Capítulo 09. 🌲🖤🌲

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PELA PRIMEIRA VEZ, EU ESTAVA EXPERIMENTANDO UM SENTIMENTO TÃO AMARGO, QUE MAL PODIA DESCREVÊ-LO

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PELA PRIMEIRA VEZ, EU ESTAVA EXPERIMENTANDO UM SENTIMENTO TÃO AMARGO, QUE MAL PODIA DESCREVÊ-LO. Ter medo de quem amamos é um dos piores sentimentos que pode crescer dentro de nós. Era isso que eu estava provando. Como um veneno ácido descendo pela minha garganta impiedosamente. Tudo aquilo estava me causando dores no corpo. Era a sensação de aprisionar o medo. E o quanto antes eu precisava tirar aquilo de mim.

Quando acordei, os pensamentos relacionados a minha mãe na floresta vieram de uma só vez. Assim como tudo o que tinha acontecido. Alguém estava esperando apenas que eu acordasse para poder jogar sobre os meus ombros tudo aquilo. No café da manhã, tive que suportar as broncas do meu pai, não foram poucas, mas não dei atenção para nenhuma delas. Nem mesmo se eu quisesse. Por alguns instantes, enquanto minha mãe e meu pai discutiam sobre os castigos que eu merecia receber, comecei a ver que havia algo de errado. Algo que eu nunca havia sentido antes. Naquele instante, me senti fora dali. Como se não pertencesse àquele ambiente e uma estranha sensação de que eu não os conhecia mais me acertou em cheio, me fazendo querer vomitar o que ainda estava na minha boca. Fiz menção de levantar da mesa, mas meu pai me impediu:

— Você não vai a lugar algum! Ainda não terminei com você.

— Deixe-a ir — interveio minha mãe. Eu não queria mais olhar para nenhum dos dois. Não por odiá-los, mas por odiar aquele estranho sentimento de não pertencimento que estava me sufocando. Eu estava com vergonha daquilo.

— É por causa desse tipo de coisa que ela anda fazendo esses erros absurdos! Até quando você vai defendê-la?

— Pai – gritei. Talvez mais alto do que pretendia. Minha cabeça estava repleta de imagens confusas. Sombras. — Eu já sei o que devo fazer, tudo bem? Eu ouvi tudo o que me disse e não sairei de casa até que me permitam – eu estava mentindo. — Irei cumprir o castigo desta vez. Prometo – mais uma mentira. — Posso ir para o meu quarto? Não me sinto disposta.

— Eu ia pedir sua ajuda com uma coisa. Mas, ji pode ir. – Ele disse. Havia decepção na sua voz. Eu conseguia senti-la.

Quando virei as costas, estava tremendo. Aquele mesmo veneno estava me matando por dentro.

— Só saiba que tudo isso é para a sua proteção! A proteção de todos nós – ouvi a voz do meu pai dizer enquanto eu subia para o meu quarto.

Tive vontade de dizer-lhe o que eu pensava sobre essa proteção tão sufocante que sempre me impuseram. Desde criança vivi rodeada de restrições, embora eu sempre acabava dando meu jeito de passar por cima delas, eu sabia que elas existiam e estavam me cercando como um arame farpado limitando até onde um rebanho pode ir. Era assim que eu me sentia desde sempre. As coisas pioraram muito quando o filho da sra. Greta foi levado. Eu deveria ter apenas meses de idade quando a tragédia aconteceu e cresci, assim como as outras crianças, ouvindo essa história como um alerta. Era o nosso conto de assombração. Se uma criança era mal comportada, era logo lembrada do que acontecera com o menino de Greta e assim, alguns pais chegavam a levar seus filhos na casa da mulher e ela sentava ao pé da lareira e amargamente relatava tudo. Eu só me perguntava o quanto uma pessoa poderia mastigar sua própria dor apenas para poder assustar os outros. Era isso que a sra. Greta fazia; sempre que falava sobre como seu menino fora capturado por uma terrível criatura, ela chorava e se tornava mais e mais cinza e sem brilho, mas ainda assim, seguia fazendo isso.

Além da Floresta | Versão Wattys 2020Onde as histórias ganham vida. Descobre agora