Capítulo XIX - As peças no tabuleiro

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A noite estava chuvosa e muito mais escura do que o de costume em Valis, Na imensa ponte que dava acesso à cidade, um comboio de dois carros luxuosos e dois grandes caminhões negros atravessavam entre vários veículos com seus faróis intensos pela estrutura arquitetônica que era um dos cartões postais da cidade.

"Consegue sentir isso?" Perguntou o forte rapaz ruivo de paletó branco que dirigia o carro à frente da comitiva para seu parceiro cujos olhos refletiam as luzes da cidade.

"Sim, esse lugar está infestado do mal. Não à toa que mandaram a gente e um dos artefatos para ajudar o irmão Simon". Respondeu o homem de cabelos longos e loiros amarrados em um rabo de cavalo.

"Não acha muito arriscado?"

"Sim, mas Simon merece o voto de confiança. Realizou tantas coisas que me parece justo concederem esse privilégio, afinal ele vai largar o trabalho de campo em breve,.Faz sentido".

"Entendo. Não o conheço, mas ouvi muito sobre ele. se autorizaram a dádiva de um artefato tão importante quanto a Esmeralda de Rafael, é porque ele tem muita moral com a ordem". Concluiu o sorridente ruivo, mas o companheiro permaneceu sério.

Naquele mesmo momento, do outro lado da cidade em um bairro decadente, um homem forte de cabelos vermelhos tomava uma dose de rum e fumava seu cigarro diante da janela que dava de frente para a vista. Mesmo que de longe, do centro da cidade, seus olhos focalizavam o prédio de Simon que mesmo tão pequeno pela distância, se vazia visível entre os demais arranha-céus.

"Falta pouco..." Ele disse com um olhar malévolo e determinado.

"Acha que pode dar conta Eric?" Uma voz doce revelou a presença de uma criança na escuridão do apartamento.

"Até parece que não me conhece, ganhei o nome de Killer não é para menos". Ele respondeu dando um longo trago, seus olhos brilharam como a ponta do cigarro.

"Pode ter mais gente envolvida além dos templários". Falava a criança ainda na escuridão.

"Pouco provável que haja algum desafio para mim nessa cidade, o melhor deles não tem a menor chance". Killer bateu o copo vazio sobre a mesa velha encostada na parede.

"E quanto ao anjo que eu vi?" Tinha outro alguém com ele também. Acho que deveria se preocupar um pouco com eles.

"Quando os anjos me encontram, eles conhecem o medo, eles rezam para deus..."

No céu repleto de nuvens pesadas, começava um espetáculo de luzes. Os relâmpagos cortavam os céus e o som dos trovões parecia fazer a terra tremer acordando Dalila que dormia sobre o sofá de sua sala. Ela ajeitou o vestido branco e ao sentir frio colocou uma blusa de lã azul de botões abertos. De repente o telefone tocou simultaneamente com outro trovão, Dalila olhou para os lados para ver se Talita ou Amadeu estavam por perto e correu para atender.

"Alô?"

"É o Simon..." A resposta no telefone fez brotar um sorriso na face da garota.

"Está chegando, eu vou te buscar!" Disse Simon com sua voz séria, Dalila ficou apreensiva e voltou a olhar para os lados na busca por alguém que poderia estar vigiando suas ações.

"Não! É perigoso, estou indo..". Respondeu Dalila que continuava olhando para os lados com a face levemente paranóica.

"Estou te esperando meu amor. Logo tudo vai acabar..."

"Obrigada, obrigada por tudo..." Disse Dalila. Sua voz e expressão eram as mais puras possíveis.

"Apenas venha.. Vamos acabar logo com isso".

"Sim, estou indo. Beijo".

Dalila colocou o sobretudo negro de Talita para suportar a noite gelada e sem avisar ninguém, partiu pela escuridão a fora.

Quando a chuva cessou, Thomas saiu de seu carro que estava estacionado em frente ao prédio de Simon e foi comprar um café. "Droga de instinto de detive!". Pensou. Estava ali sem saber o porquê, e ficaria ali pelo resto da noite simplesmente porque achava que algo iria acontecer.

"Hey parceiro!". Nicolas chegou descendo de um táxi. Com uma mão tentava segurar sacolas engorduradas e a carteira e com a outra pagava a corrida.

"E então?". Thomas perguntou e ficou feliz sem demonstrar ao ver que Nicolas trouxe comida de uma lanchonete qualquer.

"Bem, o "japa" desapareceu, mas é cedo para falar qualquer coisa. Ele saiu com o carro e estava com a noiva, segundo os depoimentos que coletei".

"Bom trabalho Nicolas. Vamos... Estou de vigia". Disse Thomas.

"Deixa-me adivinhar, o cara mentiu para você?". Perguntou Nicolas entrando do lado do carona no carro de Thomas.

"É, e pelo modo que estava aflito, está esperando algo, e nós vamos descobrir o que é..." Disse o detetive Thomas com seu olhar determinado.

"Chegamos!" Disse Daniel parando o carro.

"Essa ordem tem dinheiro". Comentou Amanda ao ver o prédio luxuoso onde Simon ficava.

"Eles têm patrocinadores". Disse Matheus com ironia, mas só Daniel entendeu do que ele falava.

Quando desceram do carro, Amanda chamou a atenção de Thomas. Ele não esquecia rostos e lembrou da talentosa garota, mas guardou o comentário para si, uma vez que Nicolas não parava de falar com a boca cheia ao seu lado dentro do carro.

"Vamos então". Falou Daniel tomando a frente do grupo.

"Eu não vou com vocês." Disse Matheus olhando para o céu de olhos fechados, de modo que os poucos pingos de água da chuva que cessava caíssem em sua face.

"O que?" Daniel estranhou a atitude do amigo.

"Assim você fica mais a vontade com ele, é conhecido seu, vai ser melhor assim". Explicava Matheus se encostando ao carro de Daniel.

"Eu prefiro ficar também". Disse Amanda.

"Mas por quê?". Perguntou Daniel completamente perdido com a atitude de seus companheiros.

"Esse povo não se dava bem com profetisas e coisas do gênero, não sei se quero que eles saibam sobre mim. Acho melhor você apenas alertá-lo ou descobrir o que está acontecendo". Ela falou com olhos sinceros.

"Estão me abandonando?" Brincou Daniel com um sorriso sem graça na cara.

"Cuide-se". Falou Matheus em sua apatia comum.

"Estamos te esperando". Disse Amanda dando um sorriso de leve e se posicionando ao lado de Matheus.

"Tudo bem, eu não demoro". Disse Daniel ao entrar pela grande porta de vidro dupla.

Enquanto isso no apartamento de Killer, o silêncio era quebrado pelo toque do telefone sobre a mesa velha no canto da sala.

"Pronto!" Disse Killer ao atender ao telefone de maneira nada cordial, ao mesmo tempo em que enchia o copo com a última dose de rum que a garrafa podia oferecer.

"Eles chegaram, é a sua hora. Não se esqueça do nosso combinado". A voz feminina soou como uma canção ao ouvido de Killer.

"Claro...". Foi tudo o que Killer respondeu antes de bater o telefone. Seus olhos brilhavam intensamente enquanto ele bebia sua ultima dose.

"É hora do show". Ele murmurou com um sorriso maquiavélico na face.

Entre o céu e o inferno - A gênese do fimWhere stories live. Discover now