Ella não se levantou de imediato.
Continuou sentada onde estava, observando Ian atentamente, como se estivesse conferindo que ainda era o mesmo, que estava inteiro e realmente ali em sua frente. Quando passou os próprios olhos sobre o verde do olhar do rapaz, sentiu a boca se alargar em um sorriso mais que saudoso. Emocionado.
No instante seguinte, estava com os dois braços e pernas pendurados no corpo dele, como se fosse um urso.
— Senti saudades, irmãozinho.
Ian não disse nada. Apertou o corpo da irmã contra si como se sua vida dependesse daquilo e apenas fechou os olhos.
— Pelo visto você também. — Ella colocou os pés no chão com cuidado e passou lentamente os braços pelo pescoço do irmão, desfazendo o abraço e pousando as duas palmas das mãos delicadamente uma de cada lado do rosto dele. — Te amo, te amo!
Ian sorriu ao ouvi-la falar a única expressão que ele entendia em português.
— Te amo. — Repetiu, enquanto observava com atenção as bochechas rosadas da irmã. O batom roxo, o rabo de cavalo e a roupa justa no corpo. Tirando as bolsas um pouco escuras embaixo dos olhos, nada no jeito exuberante de Ella havia mudado. — Pode me explicar que porra você tá fazendo aqui, Cinderella? — A mulher fez careta ao ouvir seu apelido de infância, mas antes que ralhasse com ele por ter quebrado todo o clima do reencontro, um barulho alto ecoou da outra ponta da sala.
— Desculpe, eu não queria atrapalhar. — Ian juntou as sobrancelhas ao ouvir o sotaque entoado pela voz da moça que os encarava com uma expressão de puro carinho. Ela caminhou até o rapaz e estendeu sua mão: — Me chamo Ivete. Desculpe o meu inglês torto, o que sei é fruto de alguns anos de aula particular e muito treino com a sua irmã.
A primeira coisa que Ian reparou foi que Ivete era baixa. Baixa, tipo, muito baixa. Tinha o corpo robusto e o cabelo cheio de cachos estreitos que se alinhavam perfeitamente em sua cabeça como uma coroa. Bonita, ele rapidamente decidiu.
— Muito prazer. Você já deve saber, mas sou Ian.
Ivete assentiu com um sorriso largo.
— Ella fala muito de você. Acho que você é o ser humano favorito dela.
— Não posso fazer muito se sou perfeito, Eveti.
— Ivete. — A irmã o corrigiu, segurando uma risada.
— Isso. Mas afinal, — voltou o rosto novamente para Ella — o que estão fazendo aqui?
Ivete agitou-se e Ian percebeu que as mãos dela agora tremiam em nervoso. Ella rapidamente tomou uma delas para si e entrelaçou seus dedos, dirigindo um olhar carinhoso para a mulher antes de se voltar para Ian.
— Precisamos nos casar.
Onze anos atrás
O silêncio nunca estivera tão ensurdecedor na casa dos Dale.
Mesmo com quatro pessoas sentadas à mesa, a única coisa que se ouvia ali era o tilintar dos talheres contra os pratos de porcelana e o zunido das folhas que se atracavam em árvores do lado de fora. E isso estava tirando Ian do sério.
— Sabe o que eu acho? — Ele começou, deitando o garfo em cima de sua comida praticamente intacta. — Eu acho o máximo que Ella namore uma garota.
Os tilintares pararam. As folhas não batiam mais. O ar que saía das narinas de cada um estancou.
O silêncio agudo reinou até uma explosão de cacos de vidro tomar o eco das paredes e Ian piscar para entender que a mãe havia apertado o copo que estava em sua mão com tanta força que o mesmo estilhaçou, lhe fazendo um corte fundo e vermelho. Com o sangue escorrendo e o rosto lívido, a mulher não emitiu som algum ao se levantar, mas ao alcançar rapidamente um pano solto em cima da mesa e enrolá-lo rapidamente em volta de sua palma, decretou, olhando fixamente para os olhos inchados da filha:
ESTÁ A LER
Pedaços do Céu
FantasiaPenelope tinha vinte e sete anos quando morreu em um acidente de carro. Não foi muito dramático, no entanto. Quando viu, tava lá, mortinha! Estava grávida de Summer, uma linda menina que nasceu como um milagre e foi diretamente para os braços de Oli...