Onze (pt. 2)

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— Você vai o quê? — Olivia já não sorria mais. Tinha certeza de que seu coração tinha ganhado vida própria e iria sair pulando de seu peito a qualquer momento.

— Vou te beijar e estou te avisando porque acho importante que você saiba que isso vai acontecer. — Ele aproximou o nariz do dela minimamente. — Não vai ser agora, mas vou te beijar e não quero levar um tapa quando o fizer, por isso é bom que você esteja ciente.

— E... — ela limpou a garganta — e o que te garante que esse aviso vai mudar alguma coisa? Eu posso te dar um tapa mesmo assim.

O repuxar dos lábios dele foi breve.

— Porque eu sei como você funciona.

— E como eu funciono? — Irritada, ela cruzou os braços sobre o busto e empinou o nariz, roçando sem querer o lábio inferior no dele.

— Se eu te beijasse aqui, agora, sem te avisar, provavelmente você surtaria. Iria me bater, xingar e fazer um escândalo ate sermos expulsos do local. — Ele continuou, calmo.

— Sim.

— Mas agora que eu te adiantei essa informação, te dei tempo para planejar tudo. Você sempre quer as coisas do seu jeito e como sabe que não há nada que possa fazer para evitar que eu te beije, você vai criar milhares de cenários na sua cabeça sobre como vai acontecer. Vai pensar nisso dia e noite e vai estar explodindo de vontade quando finalmente chegar o momento. Não que você já não esteja agora.

— A sua audácia me comove. — Ela finalmente se afastou. — Você vai levar um tapa, Dale, estou te avisando. Esqueça essa sua teoria maluca.

Ian não pareceu se abalar.

Como se nada tivesse acontecido, caminhou lentamente até o bar e pediu mais uma garrafa de cerveja. Arqueou as sobrancelhas quando ouviu Olivia pedir mais duas doses de tequila ao seu lado.

– Ora ora, parece que alguém ficou nervosa.

— Não estou nervosa, querido. — Ela tomou as duas doses rapidamente e balançou a cabeça mais vezes do que Ian achava saudável após a ingestão de álcool. — Estou animada. Ou você acha que meu show acabou?

Sem esperar por uma resposta, ela voltou ao palco. O lugar não estava vazio, mas as pessoas não pareciam muito interessadas em cantar. Alguns bêbados falavam alto demais entre si, as mulheres gargalhavam ao redor de suas mesas e o microfone parecia reluzir aos olhos embriagados de Olivia.
Não se lembrava qual havia sido a última vez em que havia se sentido tão exposta e ao mesmo tempo confiante para ser ela mesma, sem se preocupar com nada nem ninguém e gostou tanto da sensação que decidiu aproveitar a oportunidade da melhor maneira possível. Ali, na cidade dos seus sonhos, com o microfone nas mãos e Ian a observando tão de perto, ela se sentiu em casa.

Relaxado em seu lugar, Ian a observou cantar ininterruptamente pelos próximos cinquenta minutos.

O repertório era bem aleatório, ele percebeu, e flutuou entre Mariah Carey, Backstreet Boys, Lady Gaga, McFly, Metallica, Taylor Swift e alguns outro hits de diversos gêneros que ele claramente nunca ouviria por vontade própria.

A cada performance, ela parecia mais livre — e mais bêbada — o que deu a ele uma sensação quase que incontrolável de alegria e missão cumprida. Não que o intuito fosse embebedá-la, mas sim deixá-la confortável a ponto de sentir a verdadeira Olivia ali, sem amarras e obstáculos. Livre e feliz.

No entanto, quando começou a captar com certa frequência olhares de alguns abutres mais velhos que pareciam interessados demais, ele decidiu que estava na hora de voltarem para o hotel.

Pedaços do CéuWhere stories live. Discover now