Capítulo XIII - A mesma capa para livros diferentes

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E mais um dia se passou em Valis. A noite foi o véu de muitos acontecimentos. Muitos olhares perdidos em desejos como o elegante Simon em sua torre imponente na parte alta da cidade, muitas pessoas choraram, muitas não tiveram uma boa noite de sono como Matheus cujas perguntas gritantes em sua alma não lhe permitiram adormecer tão cedo. Daniel por outro lado dormiu bem. Sonhou com Amanda e a jovem criança misteriosa no bar do rock "caótico". Matheus apareceu em seus sonhos também, sorria de felicidade, algo que talvez só mesmo nos sonhos fosse possível. Raras foram as pessoas com bons sonhos como o de Daniel.

"Bom dia Matheus!" Daniel disse espreguiçando-se na porta do escritório.

"Bom dia". Respondeu Matheus com um cara de poucos amigos, enquanto lia filosofia em um grande livro que parecia ser um dicionário.

"Que cara é essa, ainda frustrado com a noite?".

"Não encontramos a garota e ela parecia poder me ajudar".

"Acalme-se amigo, Hoje vamos encontrá-la! Ontem estava meio tarde, era obvio que não iríamos encontrar essa Amanda no lugar. Ainda mais fechado, o que era normal pela hora. Eu acho que ficamos empolgados e nem pensamos nesse detalhe".

"Tem razão, agora só me resta esperar. Mas estou impaciente com essa situação, só posso esperar até que algo aconteça!" Matheus fechou o livro fazendo certo barulho demonstrando sua impaciência.

"Matheus vai ficar tudo bem. Vamos tomar um café da manhã nas calçadas próximas à praia. Com essa manhã bonita deve estar bem agradável lá".

"Tanto faz, só quero que chegue a noite". Disse Matheus apático e se levantou para seguir Daniel que o chamava.

Do outro lado da cidade, Amanda acordou assustada. Levantou-se com falta de ar e foi até o banheiro onde lavou o rosto ainda maquiado e ficou se olhando no espelho.

"Por que tudo isso de uma vez?" Ela se perguntava.

"Amanda? Está tudo bem?" Uma voz grossa de um homem que esmurrava a porta de seu quarto.

"Sim!" Ela respondeu aos gritos impacientemente.

"Então pare de agir como uma histérica e deixe seu pai dormir!"

"Desculpa! Agora me deixa em paz!". Ela respondeu com a mão no rosto. Estava nervosa com tantos acontecimentos que precederam sua noite de sono, contudo, o seu sonho era ainda mais inquietante e não havia com quem compartilhar naquele momento.

"Só posso esperar até que "eles" venham até mim". Disse ela enquanto abria um pouco a cortina e contemplava a raridade de uma bela manhã.

Nesse mesmo horário no centro da cidade, Simon descia sozinho no elevador de seu prédio. Enquanto esperava, ele se ajeitava olhando no espelho surpreso com sua aparência elegante e bonita para alguém com cabelos grisalhos.

"Bom dia senhor "Simon", posso lhe ajudar em algo?" Disse o porteiro gordo de pele rosada vestido com o uniforme vermelho.

"Bom dia. Não, eu não estou precisando de seus serviços, o dia parece estar bom para uma caminhada". Falou Simon enquanto colocava seu chapéu bege caminhando com seu sobretudo branco balançando pelas pequenas correntes de vento daquela manhã.

"Sim senhor, aproveite". Gritou o porteiro quando Simon saía pela porta.

Não muito longe dali, algumas pessoas passavam e admiravam um casarão antigo bem mais conservado do que a maioria na cidade sem saber que ali dentro, uma pequena discussão iniciava o dia de seus habitantes.

"Somos seres superiores, estamos destinadas a reinar!"

Uma voz alta soou pelas paredes de um casarão antigo no centro da cidade. Os sons não podiam ser ouvidos fora daquelas paredes ou mesmo pelas velhas portas de madeira.

"Estamos amaldiçoadas minha irmã, e ninguém parece perceber isso, só eu". A jovem com o vestido branco e uma blusa leve de lã rosa dizia com uma voz tímida na sala.

"Sua fraqueza me enoja! Seu modo choroso de falar, seu olhar, tudo em você é lamentável. Olhar para você é como ver uma versão medíocre de minha pessoa". A mulher com a mesma aparência física vestida com um vestido preto e jaqueta de couro falava alto com um olhar agressivo para sua irmã gêmea.

"Desculpe-me se te desaponto. Queria ser como você Talita". Murmurava a jovem triste olhando pela janela.

"Desculpas? Não tem força nem para me enfrentar! Se quiser ser como eu, pare de se lamentar, honre o poder em seu sangue". Falava Talita que parecia ficar cada vez mais irritada com a postura lamentosa de sua irmã.

"Sua irmã está certa em um ponto Dalila". Falava o homem de terno negro e aspecto mórbido ao entrar no quarto com sua bengala prateada.

"Tio Amadeu?" Surpresa, Dalila se afastou da janela e ficou de cabeça baixa.

"Vocês são superiores. Matar aquele jovem foi justo, ele comprometeu a todos nós, foi uma defesa, agora nenhum outro que testemunhou o ocorrido pensará em nos trair". Disse o senhor apoiando as duas mãos sobre a bengala. "Devemos tomar cuidado com aqueles que nos perseguem!" Completou.

"É eu sou tola. Vocês estão certos". Disse Dalila.

"E não duvide disso irmã, aquele sujeito escolheu tal destino". Falou Talita apontando-lhe o dedo.

"Sim, eu vou sair um pouco". Disse Dalila indo na direção da porta

"Aonde vai Dalila? Não é seguro se distanciar de sua irmã". Falou Amadeu quando ela passava ao seu lado.

"Vou aos rochedos, gosto de lá. Me sinto melhor quando fico observando o mar e hoje eu não me sinto bem, preciso relaxar".

"Não é..." Amadeu tentava adverti-la quando foi interrompido por Talita.

"Deixe Amadeu, se ela precisa tomar "um ar", prefiro correr o risco a aturar ela reclamando futuramente que não tem "espaço" ou liberdade".

Obrigado irmã não vou demorar. Dalila falou com um sorriso enfraquecido.

Amadeu e Talita se olhavam sérios e em silencio até que os passos de Dalila já não se podiam ouvir.

Dalila está se tornado insuportável. Temos um poder incrível e ela não percebe. Disse Talita para Amadeu quando percebeu que sua irmã já estava longe.

Ficou abalada com o castigo que demos a aquele traidor?

Não chegou a comentar, mas por qual outro motivo ela ia estar daquele jeito?Aposto que ficou com peso na consciência ou algo assim. Disse Talita enquanto pegava um copo e abria uma garrafa de rum.

É... Dalila não é forte como você. Evite humilha-la, a última coisa que precisamos é que vocês estejam brigadas, isso pode comprometer o poder de vocês. Respondeu Amadeu que observa pela janela a jovem Dalila saindo pela frente do casarão.

Eu sei, por isso mesmo permito suas regalias. Falou Talita ao beber de uma só vez o conteúdo do copo.

Vou mandar uns "fiéis" acompanhá-la. Amadeu disse com um olhar intrigante.

Entre o céu e o inferno - A gênese do fimWhere stories live. Discover now