Capítulo 10. 🌲🖤🌲

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EU QUERIA ACHAR UMA FORMA DE PARALISAR O TEMPO

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EU QUERIA ACHAR UMA FORMA DE PARALISAR O TEMPO. Iria fazer ele parar exatamente ali, no momento em que nós três nos vimos, mas ainda não estávamos tão perto. Se eu pudesse fazer isso, manteria aquela chama dentro de mim por mais tempo. Era a visão perfeita para os meus olhos. Os cabelos dourados de Rivana sob aquela luz do entardecer, um castanho amadeirado que era só seu. Havia vida e cores no seu modo de agir e aquilo me deixava entorpecida. Uggo e seu sorriso tão carinhoso, das únicas pessoas que eu conhecia que era capaz de me desmontar apenas ao sorrir. Nunca cheguei a duvidar de que ele tinha uma luz dentro de si que o fazia superar todas as suas batalhas. Algumas vezes cheguei a dizer-lhe isso e ele retribuía com mais sorrisos e as bochechas coradas. Eu jamais poderia esquecer como seus olhos tão belos sorriam também, era uma harmonia. Eu os amava.

Os dois vieram em minha direção nos últimos passos e nos abraçamos por longos segundos. Meu coração palpitava de uma emoção que há muito sentia falta. Aquilo estava afastando toda a escuridão que estava vivendo nos últimos dias. Eles eram minha luz. Um céu estrelado que eu poderia esticar as mãos e tocar.

— Finalmente nosso dia chegou – disse Uggo, sorrindo. — Achei que eu já teria barba e esse dia não chegaria.

— Para mim também demorou muito – completou Rivana.

— É bom ter vocês comigo – eu disse, soltando essa frase, senti um peso saindo dos meus ombros. E eu sabia que ainda não era tudo. De repente quis me derramar ali, dissolver-me. Dizer a eles tudo o que estava acontecendo, mas eu ainda não tinha certeza se deveria fazer isso.

Sentamos os três de frente para o rio, observando a curva que ele fazia bem distante sendo engolido pela Floresta. Vi alguns peixes emergindo para devorar libélulas que pairavam quietas sobre a água. Me imaginei naquele momento, como uma libélula. Eu estaria quieta, as asas tão finas esticadas para secarem e então eu estaria distraída. Um peixe viria das profundezas do rio e me engoliria. Voltei para a realidade com um beliscão. Era o Uggo.

— Você por acaso trouxe a Ellaija aí dentro? – ele perguntou, ácido e sarcástico. Eu gostava desse seu lado também.

— Me desculpem, eu ando um pouco perdida ultimamente – falei, baixando a cabeça para evitar encará-los. Eu não queria falar nada por minha iniciativa e sabia que se um deles perguntasse o que estava acontecendo, eu iria desabar de vez.

— Todos nós estamos perdidos, Aija – falou Rivana. Sua voz era branda e parecia uma melodia vinda de outro lugar, mas que ali, naquele momento, era tudo o que eu precisava. — Por isso estamos aqui, para podermos nos achar.

— Ela tem razão. Mas se você não se achar, eu dou um jeito em você rapidinho – completou Uggo. Seu tom de voz havia mudado, como se tentasse pedir desculpas pelo último comentário sem necessariamente dizer isso.

Ficamos os três em silêncio. Apenas o silêncio. Era assim que fazíamos até que um de nós cedia e seria o primeiro a desabafar e depois o outro e o outro. De todas as vezes que nos reunimos no rio Nê, naquele tipo de reunião, era a primeira vez em que eu me sentia completamente despreparada para falar algo. Olhei para a linha do horizonte, alaranjado e deveria ser quente por lá. As árvores farfalhavam levemente, quase paralisadas. Respirei fundo. Sabia exatamente o que estava temendo. A descrença. Eu queria contar tudo a eles de imediato, mas temia que não acreditassem em mim ou contassem tudo ao padre Jiuse. Isso fez meu estômago embrulhar. Eu jamais havia duvidado dos meus amigos. Meus únicos amigos. Eles sempre estiveram do meu lado. E era isso; todo o terror que eu havia presenciado nos últimos dias estava me afastando deles de uma maneira soturna, aos poucos.

Além da Floresta | Versão Wattys 2020Where stories live. Discover now