Capítulo 17. 🌲🔥🌲

1.6K 263 43
                                    

Havia um sentimento de fúria crescendo em mim, mas nada semelhante ao brilho dourado

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Havia um sentimento de fúria crescendo em mim, mas nada semelhante ao brilho dourado. Eu não sentia nada além de frio ao encarar aquele ser. Uggo e Rivana estavam fora do meu alcance, eu não podia vê-los nem ouvir suas vozes. Pela primeira vez, eu estava desejando sentir aquela força dentro de mim, queimando por dentro. Eu queria que aquilo nos ajudasse a escapar.

Ouvi estrondos contínuos atrás de mim. Toda a floresta estava se movimentando, formando uma prisão da qual seria impossível escapar. As árvores iam se unindo uma a uma, fechando todas as trilhas. Ouvi uma risada que mais parecia gritos desafinados, era a criatura que nos enganara. Eu não conseguia vê-lo, mas podia sentir que estava se movimentando em algum lugar. Enquanto isso, aquele ser feito de escuridão ainda me encarava. Durante muito tempo, busquei fugir dos seus olhares, mas as raízes estavam se apertando nos meus tornozelos e pulsos, me agitando no ar. Ele ainda não havia dito nada, mas o terror que era a sua figura me fazia ter ódio e repulsa. Lágrimas estavam escorrendo pelo meu rosto e eu só conseguia pensar nos meus dois amigos.

Fridr apareceu atrás do ser feito de sombras e estava encurvado, ele o temia, mas parecia ter uma veneração ao mesmo tempo que o fazia baixar a cabeça.

— Senhor, tudo está feito como me ordenou — ele disse. Olhei-o com desprezo. Eu o havia libertado para que não fosse morto e em troca, ele me traiu. — O que devo fazer com os outros dois?

Lutei com as minhas forças para me libertar das raízes, mas a força que elas investiam em mim era duas vezes maior. Senti meus ossos estalando. O ser de sombras se voltou para Fridr e falou algumas palavras que não pude entender. Eram sussurradas e sua voz era ainda mais antiga, como se a morte pudesse falar. Em seguida, Fridr deu alguns saltos e desapareceu. Rivana e Uggo gritaram atrás de mim, mas tão depressa eu já não os ouvia mais. O desespero estava me consumindo. Ele olhou para mim novamente, com seus olhos que transmitiam frio e medo. Eu lembrava daquela sensação. Ela estava comigo desde a minha infância. Nos meus pesadelos. Muitas vezes sonhava com lugares desconhecidos da floresta, onde eu caminhava sozinha e logo me sentia observada por muitos olhos; a sensação ia aumentando e eu sabia que muitas criaturas estavam por entre as árvores, esgueirando-se pelos lugares mais escuros e fugindo do meu campo de visão, mas eu não podia fugir deles. Então toda a sensação piorava quando algo mais frio e tenebroso se movimentava na escuridão da floresta nos meus sonhos. Era ele. As sombras se moviam e iam se abraçando, ganhando tamanho e formas assustadoras. Não ter domínio sobre meu próprio corpo era uma das coisas que me fazia gritar desesperada até acordar.

Apesar de ter a certeza de que eu estava acordada, tudo ao meu redor tinha a essência mórbida dos meus antigos pesadelos. Quanto mais lutava para fugir, mais fraca me sentia. Desejei com todo o meu ser que aquele estranho poder que me fizera libertar Tori da gaiola voltasse até mim; que me incendiasse por dentro e iluminasse minhas veias com seu brilho dourado, mas o poder não veio até mim.

As palavras que saíam daquele ser diante de mim eram impossíveis de se compreender, mas elas faziam algum sentido. Aos poucos foram aparecendo mais outros seres obscuros; eles brotavam do chão ou surgiam de lugares que eu não conseguia enxergar e começaram a nos rodear em um círculo gigante. As raízes se afrouxaram em torno de todo o meu corpo e caí no chão. Procurei por Rivana e Uggo. Ambos haviam desaparecido e Fridr também não estava ali. Uma sombra me envolveu, fazendo-me levantar.

Além da Floresta | Versão Wattys 2020Where stories live. Discover now