– Liv? – Ao ouvir a voz rouca chamar seu apelido, ela soube que o que estava prestes a fazer era mais do que certo.
Desde o momento em que Penelope pousou os olhos sobre Ian no primeiro dia de aula do ensino médio, Olivia soube que o coração da amiga estava completamente entregue. Dois meses depois daquele fatídico dia, trocaram o primeiro beijo e não se desgrudaram mais.
Há um ano se lambiam pelos cantos em todas as oportunidades possíveis, mas, ainda assim, Ian fugia de um relacionamento sério como o diabo foge da cruz.
Toda vez que Penny tentava pressioná-lo para entender o que tinham, ele se esquivava com louvor. O argumento era que, por mais que gostasse dela, não estava pronto – nem disposto – a se entregar para algo que exigia tamanho comprometimento. Já Penelope afirmava que no fim das contas não se importava com rótulos e insistia que estar com Ian fazia parte de sua evolução espiritual. No fundo, todo mundo sabia que ela morria de ciúmes e apenas fingia não ligar. "O que os olhos não veem, o coração não sente, Liv." Era o que Penny repetia como um mantra. Mas os olhos dela viam, seu coração sentia e Olivia queria matá-lo. Não entendia como ele podia não dar a amiga o valor que ela merecia. Não entendia como alguém jurava de pés juntos gostar de uma só pessoa e no segundo seguinte saía beijando milhões de bocas diferentes.
Mas agora era sua boca que ele havia beijado, era seu corpo que ele havia tocado e pensar nisso lhe rasgava o coração. Havia traído a confiança de sua melhor amiga, mas, ainda mais doloroso que isso, era saber que havia traído a si mesma.
Tentando espantar a culpa que esmagava sua consciência, Olivia optou por não responder o chamado baixo do garoto, apenas terminando de vestir a saia jeans que usava na noite anterior.
– Onde você está indo? – Ian perguntou, sonolento.
– Embora. – Instantaneamente sentiu a voz embargar e o estômago contrair.
– Não vamos nem conversar? – Ele já parecia bem acordado e nada cauteloso ao protestar.
– Não temos nada para conversar. – Olivia queria que o tom frio de sua voz deixasse claro que tudo que ela queria era silêncio, mas ele não pareceu se importar com a sua vontade quando pulou da cama e a segurou cuidadosamente pelo braço, fazendo com que ela o encarasse mesmo contra vontade.
– Liv, por favor. Eu pensei que...
– Você pensou errado – ela o interrompeu. – O que aconteceu não deveria ter acontecido. Não vai acontecer nunca mais. – Virou o rosto e Ian paralisou. Seu coração batia tão rápido que mal conseguia raciocinar. Não tinha tido tempo o suficiente para analisar o que havia acontecido uma hora antes, mas podia sentir o desespero tomando conta de si ao perceber que ela estava completamente arrependida e prestes a deixá-lo.
– Ok, não deveria ter acontecido. Mas aconteceu – ele falou baixinho, tentando fazer com que ela olhasse em seus olhos novamente. – Aconteceu, Liv. E foi... – ele franziu o cenho antes de continuar – bom.
– Não, Ian! Não, não, não e não. – Ela se desvencilhou dele e passou a mão pelos cabelos, agora soltos. – Meu Deus, o que estamos fazendo? O que foi que a gente fez? – Ela estava prestes a ter um ataque de pânico. – Ela nunca vai me perdoar. – E então, com um soluço profundo, permitiu que as lágrimas se desprendessem de seus olhos, aliviando seu peito da culpa e da agonia.
Estava doendo como jamais tinha doído antes.
Ver Ian e Penelope juntos sempre fora incômodo. Os diálogos carinhosos, as trocas de olhares, os beijos e abraços, absolutamente tudo entre eles a fazia se sentir desconfortável. Agora finalmente sabia o porquê e, por Deus, preferia ter continuado no escuro.
KAMU SEDANG MEMBACA
Pedaços do Céu
FantasiPenelope tinha vinte e sete anos quando morreu em um acidente de carro. Não foi muito dramático, no entanto. Quando viu, tava lá, mortinha! Estava grávida de Summer, uma linda menina que nasceu como um milagre e foi diretamente para os braços de Oli...