Capítulo IX - O culto ao espírito fragmentado

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"Como conseguiu a grana para comprar o carro?"

"Não se preocupe com isso".

"Como não? Você estava afundado em dívidas.Está há meses querendo ajuda do culto para resolver esses assuntos materiais e agora me aparece com um carro?"

Discutia o casal de aspecto oriental em um carro novo que atravessava a cidade pelas ruas chuvosas ao anoitecer em direção ao antigo cinema da cidade que veio a falência com tantos recursos da modernidade. As transformações acontecem muito rápidas, por um tempo ele foi uma igreja evangélica, mas hoje é só um lugar abandonado ao tempo que corroeu suas paredes com mofo e rachaduras. Misteriosamente ele continua de pé, sem invasores. Velho e feio entre tantos edifícios belos e modernos, separados apenas por jardins mal cuidados e envelhecidos.

"Tudo bem! Eu falo! Mas se prometer não me "encher" o saco!". O rapaz estaciona o carro em uma rua adjacente ao antigo cinema junto a tantos outros veículos.

"Fala logo!"

"Um cara que parece ser cheio da nota veio até mim e me ofereceu grana..."

"A troco de que?" Ela falava enquanto tirava o cinto de segurança e expressão preocupada.

"Que falasse do culto para ele". Ele disse baixando a cabeça temerosa com a reação da namorada.

"Você está louco! Se "ele" descobrir? pior! Se "elas" descobrirem! Estamos mortos! Como pode ser tão burro? Eles devem ver e saber de tudo! Não podemos entrar hoje. Vamos embora temos que sair da cidade!" A jovem gritava colocando o cinto novamente.

"Calma! Não vai acontecer nada, e não posso ir embora, hoje eu tenho que descobrir mais sobre o senhor Amadeu..."

"Você está louco! E quanto ao mestre "Beseleel", ele pode estar nos ouvindo agora!"

"Fica calma, não tem nada errado, fizemos isso muitas vezes e sequer eles olharam na nossa cara. O homem falou que se eu descobrisse algo importante ele me daria mais dinheiro, ele não estava brincando, tu tinha quer ver a naturalidade dele quando colocava dinheiro na minha mão".

"Você está brincando com fogo! Pior! Com fogo do inferno!" Ela dizia alterada com as mãos sobre a face chorosa.

"Fica aqui então, me espera?"

"Por favor, não vá!"

"Vai dar tudo certo, com a grana poderemos realizar um sonho seu". Ele disse piscando o olho e descendo do carro.

O jovem seguiu a calçada de baixo da chuva gelada, olhou para o carro uma ultima vez e viu o rosto de sua namorada. A água que escorria pelo vidro distorcia a imagem, mas o lembrava do choro e da preocupação dela, quando entrou pela porta que dava acesso a entrada do cinema ele parou por um momento, ficou em duvida se valia o preço arriscar com forças que ele desconhecia até hoje depois de meses frequentando as cerimônias.

"Algum problema meu jovem?"

A voz que surgiu do meio da escuridão assustou o rapaz e seu coração acelerou. Quando olhou viu a figura de Amadeu o velho que administrava tudo o que tinha relação com o culto; Seu terno negro mórbido o fazia parecer um agente funerário; O cabelo grisalho e escasso lembrava teias de aranha na escuridão do lugar; Os passos se confundiam com as batidas de sua bengala que trazia na ponta o símbolo de "Beseleel", dois anjos abraços sendo que cada um só possuía uma asa que encobria metade de seus corpos.

"Senhor Amadeu? O senhor me assustou... Eu esqueci o manto, vou buscá-lo". Disse o jovem disfarçando o seu terror interno.

"Não se preocupe com isso temos alguns reservas. Não há necessidade de se molhar mais nessa chuva tão fria, que foi encomendada pelo nosso mestre. Ele não quer que ela prejudique a saúde de seus devotos". Disse Amadeu pegando o jovem pelo braço e levando-o até o centro do lugar.

Entre o céu e o inferno - A gênese do fimWhere stories live. Discover now