Um

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Cory girou as chaves gentilmente para que o motor do carro se calasse. Relaxou os braços e entrelaçou os dedos das próprias mãos enquanto olhava para baixo, em um silencioso sinal de respeito a dor de Olivia, que, desde que sentou ao seu lado no banco do passageiro, olhava fixamente para frente e quase não piscava.

– Você era o idiota. – Ela disse, fazendo seu rosto se contorcer em surpresa.

– Mas o qu...

– Shh. Não terminei de falar. – Olivia o repreendeu, mas ele percebeu sua voz vacilar. – Você, de todos nós, era o mais idiota. Na verdade, não sei se isso mudou ou vai mudar um dia... – ela deu de ombros. – Você era o idiota. Eu era a sensata. Ian era o mimado. E Penelope... – ela fechou os olhos e respirou fundo, enquanto Cory parecia imóvel – Penelope era mágica.

Cory sentiu os olhos arderem, mas continuou imóvel. Temia que qualquer movimento seu fizesse com que Liv fechasse a porta invisível entre eles novamente. Ela precisava falar e ele queria, mais do que tudo, ouvi-la, se aquilo significava tirar meio por cento do peso que ela carregaria nas costas pelo resto da sua vida, a partir do momento em que saísse do carro.

– Você se lembra do dia da formatura do ensino médio? – Ela riu sozinha enquanto ele assentia, sorrindo discretamente. Fechou os olhos e, conforme as imagens vieram em sua memória, uma onda de calor preencheu seu coração.

Dez anos atrás

Olivia mal podia acreditar que aqueles longos anos do colegial haviam chegado ao fim. Ela iria se formar. Ela, Penny, Cory e Ian. Era no mínimo curioso pensar que os quatro tinham conseguido chegar até ali juntos, após tantas encrencas, desavenças e, principalmente, detenções de Cory.
Passou o dia pensando em como era bom finalmente se despedir da escola e de todas as pessoas insuportáveis que rodearam sua vida durante todo aquele tempo. Mas agora, sentada em frente ao espelho e encarando seu reflexo carregado de maquiagem, não conseguia sentir mais nada além da sensação de despedida. E se não soubesse ser adulta? E se ela se afastasse das únicas três pessoas que havia escolhido como família? Encolheu-se. O medo de perder sempre lhe assombrou, principalmente depois que sua mãe se foi.
Não conseguia imaginar sua vida sem Penny. Haviam sido criadas praticamente juntas, visto que, quando tudo desmoronou, tia Rose – prima de consideração de seu pai e mãe de Penelope – fora quem mais ajudou em sua criação. Depois dela, Penny era quem mais a havia acolhido em seus momentos de escuridão e de luz.
"Não é hora de sentir medo" repetia incessantemente dentro da própria cabeça. Penny nunca iria lhe abandonar, Cory sempre estaria em seu coração e Ian... bem, Ian sempre estaria em sua vida, querendo ou não.
– Olivia Stone. – Penelope disse alto o suficiente para tirá-la de seu transe. – Não acredito que você ainda está chorando sentada em frente a esse espelho!
Olivia virou o torso para observá­-la. Seu vestido era cinza escuro, simples, com um grande laço lateral. Com as mãos na cintura perfeitamente delineada, Penny tentava se equilibrar em um salto quase maior que ela. Seus cabelos estavam soltos e levemente cacheados, emoldurando de forma perfeita seu rosto redondo e as grandes bochechas. Como sempre, estava linda.

– Por que, não importa o que eu faça, você sempre está mais bonita do que eu? É injusto com o resto do mundo, sabia? – Liv tentou descontrair, limpando um resquício de lágrima abaixo do olho esquerdo.

– Por que, não importa o que eu fale, você não para de chorar? – A amiga continuou, irritada. – Não estou te entendendo! Se fosse pra chorar a gente tinha ficado em casa assistindo 10 Coisas Que Eu Odeio Em Você, né? – Ela disse enquanto chegava mais perto de Olivia, a envolvendo em um abraço apertado e cheio de conforto logo em seguida.

Pedaços do CéuWhere stories live. Discover now