Capítulo 28. 🌲🌙🌲

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Às vezes quando você cai e não consegue se levantar sozinha, você espera que apareça alguém que te estenda a mão. Uma possibilidade de se reerguer. Mas naquele momento, não havia ninguém para me salvar, porque todos lutavam. Com meu rosto na neve, vi Rivana e o padre Jiuse ainda lutando. Ele sangrava em uma perna e mancava, mas não parecia abatido. Ela parecia invencível, coberta de neve e lama com alguns ferimentos causados pela espada dele. Eu gostaria de poder me dividir em duas ou mais e assim ajudaria a cada um deles. Aos faunos que morriam por espadas e lanças, fadas que eram derrubadas enquanto voavam, os lobos que perdiam suas cabeças e os gigantes que caiam com um grande estrondo e tremor, aqueles seres que eram esmagados ou aniquilados... Todas aquelas mortes estavam me causando uma dor profunda e haviam vozes dentro de mim que invocavam a mais feroz das fúrias e o poder mais destruidor.

E eu ainda estava no chão sem conseguir me mover. O golpe que recebi havia tirado minha capacidade de me mover ou falar, mas senti que logo estava retornando para mim. Seres feitos de sombra estavam ao meu redor, eles mudavam de forma e tamanho, como acontecia nos meus piores pesadelos. E Fridr agachou-se próximo a mim, senti seu odor violento e velho, semelhante a casca de uma árvore morta e molhada. Ele esticou sua mão esquelética sobre minha cabeça e tirou meu cabelo que cobria minha orelha:

– Quão cruel você consegue ser, filha da floresta? – ele perguntou-me. Tentei me mexer e me afastar dele, mas meu corpo estava preso em algum tipo de encanto. – Há mais corpos no chão coberto pela neve do que se pode contar e a batalha continuar até o último cair. Quão cruel você consegue ser?

– Você está causando isso! Os únicos seres cruéis aqui são esses homens a quem você se aliou para destruir aqueles que tem o mesmo sangue que o seu – consegui murmurar.

– Deixe-me te mostrar algo!

Fridr usou um feitiço que me fez ficar de pé, levitando pouco acima do chão. Encarei seus olhos repulsivos e eles me encaravam de volta.

– Você deixou que ele te expurgasse? Por quê?

Em seu silêncio, ele se moveu muito próximo a mim e começou a murmurar palavras que eu nunca tinha ouvido como uma cantiga das profundezas da floresta. E o seu corpo começou a se transformar. Sua pele estava quase branca demais assumiu tons de verde como quando nos encontramos pela primeira vez e a sua transformação continuou. Notei que seu corpo mudava conforme as estações. E isso me explicava o motivo de ele estar com tons cinzas e frios durante o inverno. Quando assumiu sua pele de verão, consegui ver nele uma beleza que me inquietava e ao mesmo tempo me instigava a olhar mais. Fridr poderia ser uma bela criatura, imaginei, mas a sua corrupção e artes malignas o tornava horrendo e decrepito, ainda que fosse um ser de poderes desconhecidos. E então ele voltou a sua aparência de inverno, frio e ainda mais soturno, como se estivesse doente:

– Eu quero muito mais do que você possa imaginar, filha da floresta. Há coisas inimagináveis que se escondem na escuridão.

– Nada que se esconde em escuridão pode ser lançado na luz sem que traga horror. Você não pode matar a todos dessa maneira!

– E você não pode salvá-los! É só uma garota feita de carne e cheia de sentimentos contraditórios. Você toma as decisões erradas sempre e todos a sua volta sofrem ou morrem por isso. Eles escolheram o lado errado quando não me permitiram fazer parte da memória verde!

– Porque você queria o caminho errado!

– E quem te revelou isso? As visões destorcidas das árvores e as vozes de seres antigos e mortos? Eu nunca desejei mais do que pudessem me dar. Mas o medo deles me fizeram conhecer outra magia, aquela que sempre existiu, mas que nunca foi mencionada nem por ela mesma. E ela se revelou para mim e deu-me tudo o que eu pudesse querer. O conhecimento do que está nas sombras.

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