Dez

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— Ninguém vai falar nada? — Andre perguntou mais uma vez.

— Eu me demito. — Ian disparou. Olivia girou o corpo inteiro na cadeira, sem acreditar no que tinha acabado de ouvir.

— Boa tentativa, rapaz. Mas ainda não. — Andre decidiu e Olivia girou novamente o corpo para a direção contrária, como se fosse uma barata tonta.

— O quê? — Perguntou, aflita.

— Vocês são ótimos profissionais e eu faço questão de uma última tentativa antes de apelar para medidas extremas. — Ele abriu uma das gavetas e puxou rapidamente dois envelopes brancos lacrados. Suspirou ao estendê-los até os dois, que não estavam entendendo mais coisa alguma.

— Como todos sabem, estamos abrindo uma filial da A&P no Texas, em sociedade com um antigo escritório de arquitetura. Em três dias vocês dois vão embarcar juntos para conhecer o lugar. Vão ajudar na negociação do nosso primeiro projeto por lá e... — Andre não conseguiu terminar sua fala, sendo atropelado por uma Olivia extremamente agitada.

— Andre, agradeço a confiança, mas estamos falando de outro país, né? — Ela sorriu amarelo. — Eu teria que deixar a Summer com alguém e... — vendo a expressão do homem, Liv parou de falar abruptamente.

— Tenho certeza que Alex pode te ajudar com isso, Olivia. Não é a primeira vez que você precisa viajar a trabalho e ela sempre esteve disponível, então não tente me enganar. — Andre estava sem a menor paciência. — Vocês dois vão entrar em um avião para o Texas na próxima segunda-feira e só aceito reclamações se elas vierem junto de um pedido definitivo de demissão. Estamos entendidos?

Sem saída, Ian balançou a cabeça de forma afirmativa.

— Ótimo. Agora vou aproveitar o resto do meu dia para tentar me livrar do mau humor que me causaram. — Ele fez um sinal com a mão para que eles se retirassem da sala e, estalou os dedos ao lembrar de uma última coisa: — E, ah, antes que eu me esqueça: — Liv olhou por cima do ombro, enquanto Ian segurava a porta aberta — dispensei Meg pelo resto do dia. Ela me pediu um dia de descanso e, diante da palhaçada de vocês, não pude negar. Assumam os projetos e terminem o que for necessário ainda hoje.

— Mas...

— Hoje, Olivia. — Andre meneou a cabeça.

Controlando a vontade de bater os pés no chão como uma criança, Olivia apenas suspirou ao ver Ian dar as costas para o chefe.

— Perfeito. — Ela o ouviu reclamar antes de sumir rapidamente pelo corredor.

~*~

— Você não pode me ignorar para sempre. — Olivia disse em tom cansado, deixando os braços penderem ao lado do próprio corpo em sinal de desistência.

O relógio já passava das nove da noite e ela podia ver no rosto do rapaz o esforço que ele fazia para manter as pálpebras abertas. Quando havia o observado mais cedo naquele mesmo dia, não tinha percebido as olheiras fundas que começavam a se formar ao redor de seus olhos. Ele não estava dormindo bem, aquilo era nítido. Mais uma vez, sentiu as palavras fazerem cócegas na ponta de sua língua. O que Penelope havia dito, como sempre, fazia sentido. Ela não conseguiria seguir em frente daquele jeito. Precisava se desculpar, precisava encontrar alguma forma de explicar o porquê de ter feito o que fez na noite da festa sem contar a ele o real motivo de seu desespero.

— Certo. Me observe. — Ele falou pela primeira vez em horas e Liv sentiu calafrios. Sua voz não estava morna ou embebida de sarcasmo, como sempre. Era distante e indiferente. Ela odiou.

Pedaços do CéuWhere stories live. Discover now