A militante

54

Encarei perplexa Mayã a minha frente. Ele já estava sentado de frente para mim e ainda sorria travesso.

Quando descemos aqui eu procurei por Mayã, os líderes disseram que ele não quis vir, disse que ele queria provar a todos que a ditadura não é mais forte do que nós. Então, o que ele está fazendo aqui?

- O que está fazendo aqui?

- Creio que esse não é o lugar nem a hora certa para conversamos sobre isso - respondeu olhando em volta, ainda sorrindo. - Cadê o seu namorado?

- Está no quarto. E como você sabe...

Ele me interrompeu.

- Eu sei de coisas que você nem imagina. Precisamos conversar em um lugar mais afastado.

- Eu não confio em você.

- E por quê não? - ergueu a sobrancelha confuso.

- Você esteve se virando lá em cima sozinho esse tempo todo, o que o faz decidir descer agora?

- Você.

- O que? - Mayã se apaixonou por mim?

Ele arregalou os olhos percebendo a minha reação e balançou as mãos em negação.

- Não dessa forma - riu pelo nariz. - Eu vim pra te ajudar.

- O que quer dizer com isso?

- Eu sei que você já viu o estado do Renan, e vocês eram bem próximos até o pai dele ganhar a eleição - eu e Renan nos aproximamos bastante como amigos nas semanas anteriores à vitória de seu pai, depois disso, ele estava sempre acompanhando seu pai nas viagens, quando eles voltaram, eu o vi poucas vezes, até que no primeiro dia de 2019, eu fui até ele para me despedir. Eu queria que ele viesse conosco... - E... conhecendo você, eu sei que você está planejando ir salvá-lo e como bom conhecedor que eu sou do mundo de fora, eu serei vosso guia.

Sorri pela primeira vez desde que o encontrei.

- Por que levou tanto tempo para chegar?

- Demorou pra te achar - ele sorriu segurando a minha mão em cima da mesa. Retribui o sorriso apertando a sua mão em um sinal de apoio e confiança.

Um braço foi posto sobre os meus ombros e Yuri se sentou ao meu lado.

- Esse é o Mayã do nude? Cara, até eu daria pra você.