Capítulo 04. 🌲🖤🌲

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A NOITE ESTAVA SILENCIOSA DEMAIS

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A NOITE ESTAVA SILENCIOSA DEMAIS. Era exatamente isso que eu precisava, me convenci. Andei de um lado para o outro no quarto; tropecei algumas vezes em algumas coisas que estavam pelo chão. Eu estava nervosa. Havia toda a tensão que se instalara dentro de mim como se fosse um alimento não digerido pelo meu estômago. Estava no meu âmago. A sensação de que havia algo muito errado acontecendo e tinha relação direta com aquele estranho objeto que aparecera no meu quarto. Esperei algum tempo até que meus pais estivessem dormindo, eu precisava ter certeza de que eles não levantaria enquanto eu saía.

Se ao menos eu pudesse contar com a ajuda de Rivana ou Uggo. Não! Eu sabia que não deveria envolvê-los nisso. Caso eu fosse descoberta, seria julgada e expurgada como acontecia antigamente com pessoas que tinham algum tipo de contato com coisas relacionadas a Eles. Jamais me perdoaria se algo desse tipo caísse sobre meus dois melhores amigos. Me livrar daquela coisa passou a ser meu maior desafio. Durante o jantar, tentei ao máximo disfarçar a ansiedade para subir ao quarto. Meu pai percebera algo diferente. Ele sempre percebia. Se o encarasse durante tempo suficiente, sei que ele seria capaz de ver a verdade nos meus olhos.

— Eu vi o trabalho que fez hoje na nossa horta – ele disse. Sempre tinha a mania de iniciar uma conversa com uma naturalidade tremenda. Seu rosto estava com marcas da exposição ao sol. Decidi procurar por um refúgio para olhar, não podia encará-lo nos olhos. — Você fez tudo aquilo sozinha?

— Tive a ajuda de uma galinha ou duas, mas elas logo cansaram – falei tentando desesperadamente parecer descontraída. E se ele percebesse meu esforço? — Acho que só vai precisar reforçar algumas estacas no solo.

— Farei isso amanhã cedo – ele falou, finalmente tirando os olhos de mim. — Encontrei-me com o padre Jiuse hoje. Eu já estava voltando para casa e ele disse que pretende de nos visitar.

— Oh, minha nossa! Gerard! Como vamos recebê-lo? – minha mãe empalideceu largando os talheres sobre o prato. – Tenho que preparar a massa daqueles bolinhos que ele tanto gosta. Padre Jiuse sempre os elogia tanto.

— O que ele quer aqui? – indaguei, me arrependendo da rispidez com a que a pergunta soou pela mesa. Mas isso não pareceu incomodar meu pai.

— Não sei ao certo. Ele perguntou sobre você, aliás.

Essa afirmação caiu sobre meus ombros como o peso de uma tora de lenha. Lembrei que ele puxava Rivana para conversar após a cerimônia de expurgo. Algo nisso tudo não me trazia tranquilidade.

— Seja como for, ele está cumprindo sua missão perante Deus. Está nos protegendo das criaturas – meu pai parecia ter ódio quando falava dos seres não nomeados. — Desalmados! Deixaram pelo vilarejo algumas surpresas desagradáveis.

— Que tipo de surpresas? – perguntei fingindo ao mesmo tempo ter desinteresse.

— Animais mortos. Não os nossos. Eles sacrificaram animais da floresta e deixaram pelo vilarejo em lugares distantes. Também deixaram alguns objetos que precisamos queimar.

Além da Floresta | Versão Wattys 2020Where stories live. Discover now