Capitulo II - O anjo terrestre e o pequeno querubim

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Hipnotizados talvez pela beleza da mulher ou pela atmosfera surreal do lugar, os dois rapazes davam passos lentos enquanto entravam. Matheus então sentiu um frio na espinha, a presença de um instinto assassino. Esticou o braço até segurar no ombro de jovem loiro que se assustou ao toque mostrando também sua sensibilidade ou temor.

"Tem mais alguém aqui, corremos perigo" Murmurou Matheus ao ouvido de Daniel.

"Agora é tarde para querer voltar, Seja o que for que esteja aqui não tem bons planos para essa mulher ou para aquela garotinha que nos chamou".

Matheus o soltou, compreendera toda a sua investida naquele lugar tenebroso. Parou de caminhar e apenas observava a aproximação dele até a mulher quando se assustou quebrando a apatia ao ver algo que estava ali o tempo todo sem ser notado em meio às cortinas vermelhas dançantes. A esquerda do desatento Daniel, uma criatura permanecia estática, sem qualquer movimento confundindo-se como um objeto qualquer do cenário, enganando a percepção, mas agora revelada aos olhos negros de Matheus.

Um ser de aparência humanóide, cuja pele tinha tom de mármore, braços erguidos e mãos que terminavam em longos dedos semelhantes a facas. Sua expressão era macabra, olhos de besta e uma pele facial distorcida. Sua boca aberta tinha presas finas como as de morcegos e estava ali como uma estátua hostil de um gárgula desprovida de vida, mas que ameaçava se lançar a qualquer momento em um ataque e ainda sim passava despercebido aos sentidos.

Matheus não sabia o que fazer, Daniel estava completamente a mercê daquela criatura, estava praticamente ao toque de suas garras. Por um momento pensou que aquilo não era vivo apenas uma estátua ou boneco, pois estava ali estático sem se mover um milímetro sequer no mais absoluto silencio, quando um sutil movimento se fez e as orbes da criatura fitaram Matheus.

"Daniel!" Matheus gritou e correu na direção da criatura na intenção de derrubá-la antes que ferisse o rapaz distraído.

A criatura se moveu velozmente e se colocou entre os dois, calculando a distância entre Matheus e Daniel, de modo que quando abriu os braços em um arco atingiu ambos simultaneamente cortando-os com suas garras. Matheus teve alguma chance de se proteger com os braços, mas foi inútil, pois sua pele foi cordada como que por facas e teve que recuar em um salto para trás. Daniel por sua vez recebeu o ataque nas costas e foi projetado até a janela quase que caindo para fora do casarão.

"Que doce aroma brota do sangue de vocês!" A criatura murmurou, enquanto levava as mãos até sua boca e lambia o sangue que ficara escorrendo entre suas garras.

Matheus ficou de pé e olhava preocupado na direção de Daniel para saber se estava bem. Se pegou em sentimentos confusos. Estava disposto a defendê-lo assim como ele estava em relação à mulher adormecida. Daniel por outro lado se erguia devagar sentindo a dor do ataque. Com a mão esquerda nas costas tentava conter o sangue que manchava sua camisa branca. Seus olhos estavam firmes diante do inimigo.

"Maldita criatura das trevas! Desfrute do cheiro desse sangue que é a última coisa que vai sentir de bom antes que eu purifique o mundo de sua presença". Daniel apontou o dedo para o ser humanóide que parecia entrar em êxtase ao provar o sangue.

"O que está acontecendo?" Matheus se perguntava nos pensamentos. A atitude destemida de Daniel diante de um ser misterioso que não parecia ser desse mundo lhe parecia estranha. Era como se ele já tivesse visto coisas como aquela ao ponto de não se surpreender, como se tivesse poder para enfrentá-la, uma vez que não demonstrava medo diante de um visível predador.

Entre o céu e o inferno - A gênese do fimWhere stories live. Discover now