Seis

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– Liv? – Ao ouvir a voz rouca chamar seu apelido, ela soube que o que estava prestes a fazer era mais do que certo.

Desde o momento em que Penelope pousou os olhos sobre Ian no primeiro dia de aula do ensino médio, Olivia soube que o coração da amiga estava completamente entregue. Dois meses depois daquele fatídico dia, trocaram o primeiro beijo e não se desgrudaram mais.

Há um ano se lambiam pelos cantos em todas as oportunidades possíveis, mas, ainda assim, Ian fugia de um relacionamento sério como o diabo foge da cruz.

Toda vez que Penny tentava pressioná-lo para entender o que tinham, ele se esquivava com louvor. O argumento era que, por mais que gostasse dela, não estava pronto – nem disposto – a se entregar para algo que exigia tamanho comprometimento. Já Penelope afirmava que no fim das contas não se importava com rótulos e insistia que estar com Ian fazia parte de sua evolução espiritual. No fundo, todo mundo sabia que ela morria de ciúmes e apenas fingia não ligar. "O que os olhos não veem, o coração não sente, Liv." Era o que Penny repetia como um mantra. Mas os olhos dela viam, seu coração sentia e Olivia queria matá-lo. Não entendia como ele podia não dar a amiga o valor que ela merecia. Não entendia como alguém jurava de pés juntos gostar de uma só pessoa e no segundo seguinte saía beijando milhões de bocas diferentes.

Mas agora era sua boca que ele havia beijado, era seu corpo que ele havia tocado e pensar nisso lhe rasgava o coração. Havia traído a confiança de sua melhor amiga, mas, ainda mais doloroso que isso, era saber que havia traído a si mesma.

Tentando espantar a culpa que esmagava sua consciência, Olivia optou por não responder o chamado baixo do garoto, apenas terminando de vestir a saia jeans que usava na noite anterior.

– Onde você está indo? – Ian perguntou, sonolento.

– Embora. – Instantaneamente sentiu a voz embargar e o estômago contrair.

– Não vamos nem conversar? – Ele já parecia bem acordado e nada cauteloso ao protestar.

– Não temos nada para conversar. – Olivia queria que o tom frio de sua voz deixasse claro que tudo que ela queria era silêncio, mas ele não pareceu se importar com a sua vontade quando pulou da cama e a segurou cuidadosamente pelo braço, fazendo com que ela o encarasse mesmo contra vontade.

– Liv, por favor. Eu pensei que...

– Você pensou errado – ela o interrompeu. – O que aconteceu não deveria ter acontecido. Não vai acontecer nunca mais. – Virou o rosto e Ian paralisou. Seu coração batia tão rápido que mal conseguia raciocinar. Não tinha tido tempo o suficiente para analisar o que havia acontecido uma hora antes, mas podia sentir o desespero tomando conta de si ao perceber que ela estava completamente arrependida e prestes a deixá-lo.

­– Ok, não deveria ter acontecido. Mas aconteceu – ele falou baixinho, tentando fazer com que ela olhasse em seus olhos novamente. – Aconteceu, Liv. E foi... – ele franziu o cenho antes de continuar – bom.

– Não, Ian! Não, não, não e não. – Ela se desvencilhou dele e passou a mão pelos cabelos, agora soltos. – Meu Deus, o que estamos fazendo? O que foi que a gente fez? – Ela estava prestes a ter um ataque de pânico. – Ela nunca vai me perdoar. – E então, com um soluço profundo, permitiu que as lágrimas se desprendessem de seus olhos, aliviando seu peito da culpa e da agonia.

Estava doendo como jamais tinha doído antes.

Ver Ian e Penelope juntos sempre fora incômodo. Os diálogos carinhosos, as trocas de olhares, os beijos e abraços, absolutamente tudo entre eles a fazia se sentir desconfortável. Agora finalmente sabia o porquê e, por Deus, preferia ter continuado no escuro.

Pedaços do CéuTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang