Capítulo 18. 🌲🔥🌲

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Muitas visões e pesadelos vieram até mim

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Muitas visões e pesadelos vieram até mim. Quando acordei, logo notei que não estava na minha casa e nem mesmo meus pais estavam por perto. Minhas mãos estavam enfaixadas até os cotovelos e mal consegui mexer meus dedos. Também havia curativos nos meus ombros e pernas. Olhei ao redor, sendo agredida pela forte luz do sol que incidia diretamente contra a cama onde eu estava deitada. Eu conhecia aquele lugar. Era o quarto da Rivana.

Gemi por conta das dores excessivas ao me mover para sentar e uma pessoa apareceu para me obrigar a deitar de imediato. O rosto logo foi se tornando familiar quando minhas dores aliviaram. Era a sra. Viggor. Ela estava sentada em alguma cadeira atrás de mim que não pude enxergar.

— Fique calma, querida! — ela instruiu. Sua voz estava branda, carregada de tristeza. Naquele momento, quis sumir dali. Me senti envergonhada ao ver seus olhos tristes e preocupados, fundos e negros pelas noites em que não dormira pensando em Rivana. Noites!

Me apavorei ainda mais ao pensar na possibilidade de ter dormido por muito tempo. Era o que parecia. Tive a sensação de ter dormido por uma vida inteira e ao mesmo tempo tudo não ter passado de um único pesadelo.

— Quanto tempo eu dormi? — indaguei, a garganta ainda parecia cheia de terra seca e espinhos. Tossi.

— Uma semana, Ellaija. Você esteve adormecida por uma longa semana. Agora que acordou, precisa se recuperar e só assim nos ajudar.

— Não a encontraram? — eu sabia a resposta e me arrependi pela pergunta tola, mas era meu fio de esperança.

A sra. Viggor meneou a cabeça. Olhou para mim assumindo um aspecto ainda mais triste. Eu tive medo dos seus olhos. Ela, no entanto, se aproximou e sentou na ponta da cama. Segurou minha mão. Eu não podia sentir seu toque, mas percebi que tremia.

— Você não está segura aqui e não estará segura com seus pais. Precisa se recuperar e nos dizer onde ela está. — ela olhou apavorada para a porta do quarto, também olhei, senti como se a qualquer momento alguém fosse entrar e me queimar viva com uma tocha, dizendo palavras de expurgo. — Eles estão na floresta agora. Todos os homens e todos aqueles que chegaram a poucos dias, mas irão saber que você acordou e virão até você.

— Me desculpe por tudo isso! — implorei, apertando sua mão. Ela me encarou.

— Você não é culpada de nada, Ellaija. Não sei o que aconteceu com vocês, mas eu sinto que você nunca faria mal a eles.

— Eu os levei para a floresta — a interrompi, meu coração estava acelerado. — Eu tive a ideia de libertar aquela criatura e ele me enganou. Pensei que ele seria o filho da sra. Greta e que iriam matá-lo por uma coisa que não fez e em troca ele...

Ela me interrompeu. Pôs um dedo nos meus lábios e com um olhar implorou para que eu não falasse mais nada. A porta do quarto se abriu.

— Pedirei para que sua mãe suba em seguida. Seus pais estiveram aqui todos os dias e sua mãe só conseguiu sair daqui hoje. — ela disse, haviam lágrimas sendo contidas em seu olhar. — Ela dormiu ao seu lado todas as noites, te contava histórias. E o sr. Morven tem sido muito prestativo ajudando a procurar por Rivana na floresta. Você vai ficar bem, querida.

Alguém estava entrando e eu podia sentir sua energia. A sra. Viggor acenou para mim e saiu. Ouvi quando o cumprimentou e em seguida a porta se fechando. O ambiente permaneceu em silêncio por alguns instantes. Era quase confuso afirmar se havia mesmo alguém ali além de mim, mas havia. Ele estava ali, em algum lugar onde meus olhos não o alcançavam.

— O sol da manhã a incomoda, srta. Morven? — ele começou a dizer de repente, sua voz ecoou pelo quarto como uma explosão. Tentei controlar meu coração com o susto. — Tenho certeza de que o lugar que eu havia escolhido para a sua estadia era muito mais... escuro.

— O que faz aqui padre Jiuse?

Ele não respondeu. Apenas andou até a janela frente a mim e fechou a cortina com violência. Agora o quarto estava escurecido, apenas raios fracos da luz do dia ultrapassavam o pano espesso. Sua face estava soturna. Ele usava uma veste diferente de todas as outras. Uma capa longa e de tecido muito escuro presa por um broche de prata que não consegui discernir o que estava gravado ali. Parecia um símbolo retorcido ou uma serpente. Abaixo de nós, creio que na sala dos Viggor, veio um som agudo. Um grito. Era familiar.

— O que está acontecendo? — indaguei tentando me mover na cama. Ele se aproximou o bastante para que agora eu conseguisse ver que no seu broche de prata estava gravado uma criatura sendo esmagada pelos pés de um homem que segurava uma espada e um crucifixo. Os gritos se repetiram mais uma vez e eram da sra. Viggor.

Alguém invadiu o quarto e logo se pôs ao lado do padre Jiuse, ambos me encaravam.

— Renan, o que está fazendo? Onde está a sra. Viggor?

— Você deve estar se perguntando muitas coisas nesse momento, Ellaija, mas as respostas são tão simples e sempre estiveram tão claras — começou o padre Jiuse. Renan estava obscuro ao seu lado, usando a mesma capa e o mesmo broche, havia fúria em seu olhar de uma intensidade que eu nunca vira antes. — Neste exato momento, muitos homens do vilarejo estão se aventurando pela floresta a procura da garota que você levou consigo em seu ato heroico. Eles estão fazendo isso de modo tão admirável e cheios de bravura. Muitos deles, devo dizer que especialmente o sr. Viggor, a odeiam com todas as forças pelo o que aconteceu, culpam-na com todas as forças, mas eu não.

— Eu mesma irei resgatá-los e reparar meu erro! — falei, e no mesmo instante vi um sorriso se formando em seu rosto.

— Eu não a culpo por nada, querida Ellaija, porque você me fez um grande favor. Tudo aconteceu de um jeito ainda mais surpreendente para mim. E acredite, eu acertei a maior parte das suposições sobre as ações que você faria. Primeiro, capturamos a besta, que um dia foi filho da sra. Greta; ele estava aos arredores da casa, parecia triste, então foi ainda mais fácil.

— Vocês a mataram! Foram vocês! — cuspi, tentando com todas as minhas forças sair da cama, mas tudo ainda estava dolorido. — Você é um monstro!

— Não! Somos agentes da palavra divina e estamos agindo para que o bem da nossa comunidade prevaleça sempre. O que aconteceu com a pobre e velha sra. Greta foi uma terrível fatalidade. Deveria ter sido apenas um susto — ele disse, olhando para Renan, e logo entendi quem havia feito tudo. — Mas, você foi ainda mais cruel. Deixar a igreja vazia me pareceu oportuno diante da chegada dos meus homens, porém ainda pensei que você acharia tudo muito suspeito. Você libertou a criatura e ainda arrastou para a floresta a filha do regente desse vilarejo. Deixando tudo tão mais fácil para mim.

— Eu já disse que irei tirar meus amigos de lá e vocês irão pagar pelo que estão fazendo!

— Deixe-me dizer mais uma coisa, Ellaija: consegue imaginar o desespero que se abateu sobre o sr. Viggor quando ele soube que sua única filha estava perdida na floresta? Ele reuniu muitos homens, sem ao menos saber quais deles ainda eram leais a ele, e partiu. Devo dizê-la, não que isso vá te ajudar algum dia, que jamais se deve escolher um aliado para enfrentar o perigo sem antes ter noção de onde ele está — dizendo isso, acenou para Renan que se aproximou de mim com cordas grossas. — Se eu estiver certo, neste exato momento, o sr. Viggor está sangrando na floresta assim como seu amado pai, que estava ao lado dele. ainda iremos conversar muito, querida. Sugiro que descanse mais um pouco.

Afastei Renan de cima de mim e avancei contra ele ignorando toda a minha dor. Gritei quando consegui alcançar sua garganta e apertei-a com toda a minha força. Eu podia sentir a força negra subindo pelas minhas costas me dando ainda mais poder. Vi seus olhos cheios de medos fixos aos meus enquanto estava sufocando e suas veias saltadas, mas Renan agiu dando uma pancada na minha nuca que não me desacordou por completo; perdi completamente o controle sobre meu corpo e desabei tentando expelir a dor pela minha voz que estava presa na garganta.  

Além da Floresta | Versão Wattys 2020Where stories live. Discover now