Capítulo 25. 🌲🌙🌲

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Nós saímos para a clareira. Rivana em meus ombros como se fosse um monte de lenha. Ela tinha despertado e chamado por mim e logo em seguida adormeceu em meus braços. Carreguei seu peso para longe daquelas árvores que agora recuavam quando passávamos. Como se temessem que a qualquer momento eu as incendiasse com o meu poder. Quando senti que estávamos longe o bastante, deitei-a sobre a neve, ela estava pálida e fria, os olhos ainda fechados como se estivesse submersa no mais profundo dos sonos. Se eu pudesse fazer algo para trazê-la de volta, teria que ser naquele momento. Pensei em Uggo. Eu consegui resgatá-lo das sombras e poderia fazer o mesmo com Rivana.

Me ajoelhei junto ao seu corpo. Eu já estava sentindo frio, pois a pena que a Sentinela me dera estava entre os dedos entrelaçados dela. Então eu precisaria trazer aquele feitiço quente para fora. Precisaria invocá-lo, mas não para destruir ou me dominar. Fechei os olhos e respirei fundo. Meus lábios estavam cortando por conta do frio. Segurei a cabeça de Rivana delicadamente, seu cabelo longo e castanho agora era opaco. Não queria pensar em seu estado atual, em minha memória, Rivana sempre sorriria e eu me apeguei a essa imagem para inundar sua mente com o feitiço de fios dourados que logo começaram a aquecer meus braços. Dessa vez, os fios passaram da ponta dos meus dedos para o corpo de Rivana. Foi como se ele já soubesse qual caminho trilhar. Ela se contorceu na neve e gemeu. Então eu ousei exigir mais. Pressionei as pontas dos dedos em sua testa e vi quando os fios se iluminaram em sua fronte. No mesmo instante, Rivana começou a se debater e grunhir, seus lábios abriam e fechavam como se ela quisesse pôr para fora o seu mais alto grito de dor. Pensei em parar ali, mas em outro momento eu teria que continuar.

- Me perdoe - sussurrei.

As lágrimas escorriam pelo meu rosto. Não queria causar dor a ela. Jamais. Eu sabia que Rivana conhecia meu coração mais do que a mim mesma e temi que um dia estaríamos distantes uma da outra. Eu não poderia perdê-la.

Quando erámos crianças, histórias eram inventadas por nós duas sobre o Expurgo realizado pelos padres quando alguém era corrompido pelo mal que havia na floresta. Às vezes, Rivana sabia muito mais do que eu, pois ouvia de conversas entre o Sr. Viggor e seus convidados os relatos sobre o que acontecia. Nem sempre ela gostava de falar sobre isso, pois sabíamos muito bem qual rumo aquele ritual tomava. O padre tentava ao máximo perante a santidade de Deus expulsar todas as sombras que haviam tomado espaço naquela vida e quando isso não era mais possível, o ritual de expurgo era finalizado com a Fogueira Santa, e toda a lenha era ofertada ao poder de Deus para que aquelas chamas purificassem aquela alma. Nós nunca soubemos o que exatamente um padre fazia e o porquê sempre falhavam em salvar uma vida condenando-a ao fogo. Se Rivana fosse resgatada por eles, com certeza esse seria o seu destino e nem mesmo o seu pai com toda a autoridade que tinha seria capaz de salvá-la.

Com meus dedos ainda em sua cabeça, o fluxo de magia que emanava de mim tomava seu corpo enquanto Rivana se contorcia na neve diante de mim. Eu sabia que ela estava sendo atacada pelas sombras, aqueles mesmos monstros que atacaram a mim e Uggo. Ela era capaz de vencê-los se eu mostrasse o caminho. De repente me vi na sua escuridão... naquela escuridão que havia lhe preenchido e senti sua aflição. Não havia como saber para onde ir. Mas eu ouvia sua voz e usei aquela magia para me guiar até Rivana. Uma trilha dourada surgiu sob meus pés, corri por ela como se aquilo fosse capaz de salvar uma vida e quando me dei conta, vi Rivana encolhida, as mãos cobrindo a cabeça e tremia terrivelmente. Eu estava em sua mente agora e eles também. Os monstros de Fridr estavam espreitando seu corpo e alguns deles a atacavam sugando de sua vitalidade. Me enchi daquele poder e pude sentir quando os fios dourados se acenderam em minhas mãos e corri contra eles. Todos se dissiparam quando uma forte explosão de luz dourada saiu de mim, e naquele momento eu estava diante dela, somente ela. Abracei-a e tentei dizer que tudo ficaria bem, mas as palavras não eram necessárias ali.

Além da Floresta | Versão Wattys 2020Where stories live. Discover now