Três

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Penelope nunca havia lidado com alguém desmaiado, mas podia assegurar que não era algo que estava entre os itens da sua lista de "10 coisas para fazer depois de morrer".

Ian estava no chão, pálido como as paredes de seu apartamento. Talvez ela devesse ter feito uma aparição mais discreta para não assustá-lo tanto, mas não conseguiu evitar. Havia chegado há pouco tempo, mas teve o desprazer de presenciar a cena patética entre o ex-namorado e a melhor amiga. A cada palavra, grito e risada irônica que ouviu durante aquela conversa, sentia um misto de raiva e mágoa. Ian havia se esquecido de que fora Olivia quem havia lhe estendido a mão quando ela foi embora e todas as coisas que abriu mão para acolher Summer em sua vida. Ele não era único a sofrer e o fato de que estava agindo como se fosse, fazia Penelope querer estrangulá-lo com suas próprias mãos.

Ficou indecisa ao ter que escolher com quem falaria primeiro, pois Liv estava extremamente frágil após Cory expulsar o amigo de seu apartamento. Mas, ao vê-la sob os cuidados dele e de April, soube que ela não estaria desamparada.

Ao entrar no apartamento de Ian, uma onda de lembranças a atingiu em cheio. O cheiro, o sofá, o piso gelado. Os melhores momentos enquanto viva, havia passado ali, com ele. Ao olhar as fotos em cima da bancada, a raiva lhe invadiu de novo e sem pensar jogou os três porta-retratos no chão com vontade.

Tudo pareceu acontecer em câmera lenta até ela finalmente dirigir a palavra a ele. Pôde ver a descrença em seus olhos antes de cair estrondosamente no chão. Sem saber muito o que fazer, foi até a cozinha e trouxe consigo um copo de água gelada. Funcionava nos filmes, teria que funcionar com ela. Despejou o conteúdo do copo diretamente em seu rosto e Ian abriu os olhos rapidamente, desesperado e com a impressão de que estava se afogando. Penny apenas ignorou a sequência de palavrões que ele lançou a ela em seguida, deixou o copo sobre a mesa de centro e sentou-se novamente.

– Levanta desse chão, precisamos conversar.

Ian levantou e seu rosto estava tomado por diferentes expressões. Estava atônito, aflito, apavorado, descrente e, ao mesmo tempo, curioso.

– Eu tenho certeza que não usei droga nenhuma hoje, então por que estou vendo fantasmas? – Murmurou para si mesmo.

– Não sou um fantasma! – Penny retrucou, indignada com o comentário. – Sou um anjo. Sempre fui, na verdade. Mas agora é oficial.

Ele piscava várias vezes, tentando ter certeza do que estava ouvindo.

– Olha, eu sei que você está achando que isso é um sonho, mas não é. Vou te contar tudo, apenas... coloque uma roupa e pare de me encarar como se eu fosse uma aberração, por favor.

Ian se deu conta de que a toalha que estava antes em sua cintura agora estava ao seu lado, no chão. Foi até o quarto balançando a cabeça freneticamente enquanto colocava uma calça. Não tinha a menor ideia do que estava acontecendo.

Ao retornar, a expressão em seu rosto continuou a mesma. Penny resumiu o último ano em um monólogo de dez minutos. Contou a ele sobre Jill, sobre ter voltado para cumprir uma missão - omitindo o fato de que a missão envolvia ter que bancar a advogada do diabo e juntá-lo com Olivia - e reforçou o ponto de que somente os dois poderiam lhe ver, com o coração partido, pois queria muito poder conversar com Cory mais uma vez.

Por fim, Ian a fitou inconformado.

– Certo. Deixa eu ver se entendi: você é um anjo que tem que cumprir uma missão para poder desfrutar da sua "vida paradisíaca". – Ela assentiu discretamente enquanto ele continuava. – Somente eu e Olivia podemos te ver, você tem novos amigos e não me ama mais. – Ela franziu o cenho, pronta para explicar que não era bem assim, mas ele continuou. – Interessante. Preciso de vodka. – Se levantou rapidamente, mas Penny segurou seu braço antes que se afastasse e ele arregalou ainda mais os olhos ao sentir o toque gélido em sua pele.

Pedaços do CéuWhere stories live. Discover now