Dois

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"Você unirá duas vidas que se negam em aceitar o destino. Duas vidas que não se aceitam, mas ao mesmo tempo não tem outra opção a não ser caminharem juntas. Duas almas que se encontraram no amor que você os deu em vida.

Saberás a hora da chegada e a hora da partida.

Encontrará ajuda por perto.

Uma vez em terra, o anjo cupido só poderá voltar quando concluir sua missão."

As palavras martelavam no cérebro de Penny enquanto ela bufava atrás de Jill.

Não era possível uma coisa daquelas. Que os céus abrissem os portões para que ela descesse de tobogã diretamente para o inferno, mas não podia se comprometer com esse absurdo.

– Jill, você não está entendendo. Não vai dar. MESMO!

Jill parou abruptamente, fazendo com que Penelope não conseguisse frear os passos a tempo suficiente de não esbarrar em suas costas.

– Chega de lamentações. – Jill falou, sem muita paciência. – Existe um motivo pra isso estar acontecendo. Se você recusar, não vai ficar aqui. É isso o que você quer?

– Não, mas...

– Não tem "mas", Penelope. Dê seus pulos. Você desce em dois dias. – Jill encerrou a conversa e desapareceu, como sempre, deixando Penny contrariada.

Ela balançou a cabeça. Há um ano estava sendo preparada para sua missão, mas nem em um bilhão de séculos imaginaria que seria isso.

Todos os anjos passavam por um ano inteiro de treinamento para finalmente voltarem ao mundo dos vivos e cumprirem uma missão específica. Após isso, caso concluíssem suas missões com sucesso, retornavam para desfrutar eternamente da paz e alegria do plano espiritual.

Existiam três categorias: anjos da guarda, anjos cupidos e anjos mensageiros. Os mensageiros eram responsáveis por intermediar a comunicação entre os anjos cupidos e anjos da guarda que estavam em Terra e seus supervisores espirituais, como Jill, levando e trazendo informações e recados dos dois mundos. Os anjos da guarda eram protetores de algum humano e absolutamente todos tinham um em seu encalço. As missões deles eram as mais longas de todas, pois só acabavam quando os humanos protegidos desencarnavam na hora certa. Por fim, os anjos cupidos, como Penelope. Esses tinham que juntar os casais mais improváveis (na visão humana) e fazer com que eles permanecessem unidos. Penelope não via sentido algum naquilo. É claro que seus sentimentos carnais já não existiam mais, por isso não tinha problema nenhum em pensar que Ian ficaria com outra pessoa. O problema era com quem queriam que ele ficasse. Fechou os olhos e por um segundo concluiu que, se não existissem as complicações, aquele seria o cenário perfeito. Sua filha sendo criada pelas duas pessoas que mais amou na vida. Mas as complicações existiam e sabia que nenhum anjo daquela porcaria de céu tinha uma missão tão difícil quanto a sua, pois Ian e Olivia eram como duas bombas-relógio e não tinha certeza se um sairia vivo quando o outro explodisse.

~*~

– Cory, tente de novo o celular do Ian. – Olivia estava massageando as têmporas e fazendo um exercício de respiração para não surtar.

– Liv, está na caixa postal faz duas horas. Se ele não atendeu até agora, é inútil continuar tentando. Tenho certeza que daqui a pouco ele estará aqui. – Cory tentou tranquilizar a amiga, mas, no fundo, não tinha tanta certeza assim.

– Eu acho bom, porque do contrário seu amigo é um homem morto.

Ela virou as costas e bateu a porta do salão de festas tão forte, que um penduricalho da decoração de circo se desprendeu da parede e caiu no chão.

Pedaços do CéuOnde as histórias ganham vida. Descobre agora