se prendeu no meu cabelo. Quando coloquei as mãos na madeira cheia de areia do píer e me levantei, ele estava na minha frente.

Claro que estava.

Meu coração deu duas batidas erradas, tive certeza, e eu respirei atravessado e quase engasguei.

_ O que você estava ouvindo?

Ele veio direto com as mãos gordas pegar meu aparelho.

_ Nada. - torci meu corpo, levando o diskman pro outro lado.

_ Você estava cantando.

Aquele sorrisinho insuportável.

_ Não estava.

Castelos de AreiaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora