Capítulo XXIX - O Início

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"Desperte Matheus, Matusa'el... desperte..."

"Quem são vocês?"

As vozes na mente de Matheus não respondiam seus apelos, na escuridão de sua mente. Ele flutuava em um abismo infinito de trevas quando pode ver com olhos embaçados um céu estrelado sobre sua cabeça.

"Onde estou? Acordei daquele sonho?" Ele se perguntou e de repente as estrelas que brilhavam como olhos na escuridão começaram a cair flamejantes em um espetáculo de cores. À medida que seus olhos recobravam o foco, Matheus percebeu que não eram estrelas, eram destroços.

"Você está bem?"

A voz ainda doce embora preocupada fez com que Matheus recobrasse a consciência plena. As mãos quentes de Hellen lhe tocaram o rosto e ele a viu sobre seu corpo como um anjo gótico.

"Vamos!"

A voz grossa despertou os sentidos de Matheus como um trovão e ele pode ver Killer sobre ele e Hellen. A fera imponente suportava as chamas em suas costas com vigor e Matheus pode ver que não havia morrido, que não havia despertado de um torpor, que tudo aquilo que vivera até então, não era um sonho.

"Não pode ser..." Murmurou o demônio de Dalila ao ver que entre as colunas de fogo e cortinas de fumaça a imensa fera que Killer se transformava guardava o corpo ainda vivo de Matheus.

"Maldito! Fiquem juntos então e morram em uma única fogueira infernal!" Amaldiçoou o demônio invocando as chamas sobre si e arremessando-as em seguida como lanças ardentes na direção de seus inimigos.

"Matheus!" Gritou Daniel caindo diante do grupo que era alvo dos ataques. Invocou sua arma sagrada se enchendo de luz que acabou cegando Dalila que sem poder mirar, desperdiçava seu poder.

Killer avançou passando do lado de Daniel, ergueu os dois punhos no ar e em seguida bateu no chão desencadeando uma onda de tremor que foi até Dalila e sua irmã. A força daquela investida junto à luz de Daniel que cegava os olhos do demônio, foram capazes de atordoá-lo ao ponto de Dalila soltar a mão de sua irmã.

"Desgraçados! Uniram-se contra mim!" Esbravejava "Beseleel".

"E vencemos..." A repentina voz de Matheus soou ao ouvido de Dalila que com olhos arregalados olhou para ver onde estava seu inimigo.

Matheus havia voado junto com a onda de tremor da fera e a luz de Daniel até as irmãs. Aterrissou entre elas e abrindo os braços, apontando as mãos para cada uma, as separou com o poder de sua mente, arremessando violentamente o corpo de Dalila contra os escombros em chamas do helicóptero, enquanto Talita ainda inconsciente rolou pelo chão até os pés de Killer.

"Matheus não!" Gritou Daniel ao se atirar na direção de Dalila e resgatá-la das chamas antes que morresse ali.

"Por que não?" A pergunta e a expressão apática de Matheus assustaram Daniel.

"Porque não somos como ela... Nós somos os mocinhos lembra?". Disse o anjo trazendo a garota inconsciente em seus braços. Dalila agora era apenas uma mulher indefesa e ferida.

"Mas senão a destruir, verá o espírito de "Beseleel" novamente anjo e consigo trará vingança e mais mortes". A voz grossa de Killer passou aos ouvidos de Matheus de maneira significativa antes de atingirem Daniel e sua atitude angelical.

"A ordem da Espada de Miguel cuidará para que isso não aconteça, sangue gera sangue..." Respondeu o anjo a direita de Matheus para o demônio vermelho a esquerda dele.

Antes que Matheus abrisse a boca para falar qualquer coisa, Amanda se aproximou aflita. Suas mãos juntas lembravam uma oração. Seus olhos emocionados derramavam lagrimas de alegria e alívio. Tanto Daniel quanto Matheus estavam vivos. O destino revelado em seus sonhos havia sido alterado.

"Mas nada muda Killer!". A voz de Sebastian ecoou na ponte e ele saiu detrás de alguns destroços em chamas, havia testemunhado tudo.

"Sim, nada mudou... Ainda é um patético membro de uma ordem cega..." Respondeu Killer voltando a sua forma humana.

"Chega de guerra por hoje..." Murmurou Daniel fechando os olhos cansados e tristes. Tudo aquilo havia sido desgastante em todos os sentidos para ele. Não sentia ódio por Killer e seus atos, apenas tristeza pela morte desnecessária de Simon em nome de um falso amor.

"A guerra nunca acaba. É ela que dá vida às coisas. Hoje eu tenho uma dívida eterna com você Matheus, eu estarei ao seu lado quando precisar... Disse Killer abraçado por Hellen que sorria. Mas agora é hora de partir..." Completou o Nefilin ao ver os soldados feridos de Sebastian que começavam a se levantar.

"Adeus Matheus... Obrigado..." Disse Hellen acenando com a mão como uma criança feliz antes de seguir seu irmão Killer e desaparecer entre o fogo e a fumaça.

Matheus olhou para Daniel que após alguns segundos sorriu. Seus olhos azuis cheios de vida eram confortantes. Amanda chegou entre eles e os abraçou simultaneamente. O calor daquele sentimento era mais significativo do que aquele propagado pelas chamas ao redor.

"Acabou..." Disse ela com olhos fechados e um sorriso encantador.

"Não Amanda, isso é o começo... "Respondeu Daniel olhando para seu amigo.

"O começo de uma vida para mim..." Disse Matheus. Estava consciente da veracidade daquela realidade, de sua existência, de sua vida.

"Para nós..." Disseram Daniel e Amanda.

E o tempo passou como tinha que ser, curando as feridas e levando o esquecimento ao coração dos homens. Dalila e Talita não se veriam nunca mais enquanto a ordem da Espada de Miguel as vigiasse. Já a cidade de Valis estava livre de seu demônio interior e não se lembraria mais delas. Daniel cumpriu seu objetivo ali, Amanda descobriu que seus sonhos não eram fatalidades de um destino trágico e que seus novos companheiros tinham o poder de alterá-lo. Matheus havia despertado para uma nova vida, cujo futuro era tão obscuro quanto seu passado, Mas não havia medo em seu coração e tudo o que ele tinha era seu amor por Amanda, a amizade de Daniel e a dívida de Killer...

E foi assim que tudo começou.

Eu despertei do sono sem passado,

Sem uma vida...

Ganhei Daniel, um amigo, um anjo, meu anjo,

Conheci Amanda, um amor, meu amor.

E de um inimigo ganhei admiração,

E uma amizade inesperada, Killer, meu demônio...

Que estaria ao meu lado dali em diante;

Ele estava certo,

A guerra dá vida às coisas,

Foi ela que me deu uma vida,

E agora eu estou aqui,

Entre um anjo e um demônio...

Entre o céu e o inferno...

Entre o céu e o inferno - A gênese do fimDär berättelser lever. Upptäck nu